Autor • Plínio Rocha
Fonte • Best Swimming

 

Se tem uma coisa que irrita é ouvir críticas sem algum tipo de argumento. Seja a respeito do que for. Se há de se meter o pau em alguma coisa, que se faça de maneira honesta e correta, pelo menos. Há pontos de vista diferentes sobre um mesmo assunto, sempre haverá. Mas que a coisa seja bem fundamentada.
 
O piti é direcionado para quem acha que é um absurdo nego chegar em São Paulo e nadar bem no Finkel. O argumento, invariavelmente, é sempre o mesmo. "Quando era para mostrar serviço, na Olimpíada, não foi mostrado." "Competição em piscina curta não vale absolutamente nada." "Onde já se viu comemorar vitórias como alguns dos principais nadadores do país comemoraram na competição." "Quem liga para essa m…?".
 
Não, não virei arauto da justiça. Não, não acho que o Finkel vale mais do que uma Olimpíada. E não, não acho que competições em piscina de 25m têm mais prestígio do que as em piscina de 50m. Importância, ou não, de alguma coisa é muito relativa. Há de se avaliar alguns pontos ao redor do contexto inteiro. Acho, evidentemente, que as coisas que acontecem na longa têm mais relevância, basta ver quem se dispõe a cair na água nesses eventos. Mas para por aí.
 
Sejamos mais objetivos.
 
Cesar Cielo não nadou o Finkel com a mesma empolgação que nadou em Londres. É evidente. O mesmo aconteceu com Thiago Pereira e muitos outros. Mas são dois profissionais, acima de qualquer coisa. Têm contratos com dois clubes grandes, Flamengo e Corinthians. São instituições que os pagam para que vistam suas camisas (ou deveriam, pelo menos, já que há notícias de que nem sempre um dos dois cumpre com os compromissos). E se é preciso marcar pontos, que pontos sejam marcados.
 
Para Flamengo, Corinthians, Minas, Pinheiros, Unisanta e os demais, terminar em primeiro, segundo ou terceiro faz toda a diferença. O Finkel, para quem não sabe, é o Campeonato Brasileiro absoluto de inverno da natação. É uma denominação importante. É um torneio importante. No fim do ano, quando se fazem balanços financeiros, é preciso explicar no que aquele investimento do começo da temporada resultou. Se há motivos para se bater bumbo e ter emplacado uma manchete nos jornais, os caras que assinam o cheque ficam felizes e repetem a "brincadeira" no ano seguinte. Se não há, bem… Sabe-se o que acontece.
 
Cielo e Pereira, para ficar nos dois exemplos, tiveram uma grande competição. Ganharam medalhas de ouro, bateram recordes, atingiram índices para disputar o Mundial em dezembro (sim, existe Mundial de piscina curta!) pontuaram, pontuaram e pontuaram para seus clubes. Além do instinto natural de não querer perder na hora de cair numa piscina, o que, por si, só, já é mais do que suficiente, cumpriram com as obrigações como empregados. Todo mundo que trabalha sabe da importância disso.
 
A medalha no Finkel não vai para o mesmo lugar da estante que a da Olimpíada. Nem deve. Mas uma, de certa maneira, está ligada e depende da outra. Ser nadador, no Brasil, e viver apenas da natação, é duro. Mas só dá para cumprir essa meta se entender bem onde se colocam todos os pingos nos is.
 
E não há demérito nenhum nisso, é bom dizer.
1 responder
  1. Muito bom Plínio
    Muito bom Plínio says:

    Excelente texto Plínio. Pensando dessa forma também é possível entender que os estrangeiros são um investimento muito pequeno que todos os clubes utilizam para poder mostrar a pontuação final e ajudar os departamentos de natação e os atletas que talvez sozinhos não conseguiriam garantir o dinheiro que no ano que vem, vai diretamente ou indiretamente para todos os assalariados nacionais.

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