Autor • Alex Pussieldi
Fonte • Best Swimming

 

Mesmo sendo uma pessoa do esporte, preciso ser sincero de que quando o plano Brasil Medalhas 2016 foi anunciado, me deixou impressionado e provavelmente temeroso. Impressionado pelo um bilhão de reais extras ao esporte olímpico e paralímpico do país e temeroso ao identificar que não é só este investimento direto que irá fazer a diferença.

 

Por incrível que pareça, mas colocar 690 milhões de reais para atletas e treinadores e outros 310 milhões na reforma e aparelhamento das instalações esportivas não é a certeza de trazer o país do 22o lugar do quadro de medalhas para o 10o lugar conforme o plano do Governo.

 

Continuo achando que há um erro de estratégia nesta luta por medalhas. Para mim, ser uma nação olímpica não é somente estar no topo do quadro de medalhas mas sim uma estrutura, uma base, um legado que fique para o esporte do país não só pelo Rio 2016 mas também por várias outras Olimpíadas.

 

Posso garantir que nem Estados Unidos no top do quadro de medalhas há várias Olimpíadas, nem a Itália em 10o lugar do quadro de Londres gastam um bilhão de dólares em verbas oficiais. Aliás, imagino como deve ser difícil explicar para o cidadão/contribuinte que toda esta verba é importante para o país quando temos inúmeros problemas de ordem social, cultural, de saúde, transporte e infra-estrutura no país.

 

Falando mais especificamente, no nosso esporte, para quem sabe os números e a realidade, a natação está entre os esportes mais bem pagos do mundo comparados com outras grandes nações. Posso garantir que entre os 20 nadadores brasileiros que estavam em Londres, o que ganha menos recebe mais do que a recordista mundial Ariana Kukors, americana que ficou em quinto lugar na prova dos 200 medley na Olimpíada.

 

Hoje em dia, atletas das categorias juvenil já recebem salários (???) e trocam de clubes em busca de melhores condições que nem sempre acontecem. O mercado está inflacionado há muito tempo, e muita gente recebendo sem dar resultados expressivos.

 

Pior do que pagar os salários que estão sendo pagos aos nadadores brasileiros, é saber que os salários dos treinadores estão defasados há anos. Neste item, a média de salário do profissional do país é bastante inferior ao pago nos principais centros.

O nadador brasileiro acabou sendo mal acostumado com o tal pagamento dos clubes. O profissionalismo está só na hora de receber. Investir no esporte é quase exceção. São poucos os atletas, quase exceções aqueles que investem há anos em suas carreiras. Treinamentos, competições, viagens estão entre os principais gastos.

 

Quando alguém tem de colocar a mão no bolso por alguma coisa é quase que uma tragédia. Como se outros profissionais de diferentes áreas não investissem em suas próprias carreiras como cursos, viagens, livros e muito mais.

 

Investir na sua carreira é acreditar que os resultados serão ainda melhores, o futuro mais promissor e a possibilidade de melhores rendimentos no futuro. Mas somente descarregar dinheiro não garante a certeza dos resultados.

 

O objetivo do Governo, por mais nobre ou politiqueiro que seja, não deveria ser jamais Top 10 no quadro de medalhas. O objetivo deveria sim é fazer nosso país num país olímpico. E para isso, por incrível que pareça, o dinheiro pode até ajudar, mas não é tudo.

 

Alexandre Pussieldi, editor chefe da Best Swimming Inc. 

9 respostas
  1. Murilo Martins
    Murilo Martins says:

    Concordo Coach, o problema e como e onde o dinheiro vai ser gasto. O governo americano gasta esse dinheiro investindo no esporte escolar publico e na infraestrutura esportiva das cidades. O sucesso no esporte de auto rendimento e consequencia e nao o objetivo do investimento.

  2. R Munhoz
    R Munhoz says:

    Concordo com o Coach. O investimento, por mais que pareça “generoso” está mirando em resultados imediatistas, muito difíceis de prever e o pior: podem não ajudar em nada o longo prazo do esporte no país. O investimento certo seria na base, visando o longo prazo para o bem não só do esporte, mas também do jovem brasileiro. Abraços!

  3. Guilherme Tucher
    Guilherme Tucher says:

    Precisamos de uma gestão realmente profissional no nosso esporte. Pensar como uma empresa privada que quer crescer, com planos de curto, médio e longo prazo. Não se pode pensar apenas no dia de amanhã.

