Encontramos um ótimo relato, detalhado, sobre a festa do esporte mundial que aconteceu ontem no Rio de Janeiro.

O salão "Assyrio" do Theatro Municipal do Rio de Janeiro

O salão “Assyrio” do Theatro Municipal do Rio de Janeiro/Dani Barba/Revista Época

Coluna de Bruno Astuto, Revista Época

A capacidade do Theatro Municipal carioca é de 1.739 espectadores. Com capacidade lotada, poucos viram tamanha estrutura montada na cidade para receber o prêmio Laureus Sports Awards, considerado o Oscar do esporte, nessa segunda-feira (11), evento que uniu os maiores nomes do esporte mundial – menos os mais esperados, como Usain Bolt, Lionel Messi e Andy Murray. O grande aparato montado pela organização desde a semana passada chamou a atenção dos cariocas que passavam pela Cinelândia e atrapalhou a volta para casa de muita gente que saía do trabalho. As ruas adjacentes foram fechadas num esquema de segurança pouco visto na cidade, com guarda municipal, polícia civil e mais de 300 seguranças. Uma produção impecável, afinal a premiação serviu como cartão de visitas para as Copas das Confederações e do Mundo, além das Olimpíadas.

Edwin-Moses

Sérgio Cabral, governador do Rio, e Edwin Moses, presidente do Laureus

O idioma de ordem era o inglês. Basicamente uma celebração para gringo ver — tanto que os organizadores já definiram o Rio como anfitrião do prêmio no próximo ano. Cerca de 420 jornalistas foram convidados para cobrir o ‘tapete vermelho’, portanto ficar de fora do salão principal do teatro carioca. Resultado: uma recepção para a imprensa mundial foi armada no salão Assyrio, uma espécie de anexo do local, com várias TVs em LED, mesas, estações com bebidas (vinho tinto, branco, champanhe, cerveja, refrigerantes etc) e até um bufê com jantar com plaquinhas de descrição dos pratos em… inglês. Parecia uma festa de casamento num evento paralelo ao prêmio. Assistir do sofá de casa ou de um bar nas redondezas daria no mesmo, com a vantagem da tradução simultânea e de poder trocar o canal.

Um dos mais esperados dos fotógrafos de plantão era Morgan Freeman, o mestre de cerimônias, que só apareceu no palco. Segundo a organização, o ator estava com uma inflamação nos olhos que causava sensibilidade aos flashes. Durante a premiação, ele foi até simpático e arriscou algumas palavras em português como “Obrigado” e “Boa noite”. E também tentou uma piadinha com o ex-nadador Michael Phelps, maior medalhista olímpico de todos os tempos, sobre o novo hobby depois da aposentadoria: praticar golfe. “Você acha que é mais rápido que uma bola de golfe?”, disse Freeman, num dos únicos momentos de descontração.

Michael Phelps, o prêmio de consolação e o visual "nerd"

Michael Phelps, o prêmio de consolação e o visual “nerd”

A imprensa foi barrada no baile, mas soube o nome dos ganhadores muito antes dos convidados do gala: a organização distribuiu um release mais parecido com um roteiro minucioso sobre o evento. “Sigilo absoluto – não divulgação para mídia impressa, rádio, online e redes sociais até 21h”, informava o tal comunicado, com o nome de todos os premiados antes de começar a abertura dos envelopes do Laureus. Alguns por ali comentavam que os atletas já sabiam sobre os nomes que seriam revelados durante o evento e, por isso mesmo, muitos sequer cogitaram a vinda ao país. “Houve uma calorosa recepção do público para dois excelentes atletas olímpicos. O lendário nadador Michael Phelps recebeu um novo prêmio, o Laureus Academy Excepcional Achievement Award; e Sebastian Coe, presidente do comitê organizador dos Jogos Olímpicos e Parlímpicos de Londres, recebeu o Laureus Lifetime Achievement”, dizia o release, mesmo antes de o fato acontecer.

