Autor • Plínio Rocha
Fonte • Best Swimming

 

Uma notícia passou quase despercebida pela mídia, em geral, esta semana. Mas Milorad Cavic confirmou a aposentadoria. Era sabido que faria isso, já havia anunciado que a Olimpíada de Londres seria sua última competição. De fato, os Jogos terminaram e ele confirmou ter parado. Muito popular na Sérvia, quer seguir a vida política. Quer ser ministro do Esporte do país.
 
Cavic é um sujeito com história para contar. Não foi apenas um nadador – ótimo nadador, que se diga. Foi um cara diferente. Que reuniu alguns momentos marcantes no esporte, alguns deles com interpretações burocráticas e, às vezes, equivocadas.
 
Você, ilustre internauta, vai dizer que se tratava de um falastrão. Provocador. Um cara desrespeitoso. Que não ganhou nada, nos momentos mais importantes. Há quem vá classificá-lo, como já vi na internet, como amarelão.
 
Quanta injustiça.
 
De Cavic, na verdade, não ficam, principalmente, as medalhas de ouro nos Campeonatos Europeus. Não ficam o ouro e a prata do Mundial de Roma, em 2009. Não fica nem a polêmica e até hoje discutida prata na final dos 100m borboleta (quem bateu na frente, afinal, ele ou Michael Phelps?). Não fica o fato de ter sido escolhido o melhor atleta da Sérvia em 2008.
 
De Cavic, fica a personalidade forte e marcante, um sujeito que fala o que pensa, sempre, agrade a quem agradar. Fica a liberdade política de quem subiu em um pódio com uma camiseta dizendo que o Kosovo era a Sérvia, sim, e que acabasse de vez a guerra que estava instalada na região. Fica a maneira com a qual aceitou o revés diante de Phelps, em Pequim, a quem chamou de "melhor nadador da história".
 
Milorad Cavic é um cara legal. Carismático. Pode entrar na classificação do tal amor ou ódio, mas basta ter um contato mais próximo com o sujeito para perceber que ele não é mau. Não faz o que faz para aparecer, faz porque acha que é certo. O conceito de certo ou errado, claro, é muito relativo e varia da visão de cada pessoa. Mas tente se lembrar de uma manifestação, política ou não, na qual ele desrespeitou alguém. Não tem.
 
O texto não é uma ode ao sérvio, por mais que pareça. É apenas para constatar que faltam Milorad Cavics por aí, hoje em dia. Ídolos fabricados podem conseguir resultados, mas não vão deixar um legado. Num determinado ponto, não se quer ouvir, apenas, o que o cara pensa a respeito da vitória ou da derrota. É importante perceber onde o cidadão quer chegar na vida, e o esporte, uma hora, vai ser o limite.
 
Está cheio de gente diferente por aí, mas Cavic vai deixar saudade.
 
Plínio Rocha, é editor do Jornal Diário de São Paulo e assina a Coluna Na Raia na Best Swimming desde 2007. 
3 respostas
  1. Marcel Rossi
    Marcel Rossi says:

    Excelente, Plinio! Por todos os motivos citados era um dos caras no meio que eu mais admirava, assim como o Schoeman. Que se realize nessa nova fase!

  2. Carlos
    Carlos says:

    Só se for para vc Plínio, arrogante, metido, marrento…antes dos trajes tecnológicos nada fez e depois dele fez nada….basta ver os filmes de mundiais e olimpíadas…eles não mentem.

  3. Fernando
    Fernando says:

    Concordo plenamente. O que mais temos hoje em dia são “falsos ídolos”, que na frente das câmeras sorriem e autografam camisetas dos fãs e por trás são arrogantes e prepotentes, algumas vezes, ainda, enveredando por caminhos mais obscuros, como o Doping.

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