Meu dia de Copa

Conseguir os ingressos não foi fácil. Foi um processo, longo e difícil. No final, lá estava eu no Maracanã para ver o meu primeiro jogo de Copa de Mundo da minha vida. O jogo, Alemanha X França, mesmo sendo um jogão no papel (e não foi na realidade), não era o mais importante. O momento histórico, devidamente registrado em fotos e selfies é que fica para a história.

Eu, como muitos de vocês, sou uma pessoa do esporte. Adoro, sofro, vibro, vivencio. Depois de ter estado em três Olimpíadas, finalmente posso colocar uma Copa do Mundo no meu currículo. E que Copa!

O meu dia de Copa começou no metrô. Assim como nos Jogos Olímpicos quem tem ingresso não paga. Aliás, em Londres e em Sochi mesmo quem não tinha ingresso, não precisava pagar. O movimento estava bom, controlado e bem seguro. Policiais por todo lado.

A chegada ao Maracanã é rodeada por emoção e ansiedade. Antes de entrar no estádio tive de mostrar o ingresso umas quatro vezes. O caminho por cima da passarela foi o mais congestionado, mas nada de confusão, nada de briga. Muitos gritos, cores e bandeiras diferentes, selfies e fotos a mil. Sem ingresso não passa, mas não passa mesmo.Os policiais impressionam. Todos fortemente armados e parecendo Robocops.

Alguns cartazes “I need ticket” mas não vi nenhum cambista. Até procurei, mas acho que o escândalo dos cambistas internacionais deve ter intimidado. Aliás, que ação da Polícia Federal. Algo para realmente nos orgulhar. Estamos falando de uma quadrilha que passou por quatro Copas do Mundo e só veio ser pega aqui, em nosso país.

O Maracanã está lindo. Já tinha visto no ano passado, mas agora parece estar mais reluzente. O Célio de Barros (estádio de atletismo) é um estacionamento. O Julio de Lamare está lá, do jeito que sempre deveria ter estado. Uma imensa tenda está na área que servia de saída das provas de 50 metros. Em agosto os esportes aquáticos estarão de volta. O Julio de Lamare é nosso! A intenção de derrubá-lo mostrou o quão desnecessário isso seria.

A entrada no estádio é tranquila. Os funcionários são solícitos e muitos bilíngues.Os acessos são todos cheios, mas fluem bem. Há filas para os bares e banheiros, mas nada de confusão. Funcionários é o que não falta. Agora são menos policiais, bem menos. Dizem que estão numa sala, prontos para agir se necessário. Não foi, ou melhor até foi.

Os europeus gostam de assistir o jogo em pé. Não é como os argentinos que pulam e dançam o tempo todo, é em pé mesmo, parados. Já sabia disso, estava preparado. Mas tinha gente que não estava. E aí rolou confusão. Um par de franceses acabou sendo removidos. Nada demais.

A maior torcida era brasileira. Pelo menos metade do estádio, ou mais. Depois os alemães, depois os estrangeiros e em menor número os animados franceses. Os brasileiros não apoiaram nem um, nem outro. Queríamos um bom futebol, cheio de gols e emoções. Não foi exatamente o que se viu, mas tá valendo. É Copa do Mundo.

Fiquei frustrado por não ouvir aquele que seria o meu primeiro “Eu sou brasileiro….com muito orgulho”. Não rolou! Por sinal, rolou uma que está bombando nestes últimos jogos. Fala do Pelé, seus mil gols e ofende a Maradona pelo seu passado com cocaína. Achei desnecessária e sem sentido. Maradona foi um grande jogador, um dos grandes, talvez um dos melhores. Como pessoa nem tanto. Nem pai, nem marido, nem exemplo. Para mim virou folclore pelas opiniões fortes (para não dizer bobagens). Mesmo ofendendo ele pela música, para mim é dar cartaz a quem não merece.

A estrutura do estádio é perfeita. O sistema de som alto, músicas animadas, telões com excelente definição, e nada de replay nas jogadas duvidosas. Isso para mim é censura, mas são os critérios da FIFA TV.

Os bares servem o de sempre. Os preços são aceitáveis, os souvenirs pobres, e acho que mesmo sendo Copa do Mundo pouca gente estava ali para comprar algo assim. Eu comprei, mas a maioria guardou mesmo foi o copo de cerveja que traz o nome e a data do jogo.

Terminou a partida, Alemanha passou, a França não mostrou o que veio fazer aqui. Se fosse a Nigéria teria sido melhor. É hora de deixar o estádio. A música contra o Maradona toma conta de toda a passarela. Até os gringos entram na onda. O acesso é ótimo, em poucos minutos estamos do lado de fora. E em poucos minutos e uma fila você está dentro do taxi.

Ainda faltando pouco, muito pouco, nós já vencemos esta Copa. Os problemas e o medo que rondavam o fato de estarmos sediando o maior evento esportivo do mundo foram superados. A imprensa nacional já mudou o tom, a internacional há muito tempo. Os nossos problemas sociais, econômicos e politicos, continuam, mas não seria a Copa que iria mudá-los.

A Copa vai ajudar a nossa Olimpíada. E muito! A imagem do país vai sair reforçada. O grupo de trabalho do COB e Rio2016 ganhou ânimo e confiança. Meu dia de Copa do Mundo foi ótimo e me deu uma impressão muito boa. A Olimpíada vai ser ainda melhor.

Alexandre Pussieldi, editor chefe da Best Swimming Inc.