Por Plínio Rocha

Sun Yang é um baita nadador. O cara é fera. Bicampeão mundial dos 800m livre. Campeão mundial dos 400m e 1500m livre. Campeão olímpico dos 400m e 1500m livre. E isso para ficar apenas nos ouros. Dá pra listar as pratas e bronzes nessas competições, ainda, mas nem precisa.

Na final dos 800m livre, nesta quarta-feira, no Mundial de Barcelona, levou com sobras. Longe do recorde mundial, mas se o que vale é bater na frente quando vale medalha, isso ele fez. Com tranquilidade, sem ser apertado em momento algum, dominou a prova como quis. Um passeio.

O chinês é grande. Tem 1,98m. É acima da média para a natação, até, por mais que o pessoal top seja, mesmo, mais alto. Mas Yang é um cara que tem porte avantajado, ombros largos, é forte. Muito forte. Faz a diferença para um fundista, é claro. Mas faria ainda mais, há quem diga, para um velocista. Não foi o caminho que ele escolheu, e acho que ninguém tem coragem de questionar se a opção foi acertada.

Yang tem cara de mau. Tem dentes tortos e feios, uma feição amarrada, intimidadora. O cabelo todo desarrumado. É o tipo de sujeito que impõe medo, quando encara alguém para valer. Demorei muito tempo até acreditar que isso fazia a diferença, mas depois de muitas e muitas conversas com Cesar Cielo, chego a acreditar que se ganha ou perde uma prova antes mesmo do apito inicial, ali na área de espera, nas cadeiras, quando um encara o outro, mede o aspecto psicológico. Não sei se o asiático tem essa característica, mas, se assim quisesse fazer, teria condições de meter uma banca.

Quando vence uma prova, é dos que comemoram efusivamente. Bate na água, bate em si mesmo, aponta, grita, cerra os punhos, dá socos imaginários sei lá em que ou no quê. Tem de ser assim, e juro que não entendo quem faz ar de tanto faz, levanta um dedo para cima, agradece a quem quer que seja e ponto-final, vamos para o pódio, pegar a medalha, colocar no bolso e ir para casa. Serviço feito, meta cumprida, página virada.

Mas Yang não. O cara sente a vitória, aumenta ainda mais a cara de mau, dedica aos técnicos, à torcida, aos companheiros de treino. Sempre com austeridade, força, intimidação. É um cara que esbanja poder, usa as características físicas para externar positivamente aquele momento único, o de olhar no placar e saber que você é o melhor do mundo.

E o que faz, então, o chinês quando sobe ao pódio?

Ele chora.

Chora muito. Copiosamente. Num momento, parece sentir vergonha de tudo e de todos, cobre o rosto com as mãos, com os braços, pega a medalha, olha duas, três, quatro vezes para ela, não sabe o que faz. Deixa à mostra que, afinal, tem apenas 21 anos de idade, é um garoto, que trabalha muito e consegue objetivos. Olha para o céu, deixa as lágrimas escorrerem pelo rosto, não se faz de rogado e deixa o hino de seu país invadir sua alma.

E faz com que este que vos escreve, pelo menos, fique de joelhos. É foda quando você vê um cara daquele tamanho, com aquela cara de mau, capaz de exercer um domínio impressionante naquilo que se propõe a fazer chorar daquele jeito. Se expor daquele jeito, demonstrar uma fragilidade que nunca ninguém imaginaria que ele tem.

Os monstros também choram. E é desses caras que eu gosto mais, sempre.

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