Por Plínio Rocha
No Twitter: @pliniorocha77

Sim, há quem seja chato demais e ache torneios como o Raia Rápida inúteis. Que não têm fundamento. Para que, afinal, juntar 16 nadadores e colocá-los para nadar provas de 50m? Uma ação que não leva nada a lugar nenhum.

São, como dito, chatos. Porque o Raia Rápida tem atrativos, certamente.

Para quem ganha cachê, e não são todos, evidentemente, já tem o lance da grana. Os gringos certamente pedem um trocado para saírem de seus países, por mais que não seja tão necessário assim arrumar uma desculpa para visitar o Rio de Janeiro. Não à toa, Roland Schoeman estava postando nas redes sociais mensagens e fotos e mais fotos da cidade. Ele e outros, como Anthony Ervin.

Mas, para quem leva uma bufunfa, evidentemente, não há nem o que discutir. Dinheiro nunca é demais, principalmente para o povo da natação, que não está nadando (sem trocadilhos) em reais ou dólares – com exceção de um Michael Phelps da vida, que é um fenômeno, um anormal.

Depois, porque é uma baita oportunidade para alguns caras sentirem um clima de mais rivalidade na piscina. Uma maneira de encarar rivais de altíssima qualidade em uma circunstância um pouco mais descontraída. Mas, ainda assim, com todo mundo querendo ganhar. E a tal “rodagem internacional” é importante, faz parte do crescimento e amadurecimento de um nadador que busque coisas mais decentes na carreira.

Porque nunca é demais para Felipe França, por exemplo, cair ao lado de Cameron Van Der Burgh. Por mais que o sul-africano não estivesse no mesmo estágio de treino e preparação que o brasileiro. Mas são caras que vêm batendo de frente em Mundiais, Olimpíadas… São dois dos melhores peitistas do mundo, e conta muito qualquer resultado.

Da mesma maneira, é ótimo que Nicholas dos Santos continue mandando nos 50m borboleta. Não, os principais nomes do mundo nessa prova não estavam lá, como Cesar Cielo, por exemplo, mas é uma distância que Nicholas escolheu para apostar. Não se trata de uma prova olímpica, mas é uma prova na qual ele pode beliscar muita coisa em competições importantes.

Para Guilherme Guido, a ocasião trazia um contexto mais interessante. Tanto Gerhard Zandberg como David Plummer ainda estão um degrau acima. Por isso, ele pode colocar na cabeça que se tratava de um teste mais sério. Por mais que o americano tenha decepcionado, e muito, com uma saída horrível na segunda prova.

Mas, certamente, foi Matheus Santana quem pôde ter refletido um pouco mais sobre a oportunidade. De um lado, estava Roland Schoeman, 34 anos, com três medalhas olímpicas, cinco em Mundiais e recordes mundiais nas costas. Do outro, estava Anthony Ervin, 33, com duas medalhas olímpicas e três em Mundiais na bagagem.

Matheus é jovem, ainda. Tem apenas 18 anos. Foi derrotado pelos dois, nas provas individuais. Mas viu que tipo de adversário vai encontrar por aí, porque o próximo e óbvio passo do brasileiro, daqui para a frente, é cada vez mais estar lado a lado com os melhores velocistas do mundo. Nunca vai ser moleza, por mais que até seja uma grande injustiça, neste momento, querer compará-lo a gente desse calibre, que tem, principalmente, muito mais experiência.

No revezamento, Matheus já teve aquele gostinho de vencer os dois. Principalmente Ervin, que fez uma chegada apertadíssima com o brasileiro. Santana nadou sua parcial dos 50m livre para 22s cravados. O americano meteu 21s31. Mas Matheus bateu a mão na frente, como disse que bateria se recebesse da equipe em primeiro.

Isso é bom. Impor desafios a ele mesmo e, quando estiver de cara com as feras, ter a capacidade de cumpri-los. Mas, para que isso aconteça, é preciso ter a oportunidade. E o Raia Rápida proporcionou isso para ele. Nesse momento, aliás, quem acha que a competição não vale nada devia estar na frente da televisão, com os olhos vidrados na chegada.

Matheus, Nicholas, Felipe e Guido agradecem pela preferência, diriam.

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Plínio Rocha é editor do Diário de S.Paulo e assina a coluna Na Raia no Best Swimming desde 2007

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