O levantamento da atual situação dos Festivais Mirim e Petiz no Brasil apresentados por Julian Romero na Best Swimming são mais do que preocupantes. Refletem a realidade dura e crua de que a cada ano temos menos gente competindo em nosso país.

Nosso campeão olímpico e recordista mundial César Cielo havia se manifestado a respeito disso e sua observação foi perfeita: “depois do meu ouro olímpico, a natação brasileira involuiu”.

Esta semana tivemos a reunião do Conselho Técnico Nacional onde os principais treinadores do país e pelo menos um representante de cada estado estiveram reunidos por dois dias discutindo calendários, propostas, regulamentos e os projetos da natação brasileira. Alguma discussão sobre as categorias menores (mirim e petiz)? Alguma discussão sobre algum projeto para massificar a natação brasileira? Algo que retratasse a realidade da situação caótica que vivemos? Nada!

O programa das categorias inferiores da natação brasileira é o mesmo há mais de 20 anos. Nosso maior campeonato infanto-juvenil, o Troféu Chico Piscina, tem o mesmo formato e as mesmas provas há três décadas. Até mesmo o Conselho Técnico Nacional já pediu a implantação de outras provas que acabou sendo rejeitada pela CBDA.

O nosso sistema de disputa das categorias Mirim e Petiz também caducou. Nada foi feito para a atualização do programa, a motivação dos clubes e atletas que a cada ano se afastam ainda mais do nosso sistema competitivo. No início da década de 90, tínhamos o Norte-Nordeste Mirim e Petiz com mais de 1.200 atletas participantes. Hoje, esse é o total de todos os regionais juntos. E isso é fato! foram 1.198 no primeiro semetre e 1.293 atletas participantes no segundo semestre. Em todos os quatro regionais somados!

O último Norte-Nordeste Mirim e Petiz realizado em Aracaju há poucas semanas reuniu 292 nadadores. Desde 2005, quando iniciou o levantamento, a região Sudeste supera o Norte-Nordeste em número de participantes, algo jamais pensado na década passada. Isso apenas reflete a realidade de que estamos perdendo a cada ano mais piscinas e clubes comprometidos com o sistema competitivo do Brasil.

A parceria da CBDA com os Correios é um dos maiores trunfos da atual gestão da entidade. Os milhões de reais anuais injetados são determinantes para o trabalho que é feito com as Seleções Brasileiras e especialmente no suporte dos principais nadadores do país. Pouco, muito pouco tem o destino da natação de base onde não temos um só programa nacional que promova o esporte na sua base, na sua formação.

Existem dois programas sociais mantidos pela CBDA com o apoio dos Correios em Barbacena e Montes Claros, no interior de MInas. São programas de relativo sucesso mas que no contexto nacional e principalmente pela necessidade que estamos passando não representa o que vem sendo investido no esporte pela empresa. São 23 milhões de reais por ano.

A coisa chegou num ponto que não dá para ficar mais procurando um culpado e sim uma solução. Treinadores, dirigentes, a comunidade aquática precisa se dar conta de que algo precisa ser feito. Uma coisa é certa, do jeito que está não pode continuar.

Alexandre A. Pussieldi, editor chefe da Best Swimming Inc.

8 respostas
  1. Julian Romero
    Julian Romero says:

    Adicionando no item 2 deste excelente comentário: a natação ou esporte em geral são considerados como uma oportunidade para o estudante obter bolsa de estudo em universidades, é um “investimento” em que será recompensado com educação universitária futura porque e depois que ele parar de nadar, vai fazer o quê?

  2. Jose Silva
    Jose Silva says:

    Eu vejo quatro problemas estruturais da natação de base no Brasil.

    Primeiro, a rotatividade das crianças na fase de aprendizagem é alta. Levar criança para treinar dar trabalho, mesmo a mensalidade sendo gratuita, e muitos responsáveis preferem não ter o trabalho. Acham melhor deixar em frente da televisão ou jogando no celular. Eu vi isso em vários projetos sociais e o resultado é impressionante.

    Segundo, muitos pais querem resultado a curto prazo. Muitos pais tiram as crianças das aulas e treinos porque as crianças não ganham provas ou medalhas. Apesar de todo o esforço em educá-los sobre o assunto, a pressão psicológica sobre as crianças é enorme. Viramos o pais do cinquentinha e do curto prazo. Completamente diferente dos Estados Unidos, onde as crianças nadam pelo prazer de nadar e para se divertir e os 200 medley é a prova oficial para toda a natação de base.

    Terceiro, enviar as crianças, principalmente as de baixa renda, para competirem em torneios regionais está proibitivo nestes anos pré copa do mundo. O custo das passagens dentro do Brasil é extremamente alto. As vezes nem o patrocinio e o paitrocinio combinados conseguem cobrir as despesas. Por isso, o foco fica mesmo para as competições locais.

    Quarto, falta gente capacitada e motivada para trabalhar com natação de base. Hoje é mais facil e lucrativo para qualquer estudante de educação física virar personal trainer e ganhar 5 ou 6 vezes mais do que passar horas treinando as crianças na beira da piscina. Sem interesse, não há pesquisa, sem pesquisa não há qualidade no treinamento e sem qualidade no treinamento o esporte não cresce. Muita gente fala de espaço físico como limite, mas acredito que o que está limitando a expansão da natação no Brasil não é muito o hardware (falta de espaço físico) mas o software (numero de professores qualificados para treinar natação nos varios niveis). Talvez a restrição ao mercado aos profissionais de educação física esteja limitando o esporte brasileiro. Nos Estados Unidos, grande maioria dos treinadores não é formado em Educação Física. Talvez você possa explicar mais como funciona o sistema americano para os seus leitores.

  3. wELTON
    wELTON says:

    UMA TRISTE VERDADE, OS CLUBES NÃO QUEREM MAIS APOIAR O TRABALHO, OU ALGUEM CONHECE NO INTERIOR UM CLUBE QUE QUERIRA TER EM SUA EQUIP 10 ATLETAS FEDERADOS EM CADA CATEGORIA, O CUSTO É ALTO, E AINDA CONTAMOS COM O SISTEMA QUE FAZ COM QUE OS ATLETAS SE MUDEM PARA OS GRANDES CENTROS CADA VEZ MAIS CEDO,A 10 ANOS OS GRANDES ACEITAVAM NADADORES JUVENIS, HOJE NADADORES MIRINS REPRESENTAM OS CLUBES DA CAPITAL, FAZENDO COM QUE SUAS REGIÕES FIQUEM CADA VEZ MENOS COMPETITIVAS, E MAIS FRACAS.

  4. MARCIO
    MARCIO says:

    INFELIZMENTE NÃO TEMOS APOIO DE NINGUÉM.
    MEU FILHO É PETIZ 2, E DUAS VEZES POR ANO GASTAMOS MUITO DINHEIRO COM PASSAGENS AÉREAS, TRANSLADO, HOTEL, ALIMENTAÇÃO E TODAS AS PROVAS QUE ELE COMPETE, INCLUSIVE OS REVEZAMENTOS.

  5. luiz
    luiz says:

    de muita felicidade o levantamento feito da nossa natação de base. e agora o que vamos fazer? festival mirim ;petiz , os pais pagam, provas, hospedagem, transporte aéreo, alimentação , e deslocamentos para o evento. ufa não é fácil, precisamos pensar nisso.

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