  4. ex-nadador
    ex-nadador says:

    Palavras sábias Coach.
    Assino em baixo deste seu depoimento e gostaria de afirmar aqui a importancia de valorizar os técnicos que recebem um salário medíocre, ainda mais se comparado ao destes atletas. Tem muito atleta juvenil ganhando a mesma coisa ou mais que seu técnico, será que isso está certo??
    O que mais me impressiona nos atletas brasileiros é a falta de profissionalismo: nadam o que querem, quantas provas decidirem e ainda querem todo final de ano um aumento considerável. O que fará a CBDA se os grandes clubes decidirem diminuir o investimento na natação?? O que gastam com “salários”para estes atletas poderiam estar gastando em estrutura para as categorias de base e na formação do atleta. Tenho certeza que neste final de ano o troca-troca de atletas vai ser grande e o pior é que vai ser na direção daqueles que pagarem melhor e não pelo trabalho realizado. Uma pena ver a natação brasileira indo pelo caminho totalmente errado.
    A confederação tem o dever de apoiar os clubes formadores de atletas ( clubes pequenos e grandes) e devem ajudar na formação dos profissionais que ali atuam .O que seria do Brasil sem os clubes???
    O dia em que os clubes se unirem e perceberem o poder que têm para realizar uma revolução e reestruturar a CBDA , o Brasil começará a pensar em medalhas e finais olímpicas, mas antes disso nada acontecerá e continuaremos a sonhar … Quantas medalhas ou finais olímpicas vcs acham que teremos em 2016… tenho certeza que poucas. Não adianta os clubes se vangloriarem em ter atletas no Rio, pois isso não será difícil de conseguir… mas medalhas … isso sim será muito difícil.

  5. Coach
    Coach says:

    Mateus,

    O “problema” não é o valor do investimento, e sim de onde ele vem. Não há parâmetros internacionais (com exceção da China onde tudo é governamental) para este investimento do governo de 1 bilhão de reais para uma campanha olímpica
    Apenas como informação, o USOC – United States Olympic Committee é independente financeiramente 100%, zero custo aos cofres do governo americano.

  6. Mateus Lordêlo
    Mateus Lordêlo says:

    Mestre, uma coisa é como o dinheiro deve ser utilizado e o fato de poder ter outra destinação melhor sobretudo a longo prazo…
    Outra coisa é achar que é muito dinheiro, tanto EUA quanto Itália investem muito mais que o Brasil sem contar a defasagem que existe e que precisa ser equilibrada. Investimentos em educação, instalações, fomento em esportes pouco populares, são investimentos que são realizados a décadas o que torna a comparação infeliz.

  7. Lucimar
    Lucimar says:

    Viver, educar e poder. É valorar. É medir e optar. Não há como fugir dessa lógica. Em outras palavras, não há como viver sem ética. Pois ela é o conjunto de valores e perspectivas que utilizamos para dar conta dos problemas existenciais sempre presente.O esporte em nosso país nunca teve uma política, sempre foi tratado pelo amadorismo. Depois da deliberação das Leis Piva, Pelé, Incentivo, empresas estatais, estaduais,etc a coisa piorou e muito.Enveredando para o lado da política. E ambas fazem parte do nosso dia a dia tanto para deliberação parlamentar quanto para ingresso no noticiário.Só que não podemos esquecer que o assunto em questão lida na formação do cidadão que envolve afetos, consumo que são assuntos revelados e tratados na inversa proporção de sua presença no mundo.E não se fala do atleta, das suas necessidades e subsistência.Resumindo o esporte no Brasil não é educador e trabalhador eixos fundamentais da vida em sociedade na formação de um cidadão. Esporte é coletivo, na figura de direito,que controla as individualidades, e a individual, na figura da cidadania, que é viver enquanto indivíduo no sentido de produzir para o bem coletivo.E o que vemos são medidas soberbas descabidas para mostrar para o mundo algo inexistente em um país sem educação escolar, saúde inexistente mas com dinheiro para sediar megas eventos esportivos.Reflexões diversa. Diversos pontos de vista. Para que nosso repertório seja ampliado, e para que sejamos capaz de enfrentar as dificuldades da vida. Que é complexa.Ética.Irrefreável.

  8. Rodrigo  G
    Rodrigo G says:

    Coach,

    o plano é o retrato de uma solução imediatista para um problema que está batendo à porta. Não há mais tempo de mudar o rumo do esporte brasileiro se o objetivo é colher os frutos daqui 4 anos, isso devia ter sido feito lá em 1997 quando o Brasil se candidatou, plea primeira vez, pra ser sede de 2004. Se naquela época a ATITUDE tivesse mudado, hoje poderíamos estar chegando no status de potência olímpica.
    Quanto à informação dos salários, confesso que me surpreendeu saber que nossos nadadores, em matéria de bolso, andam mais fartos do que seus colegas espalhados pelo mundo. Que treinem e se esforcem muito para fazerem jus a tanto investimento.

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