Tá bom, eu preciso confessar, por trás deste que vos escreve também existe um fã, talvez um super fã, uma admiração de reconhecimento para quem foi e é uma bandeira, uma referência em nosso esporte. Sou daqueles que chorou (e soluçou) no ouro olímpico de 2008 e até no recorde mundial de Roma em 2009.

Mas também existe um ex-treinador, crítico e estudioso de natação e que identifica em Cesar Cielo um nadador diferenciado. Ano passado foi um ano perdido, por uma série de fatores. A mudança radical deste ano, por mais que todos não queríamos, era a única alternativa. Mais do que físico, estratégico, os problemas de Cesar Cielo são emocionais, psicológicos mesmo.

Cielo entre tantas qualidades de sua natação, tem, ou tinha, uma confiança impressionante. Uma determinação e uma superação sem tamanho. A mudança de treinador e programa (foram 6 em quatro anos) gerou um novo sentimento para Cielo. Ele passou a se questionar se o problema era ele, se ele ainda tinha chances de voltar a ser o que era, e até chegou a pensar em parar.

Uma de suas grandes qualidades, é a vontade de vencer, combinados com o ódio de vencer. Isso, para atleta de alto nível é uma super qualidade. E Cielo tem ela em abundância.

Durante todo este período, de 2012 para cá, a única vez que vi Cielo sem força, sem explosão, sem capacidade de reagir foi no aberto da França do ano passado. Há poucas semanas do Mundial de Kazan vi Cielo levar um chocolate de Florent Manaudou, algo que jamais pensei que poderia acontecer.

Assim, o que vi em Kazan não me surpreendeu. Cielo lá estava destreinado. Os treinos do segundo semestre de 2015 foram melhores, mas não o suficiente. Talvez até a parte física foi recuperada, mas a parte emocional ficou distante disso.

A mudança para os Estados Unidos teve inúmeros benefícios. Scott Goodrich já mostrou ser um treinador de pulso e está no seu ambiente. Cielo perde um pouco da situação de estar em controle e fica blindado. Aliás, esta é uma de suas características. Cielo não gosta de acesso, de imprensa ao redor. A saída para o Arizona foi estratégica e favoreceu ainda mais a tudo isso.

Cielo é emotivo, sensível, chorão. Dos grandes. Chorou em 2008, 2009, 2011, 2012, 2013. Depois disso, não vi Cielo chorar, mas soube que chorou muito no ano passado em Kazan. E ele chora nas vitórias e grandes conquistas como também chora nas decepções. Lembro de uma Conferência SEC nos Estados Unidos, em seu tempo de Auburn. Cielo venceu e detonou nas provas de 50 e 100 livre, mas perdeu nos 200 livre. A prova que ele tanto odeia e deve ter sido obrigado a nadar. Cielo não chorava, soluçava. Um choro profundo, sincero, é Cielo.

Acomodar estas emoções, anseios e desafios, tudo isso faz parte do atleta. Ainda mais de um atleta que é referência. Por isso cobramos tanto dele. Por isso o público só quer ver o Cielo vencendo.

Florent Manaudou durante este período se tornou o dono da prova de Cielo. O francês tem sido regular e nadar para 21 se tornou uma rotina jamais vista desde o fim da era dos trajes. Também tivemos o crescimento de Bruno Fratus, cada vez mais regular e baixando seu tempo há duas temporadas consecutivas. O mundo da velocidade também ganha outros protagonistas, jovens como Vlad Morozov ou ainda mais jovem como Caeleb Dressel.

Cielo só tem uma chance para pegar o Time Brasil para o Rio 2016. Vai ser no Maria Lenk em abril. Não pode escapar, não pode balançar, não pode cair. A seu favor, nunca caiu, mas é fazer ou morrer, é a única chance.

Embora reconheça e valorize os outros bons nadadores que o Brasil tem produzido, não vejo ninguém capaz de tirar a vaga de Cielo. O Brasil vai ter no Rio 2016 Fratus e Cielo e acredito nos dois, acredito em duas medalhas. Acredito muito mesmo. Não sei a cor, mas a estas alturas, para mim não interessa. Quero ver os dois no pódio.

Cielo tem uma saída incrível, um início de nado sensacional. Sua prova é determinada por isso. Se ele entra com o ângulo adequado, se acerta a primeira fase da prova, o resultado sai.

Velocidade são detalhes, pontos a serem praticados e praticados, insistentemente, de forma precisa e calculada. Velocista é um estudioso, um estrategista. Cielo é dos bons.