Edwin Moses, presidente do Laureus, abriu os trabalhos pouco depois das 19h, dando espaço a Sergio Cabral, o governador do Rio, que discursou num inglês claro e lembrou os eventos que a cidade vai sediar até 2016. Para dar um tom hollywoodiano, as luzes se apagaram para receber Morgan Freeman, que mostrou um vídeo do golfista alemão Martin Kaymer e comentou sobre a importância dos feitos esportivos e sobre seu sonho em ser atleta quando menino, etc.

Daniel Dias, vencedor por duas ocasiões do Prêmio

Daniel Dias, vencedor por duas ocasiões do Prêmio

O maior destaque brasileiro foi o nadador paralímpico Daniel Dias, dono de seis medalhas de ouro em Londres no ano passado. Pela segunda vez na carreira, Dias foi eleito o Melhor Atleta com Deficiência de 2012. “Graças a Deus deu tudo certo e subi no palco na minha casa, no Brasil, nesse evento cheio de glamour”, disse o atleta numa sala num prédio anexo do Municipal montada especialmente para receber os premiados depois do evento. Dias estava incomodado com o calor que fazia no local. Perguntado o que faria se recebesse novamente o prêmio no futuro, ele disse: “Vou trazer papel no bolso porque está quente aqui e estou suando demais”. Sobre a diferença em estar dentro de uma piscina ao lado dos adversários e na expectativa de ganhar um prêmio, comentou: “É muito diferente. Na piscina posso intimidar meus adversários, só não posso bater neles, mas aqui não posso fazer nada, apenas esperar a abertura do envelope e torcer pelo meu nome”.

O aposentado nadador Michael Phelps também deu um pulinho na sala de imprensa depois de ser homenageado com um prêmio especial – ele é o maior medalhista da história das Olimpíadas, com 22 láureas, sendo 18 ouros. “Uma das coisas mais legais do Laureus é que ele é dado por atletas que são ícones em seus esportes. É um sonho se tornando realidade, ser capaz de ganhar esse prêmio realmente é excepcional, eu fico sem palavras. Foi uma carreira incrível e é louco pensar que ela acabou. Como nadador eu consegui vencer tudo que queria nas piscinas”, disse. Um dos repórteres, afirmando que a profissão de nadador requer um corpo sem pelos, perguntou se o atleta seria adepto da famosa depilação brasileira – com cera quente. “Não! Desculpe”, disse um Phelps muito sem graça.

Na manhã dessa segunda-feira (11), Phelps foi ao complexo esportivo da Rocinha para nadar com as crianças da comunidade tendo como anfitrião o atleta paraolímpico Daniel Dias. O astro americano criou a Fundação Michael Phelps em 2008 e tem se engajado nas questões sociais. Em 2012, ele já tinha feito o mesmo programa por aqui, só que na favela do Alemão.

A premiação continuou somente para os convidados em duas festas – uma no Copacabana Palace e outra no Rio Scenarium, na Lapa. Para transportar os ‘embecados’, a organização montou um esquemão na saída do teatro com uma frota de ônibus de turismo. Cena rara de se ver – todos esperando calmamente em enormes filas para entrar nos veículos enfileirados na Rua Evaristo da Veiga. Segundo a assessoria do evento, a imprensa foi barrada da noitada para dar ‘liberdade’ aos esportistas.

  • Laureus World Sportsman of the Year: Usain Bolt
  • Laureus World Sportswoman of the Year: Jessica Ennis
  • Laureus World Team of the Year: European Ry der Cup Team
  • Laureus World Breakthrough of the Year: Andy Murray
  • Laureus World Comeback of the Year: Felix Sanchez
  • Laureus World Sportsperson of the Year with a Disability: Daniel Dias
  • Laureus World Action Sportsperson of the Year: Felix Baumgartner

Houve dois prêmios adicionais: O Laureus Lifetime Achievement Award, dado a Sebastian Coe, Presidente do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Londres, e o recém-criado Laureus Academy Exceptional Achievement Award dado a Michael Phelps, o maior medalhista olímpico da história.

(Texto editado. Fonte: http://colunas.revistaepoca.globo.com/brunoastuto/2013/03/12/premio-laureus-muita-encenacao-para-gringo-ver/)

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