Há algumas semanas do início da Copa do Mundo, vivemos uma das fases mais turbulentas em nossa história. Incerteza, revolta e milhares de questionamentos rondam nossas cabeças. O que era para ser motivo de orgulho, de satisfação e muita animação, fica extremamente comprometido por este sentimento de insegurança.

Quando o Brasil foi anunciado como sede da Copa do Mundo de 2014 no dia 30 de outubro de 2007 não houve qualquer surpresa. Éramos os candidatos únicos, e mesmo assim, o sentimento geral da nação foi de orgulho, de satisfação e acima de tudo, alegria. Lá estava nosso Presidente Lula e os principais nomes do Ministério do Esporte e CBF, mas também estava o renomado escritor Paulo Coelho e o ex-jogador Romário, ambos que se tornaram dois dos maiores críticos de todo este processo de organização e preparação da Copa. Não estava presente, mas participou de todo este processo o ex-jogador Ronaldo Fenômeno, que também, para surpresa de (quase) todo mundo trocou de lado na semana passada ao criticar a organização e se dizer “decepcionado”.

Sem querer entrar no mérito de quem está e merece estar decepcionado, a conclusão é bem fácil de se visualizar da “oportunidade” e da realidade de todo estes sete anos.

Não foi diferente, e nem vai ser, para os Jogos Olímpicos de 2016. No dia 2 de outubro de 2009, lá estavam dezenas deles, comemorando e celebrando muito. Paulo Coelho (ele de novo!) era um deles. Desta vez, não fomos candidatos únicos e não foi nada fácil derrotar Chicago, Tóquio e Madri.

Quem acompanha este espaço, sabe que fui um dos que era contra a realização dos Jogos no Brasil. Minha modesta experiência indicava de que seriam muito mais problemas do que soluções, e minha preocupação, sempre foi e sempre será, com o legado que fica para o esporte. Tenho até minha expectativa de que as coisas devem sair adequadas para 2016, mas o meu medo é o que vem depois. Falo como profissional do meio e com as melhores intenções.

Também adotei a postura “John McCain” com relação aos Jogos do Rio 2016. O candidato perdedor das eleições americanas de 2008 deu o discurso de concessão (tradicão americana que declara o novo presidente eleito) de: “Senador Obama, hoje você deixa de ser meu adversário, para ser o meu Presidente”.

É assim que encaro os Jogos do Rio 2016. Era contrário a sua realização, mas como brasileiro e esportista que sou, preciso ajudar e fazer o máximo para que o evento seja o melhor possível. Tanto nos resultados para abrilhantar nossa performance, como na forma de promover e divulgar o bom nome de nosso país no exterior.

Respeito os protestos (com propósitos), mas não concordo a utilização destes eventos como forma de associar suas causas e problemas, em busca de uma solução que não tem nada a ver com a realização dos mesmos. Sempre achei que a melhor forma de você expressar a seu direito civil é através do voto e, em qualquer processo democrático, aceitar o seu resultado, desde que seja legal.

Falando em processo democrático, é o que faltou nestes dois casos. Um referendo popular teria sido determinante para justificar e dividir as responsabilidades, não só com os “aproveitadores de plantão” que saíram na foto e hoje aparecem como grandes críticos.

Falo de algo que hoje é comum em qualquer parte do mundo. Na semana passada, Cracóvia na Polônia realizou uma votação para decidir se entraria no processo de sediar os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022. Cracóvia é a segunda cidade da Polônia, uma das mais antigas da Europa e onde quase 70% da população votou contra. É verdade que foram apenas 36% dos habitantes que compareceram as urnas, mas o suficiente para que o governo local abandonasse a idéia de sediar o evento.

Foi a mesma coisa que Estocolmo na Suécia fez em dezembro, e mesmo sem uma votação popular, os altos riscos e principalmente condições econômicas fizeram a cidade desistir da sede . Antes, Munique na Alemanha e as cidades de Davos e St. Moritz na Suiça já haviam retirados as suas candidaturas também com forte resistência da população.

A longa lista de interessados para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Inverno de 2022, ficou reduzida a quatro cidades, e ainda pode ser encurtada. Almaty no Cazaquistão e Beijing na China até se mantém na disputa, mas Lvviv na Ucrânia vive um problema interno de grande tensão e a candidatura de Oslo na Noruega está longe de ter o apoio popular.

Os noruegueses são uma das principais forças dos esportes de inverno e a cidade até já sediou uma Olimpíada em 1952. Entretanto, as resistências internas são muito grandes, até mesmo um dos dois partidos que fazem o Governo local já se manifestou contrário a sediar o evento.

Com certeza os 51 bilhões gastos pela Rússia nos fantásticos Jogos de Sochi deste ano influenciaram toda esta “corrida” (para longe) de sediar o evento, mas acima de tudo a necessidade de dividir responsabilidades no compromisso de tanta demanda.

É assim que o Comitê Olímpico Alemão está agindo para os Jogos Olímpicos de 2024. Recentemente enviou dois questionários as cidades de Hamburgo e Berlim onde entre as 13 páginas de perguntas está a mais importante que se refere ao apoio popular que evento pode ter da comunidade local.

Sei que vai ter gente indicando que no Brasil o voto não vale, “o brasileiro não sabe votar”, dizem aqueles que são incapazes de aceitar um processo democrático em que o resultado não seja do seu agrado. Pode até ser que o voto popular (grandes chances) desse o apoio para a realização destes dois eventos que se constituem na maior dimensão do esporte mundial, mas pelo menos teríamos justificada e dividida a responsabilidade.

A estas alturas, não nos resta muito. E como disse antes, vou estar inserido nos eventos. Para a Copa, serei um torcedor dos mais fiéis, não só da Seleção, mas que tudo dê certo e que a imagem de nosso país seja a melhor possível. Para a Olimpíada, daqui a dois anos, que possamos tirar toda a experiência e nos preparar de forma adequada evitando os mesmos erros.

Que a NOSSA vitória não seja só dentro dos campos, das quadras, piscinas, mas também na conscientização de nossa população e acima de tudo de melhores ações de nossos governantes.

Alexandre de A. Pussieldi, editor chefe da Best Swimming Inc.

1 responder
  1. Denis Serio
    Denis Serio says:

    Já era teu fã desde 2004 e foi muito legal ter te conhecido em Guadalajara, mas depois desta frase promovo-me à condição de fã número um!

    “Sei que vai ter gente indicando que no Brasil o voto não vale, “o brasileiro não sabe votar”, dizem aqueles que são incapazes de aceitar um processo democrático em que o resultado não seja do seu agrado.”

    Parabéns, coach, pela aula de democracia em um tempo em que vemos pessoas nas ruas pedindo golpe militar.

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