Ganha do Manaudou? Isso é outra história… Florent Manaudou chegou a Londres em 2012 de uma forma inusitada. Ganhou a vaga por apenas um centésimo em tempo feito na semifinal da seletiva francesa e que nem conseguiu repetir na final. Na Olimpíada, Manaudou ficou em sétimo na eliminatória e em sexto na semifinal.

Na final, virou um bixo. Baixou meio segundo, isso mesmo, imagina, meio segundo neste nível para se tornar campeão olímpico e o homem mais rápido da história da era pós-trajes. Agora, é outro Manaudou. É o dominante da prova, a referência e baixou ainda mais o seu tempo.

Eu acredito em surpresas, mas não em milagres. Cielo vai conseguir esta vaga, tenho certeza disso. E vai ser competitivo no Rio 2016. Vai brigar e junto com Fratus vai estar no pódio.

Manaudou é o favorito, mas não é imbatível. Ganhar dele é um desafio. E pode até ser surpresa, jamais milagre. Por isso, não adianta rezar, e sim treinar.

Eu acredito!

6 respostas
  1. Realidade
    Realidade says:

    Pessoal,

    Resgatando aqui os comentarios que muitos de voces fizeram em relacao ao Cielo. E gostaria de deixar claro que nao uso esse comentario como desrespeito a ninguem aqui.

    Mas ficou claro que desde o ano passado, todos estavam comentando com o coracao, a emocao, e nao com os fatos:

    1. Cielo ja vinha de uma sequencia pessima de resultados.
    2. A saida dele ja nao era consistente como antigamente e muitas vezes falhava.
    3. Seu estilo mudou totalmente. Repare ele em 2008 e agora. Ele quis mudar o estilo para um braco reto que nunca deu certo.
    4. Sua atitude estava cada vez pior. Abandonou campeonatos quando nao se sentia bem. Teve chances de se classificar em dezembro mas nao aceitou continuar o campeonato.
    5. Ele falou o ano inteiro que queria focar tambem no revezamento. So’ que nesses 4 anos de ciclo, ele nunca fez parte do revezamento. Ele nunca quis nadar. Ele nunca esteve a disposicao. No momento da seletiva, ele abandonou novamente a final da prova.
    6. Suas desculpas comecaram a aumentar. Repare nas entrevistas dele apos as provas de manha, sempre o unico reclamando que o corpo ainda estava dormindo. Um atleta profissional, que teve 4 anos para se preparar, me chega reclamando de ser muito cedo para nadar?
    7. A falta de alguem ao lado dele para dar um direcionamento na carrerira. As constantes trocas de tecnicos deveriam ser evitadas. Por exemplo, criar uma equipe com 10 tecnicos o ano passado nao fazia sentido, mas ele insistiu.

    Com tudo isso, todos ainda insistiram na esperanca que o Cielo de 2013, 2011, 2009, e 2008 era o mesmo. Mas eram claras as diferencas. Estava na cara.

    Agora pergunto, qual sera o legado de Cielo? Para a grande maioria brasileira, sera de um vencedor. De um campeao olimpico. Mas deixem de lado mais uma vez a emocao.

    Para muitos internacionais, ele foi “apenas” um grande nadador na era dos trajes, que por exemplo, nunca conseguiu um feito excepcional nos 100 livre sem os trajes. Ou seja, ele precisava dos trajes para sobreviver a prova. E tambem alguem que exagerava nas comemoracoes ao ponto de quase desrespeitar a outros.

    Ok, ele ganhou o mundial de 2011 sem os trajes, mas nao esquecam do doping e da ridicula impunidade. Para muitos (e.g., Craig Lord), ele perdeu sua credibilidade naquele momento.

    Para mim, seu grande feito mesmo foi em 2013. Sem doping. Sem trajes. Um grande 50 livre que ele nunca mais conseguiu repetir. Talvez a melhor saida dele ja executada.

    O que fica de Cielo e’ com certeza um cara vitorioso e polarizador pelo mundo. Para o Brasil, o maior de todos. Mundo afora, talvez nem tanto.

    Abracos.

  2. Alexandre Madsen
    Alexandre Madsen says:

    Me too. Coach, e muito se fala da idade do Cielo. Em provas de velocidade, temos exemplos de supercampeões longevos. Gary Hall Jr. conquistou o Bicampeonato Olímpico em Atenas 2004, com 29 anos. Se o Cesão repetir a prova do Mundial de 2013, em Barcelona, e encaixar a última braçada na placa, brigará pelo Bi Olímpico em casa. Anota aí!!!

  3. Patricia Angelica
    Patricia Angelica says:

    Nessa hora a gente entra na vibe da torcida do Atlético-MG e grita na arquibancada: EU ACREDITO!!! EU ACREDITO!!! \o/

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