Press release publicado pelo Comitê Olímpico do Brasil:

Prêmio Melânia Luz encerra II Fórum Mulher no Esporte com homenagem a Joanna Maranhão e Rosângela Santos

Em sua primeira edição, prêmio é concedido a mulheres que fizeram e continuam fazendo a diferença no esporte brasileiro

Por Comitê Olímpico do Brasil

16 de abr, 2025 às 10:51

Fabi Alvim, Joanna Maranhão, Yane Marques, vice-presidente do COB, Rosângela Santos e Maria Emilia, filha de Melânia Luz no II Fórum Mulher no Esporte (Grazie Batista/COB)
O Comitê Olímpico do Brasil realizou nesta terça-feira, 15, a entrega do Prêmio Melânia Luz às atletas Joanna Maranhão e Rosângela Santos, durante o II Fórum Mulher no Esporte. A cerimônia aconteceu na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, e celebrou o legado de mulheres que transformaram o cenário esportivo nacional. 

Melânia Luz foi a primeira mulher negra brasileira a disputar os Jogos Olímpicos, em Londres 1948. Membro do Hall da Fama do COB e Emérita da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), ela quebrou barreiras significativas em uma época em que apenas 50 anos haviam se passado desde a abolição da escravatura no Brasil. Três vezes medalhista sul-americana em provas de pista, abriu caminhos para que outras mulheres negras também conquistassem seu espaço no esporte.

 

O Prêmio Melânia Luz é concedido àquelas que fizeram e continuam fazendo a diferença no esporte nacional, representando os valores fundamentais do Movimento Olímpico. A homenagem reforça o compromisso do COB em reconhecer mulheres que, assim como Melânia, contribuem para um cenário esportivo mais igualitário e inspirador.

 

“Um tema sensível no esporte é a invisibilidade de mulheres, de suas histórias e da sua contribuição. O propósito do Prêmio Melânia Luz é reconhecermos essas mulheres. Melânia foi uma precursora que abriu espaço para que outras pudessem viver o esporte olímpico. O prêmio que leva seu nome é também uma forma de reconhecer sua importância para o esporte brasileiro e para mulheres pretas”, explica Taciana Pinto, Gerente da área Mulher no Esporte.

 

Melânia Luz faleceu em 2016, aos 88 anos. Assim como na homenagem do Hall da Fama do COB em 2023, sua filha, Maria Emília, a representou nesta noite na Cidade das Artes. Em um momento emocionante, ela entregou as placas às atletas e fez um discurso comovente.

 

“Tudo que foi falado aqui eu só ficava pensando ‘se minha mãe estivesse viva, como seria?’. Ela não tinha noção do quanto ela foi precursora de tudo isso. Só tenho a agradecer (…) gratidão por estarem lembrando do nome da minha mãe”.

Rosângela Santos e Joanna Maranhão são as primeiras vencedoras. Rosângela é uma das principais velocistas do país e iniciou sua trajetória no atletismo aos nove anos, treinando na Vila Olímpica de Padre Miguel, no Rio de Janeiro. Aos 17 anos, já integrava o revezamento brasileiro que disputou a final olímpica do 4x100m em Pequim 2008. A equipe brasileira terminou inicialmente em quarto lugar, mas teve uma correção histórica oito anos depois, quando o COI desclassificou a equipe russa por doping, concedendo ao Brasil a medalha de bronze. Ela agradeceu e falou sobre mulheres importantes que fizeram parte de sua trajetória.

“A primeira foi Melânia, primeira negra que abriu a porta para que eu hoje pudesse estar aqui”, disse, finalizando com um recado para inspirar outras mulheres. “Ser atleta já é um desafio, ser mulher e atleta é ainda mais árduo, contudo fomos escolhidas para inspirar e abrir caminhos. Como atletas, técnicas, árbitras, CEOs, vice-presidentes… em qualquer função que quisermos desempenhar”.

 

Joanna Maranhão, nadadora com participação em quatro edições dos Jogos Olímpicos (Atenas 2004, Pequim 2008, Londres 2012 e Rio 2016), é a dona do melhor resultado feminino na natação brasileira. Em Atenas, conquistou o 5º lugar nos 400m Medley, igualando o feito de Piedade Coutinho, que em 1936 alcançou a mesma colocação nos 400m Livre. Além de sua carreira nas piscinas, Joanna se destaca como uma voz ativa na natação brasileira e já ocupou a Presidência do Conselho de Ética do COB.

Joanna Maranhão marcou a história do país não apenas por seus feitos no esporte, mas por sua coragem que inspirou uma mudança fundamental na proteção de crianças e adolescentes. A nadadora revelou aos 20 anos que havia sido vítima de abuso sexual por seu treinador na infância. Ao tornar pública essa experiência, ela deu origem à mobilização que resultou na Lei nº 12.650/2012, conhecida como “Lei Joanna Maranhão”. A lei alterou o Código Penal, ampliando o prazo de prescrição para crimes sexuais contra crianças e adolescentes, permitindo que mais vítimas tenham tempo para denunciar. Joanna se tornou um símbolo da luta contra a violência sexual infantil e da busca por justiça.

 

“O esporte brasileiro e mundial tem obrigação de fazer mais. Criar espaços seguros onde os atletas e demais pessoas possam reportar as violências e ter acesso a assistência e ao apoio. Hoje, eu continuo lutando por essa agenda de uma maneira estratégica, pautada em evidências e não mais sozinha”, disse a ex-atleta. “Que esse prêmio hoje não seja só sobre mim, mas que seja símbolo de um compromisso do Comitê Olímpico do Brasil numa demonstração de coragem institucional com a agenda do esporte seguro. Que nada aconteça sobre nós, sem nós”.

 

O II Fórum Mulher no Esporte consolida-se como um importante espaço de discussão e valorização da presença feminina no esporte nacional, celebrando conquistas e apontando caminhos para superar os desafios que ainda persistem.