A matéria do Flavio Dilascio no Globoesporte.com http://globoesporte.globo.com/natacao/noticia/2014/07/endividada-federacao-do-rio-pode-ser-multada-por-documento-polemico.html traz mais um capítulo da situação caótica que vive a natação do Rio de Janeiro.

Quando encontrei o Celso Oliveira, antigo companheiro de borda de piscina, agora novo Presidente da Federação Aquática no Rio de Janeiro no Brasileiro Júnior Inverno, em maio, até brinquei com ele. Não sabia se dava os parabéns ou os sentimentos.

A missão que ele tomou é um dos pratos mais indigestos que qualquer dirigente esportivo possa ter. A FARJ é uma das mais desestabilizadas entidades esportivas do país. Uma dívida de mais de 2 milhões de reais, sem receita, inchada com muitos funcionários e operando num sistema jurássico.

Não há como operar uma federação como a FARJ, com o reduzido número de filiados, com o minguado número de atletas e com a receita que existe nos padrões que tem sido feito. É impossível!

Nos últimos 15 anos trabalhei na natação americana onde operávamos com uma federação local, lá chamada de LSC – Local Swimming Committee. A Florida Gold Coast compreende clubes apenas da região sul da Flórida. São 59 federações iguais a esta nos Estados Unidos.

A Florida Gold Coast compreende cerca de 60 clubes e em torno de 6.000 atletas registrados. Os números e as comparações podem não fazer sentido, ou até mesmo referência, mas a operacionalização e principalmente a adminstração devem ser utilizadas como modelo.

A FARJ ainda opera com sede. Coisa que há muito tempo desapareceu na maioria das LSCs americanas. Tudo é online, virtual. No sistema americano, não existem funcionários, se opera com voluntários e onde todos precisam colaborar. A implantação do sistema talvez seja o mais importante, e dividindo a responsabilidade, treinadores, clubes e dirigentes participam de forma mais ativa do processo.

O sistema que a FARJ e quase todas as federações do país ainda insistem em “tentar” fazer é obsoleto, desgastante e sem qualquer perspectiva de melhora. Ficar mendigando verbas públicas ou algum aventureiro da iniciativa privada que decide mandar um cheque de “patrocínio” sem qualquer oportunidade de retorno.

Até mesmo o sistema de escolha de nossos dirigentes é algo totalmente ultrapassado, para muitas vezes não dizer ilegal. Eleições são marcadas por “dirigentes” que muitas vezes trazem dois, três ou mais votos em clubes fantasmas que não participam de competições, possuem apenas um nadador filiado que participa de uma competição para garantir o voto no dia da eleição. Não é incomum ver estes clubes fantasmas acertarem os seus débitos as vésperas da eleição, apenas com o intuito de estarem em condições de voto.

O Presidente Celso Oliveira errou ao formular a decisão de só aceitar pagamentos em cash ou cheque, não mais utilizando as contas da FARJ. Ele mesmo reconheceu isso. Sua intenção era tentar evitar mais penhoras pelo montante impagável que a entidade deve, grande parte dele em causas trabalhistas. Celso Oliveira não é culpado, é mais uma vítima em todo este processo onde pode se mudar as figuras, mas o problema continua o mesmo. Assumiu em maio um desafio em condições de uma entidade deteriorada e com dívidas resultantes das administrações anteriores.

Fica até difícil apontar uma solução para o caso. Se é que existe, mas uma coisa tenho certeza: o modelo atual não tem a minima chance de recuperar a FARJ. Só mesmo uma mudança radical no processo de administração, controle e operacionalização da entidade salvaria o caos que virou a natação do Rio de Janeiro.

O pior de tudo isso, é que este drama pode ser encontrado nos quatro cantos do país. Uns com dívida maiores, outro menores. Federações esportivas sendo operadas das casas dos dirigentes, do fundo da garagem ou até mesmo do porta mala de seus veículos.

A verdade é que paramos no tempo. A natação competitiva involuiu no país. Temos menos nadadores e menos clubes filiados hoje do que há 10 anos. Mesmo tendo aumentado nossa população, o número de profissionais de educação física, o número de piscinas e academias em todo país, a natação na prática cresceu, na competição está cada dia menor.

Treinadores, clubes, dirigentes, federações e CBDA também são culpados dessa involução (incluindo eu). Continuamos com o mesmo modelo de duas décadas. Não fazemos um programa que busque e incentive a natação das categorias menores. O que temos feito é simplesmente valorizar a natação de elite, bancando e investindo somente nela minimizando oportunidades e incrementando a situação da natação de base em todo país.

Não sabemos se isso tudo tem solução, mas alguma coisa precisa ser feita. Só não podemos continuar fazendo o que tem sido feito da mesma forma há anos e esperar resultados diferentes. Isso não vai acontecer.

Alex Pussieldi, editor chefe Best Swimming Inc.

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