Como todos da comunidade aquática, e por mais preparado que se estivesse e esperando o pior, não foi fácil digerir e aceitar a decisão da nova diretoria do Flamengo ao acabar com a natação adulta do clube colocando atletas de nível mundial na rua sem opção e muitos outros sonhos a mercê de um sistema clubístico temporário, imediatista e principalmente desorganizado.

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Decidi escrever este post, que até vai ser mais longo mas vai tentar colocar todos os pontos e principalmente analisar de todos os lados a situação que aconteceu no Flamengo, mas poderia ser em várias outras agremiações.

Como qualquer situação e principalmente controversa como esta, existem dois lados e muitas vezes não conseguimos visualizar. Assim, este post é mais um elemento para se discutir do que uma opinião sobre o ocorrido.

* A nova diretoria do Flamengo cita problemas com falta de estrutura do clube, instalações precárias e até mesmo cita a piscina que não está a altura do clube. Dispensa todos os atletas adultos, ou melhor, não renova os contratos deles como o próprio dirigente flamenguista preferiu explicar.

* Qual a garantia dos atletas que ficam no Flamengo, júniors, juvenis e até mesmo das categorias menores terão de que tal tipo de coisa não volte acontecer no futuro.
“Desculpa a piscina não ficou pronta e vamos mandar embora mais tantos…”. Quem garante que isso não pode voltar acontecer?

* Minha gente, não é a nova diretoria do Flamengo que “pisa na bola” contra a natação. A desorganização é histórica no clube que junto com o Pinheiros é o maior vencedor da história deste esporte no país. Alguém esqueceu de que já teve ano onde os atletas da república tiveram suas refeições cortadas e proibidos de ter acesso ao restaurante do clube?

* Acabar com a natação adulta do Flamengo é tão grave quanto ficar três meses sem receber salários. É falta de estrutura, de planejamento, de responsabilidade e de educação. Alguém já parou para pensar como foi o Natal dos funcionários do clube?

* Infelizmente, isso é um problema histórico, que muda de lugar mas não muda de padrão. A falta de compromisso  da natação é determinante para fatos como estes acontecerem e se repetirem. Já se passou no Botafogo, no Fluminense, no Super Vasco (uma das maiores crises que se viu) e várias vezes no Flamengo.

* A natação do Rio está prestes a passar o mesmo vexame que sofreu no Pan de 2007 quando nenhum dos atletas da Seleção Brasileira treinava ou representava um clube carioca.

* Um dos dados importantes que a nova diretoria do Flamengo citou é de que os esportes precisam ser auto-sustentáveis. É algo bem razoável e deveria ser real. Entretanto, a realidade é de que nunca foi feito, e o pior, nem sequer tentado.

* César Cielo é o atleta que recebe o maior salário da natação mundial. Cielo também é um atleta carismático, de boa imagem e que vende. Mesmo treinando fora do Rio e do Flamengo, que tipo de ação ou projeto foi feito para viabilizar não só o custo Cielo mas tirar benefício de ter um atleta deste quilate representando o clube? (Não preciso responder!)

* Para viabilizar a natação do Flamengo com Cielo & Cia, seria necessário ter as escolinhas de natação lotadas e uma estrutura organizada. Com as instalações que o Flamengo tem, e principalmente a organização (ou seria desorganização), impossível!

* Clubes e associações esportivas têm três formas de arrecadação. A primeira delas, pública, para o Flamengo não existe. São tantas contas não pagas, tantas irregularidades trabalhistas e sociais em gestões anteriores que o clube jamais vai ter direito a verbas governamentais. A segunda através da arrecadação do quadro social. Um clube com a maior torcida do país tem um quadro social ridículo e inexpressivo. E por fim as contribuições privadas e de patrocínios.

* As empresas hoje querem investir e querem retorno. Querem seriedade e organização. Vide o novo patrocínio do Flamengo com a Adidas e as inúmeras solicitações e exigências. O Flamengo, como todos os clubes do país, precisa ser administrado como empresa, ou isso vai continuar sendo o que tem sido: rotina!

* Se Cielo pudesse ser patrocinado pela Adidas, talvez hoje a situação fosse diferente. Da mesma forma, se houvesse intenção em atrair a Arena para bancar parte do programa, mas algum contacto foi feito neste sentido? Existe alguém pensando nisso?

* A estrutura da natação clubística do país precisa ser repensada. Atletas como César Cielo e Thiago Pereira tem aspirações a nível de performance internacional. Mesmo sendo remunerados (e muito bem pagos) pelos seus clubes, não tem compromisso ou interesse nas competições nacionais, maior aspiração dos clubes. Este conflito gera situações como a que estamos presenciando agora.

* Atletas que assinarem com seus clubes precisam ser específicos na sua disponibilidade para competições nacionais, revezamentos, aparições e apresentações na sede do clube. O Pro 2016 é um projeto muito bem feito e organizado, mas Cielo depende do salário do clube para manter. Deve existir melhor relação afim de ser um bom negócio para os dois lados.

* Estamos entrando no Ciclo 2013-2016, somos um país a caminho de sediar o maior evento esportivo da nossa história. E vamos começar isso com dois dos nossos melhores atletas desempregados. E o pior, é que mesmo que apareçam novas oportunidades, não há dúvida de que os salários serão menores.

* Flamengo é um clube de futebol. Os dirigentes que lá estão tem neste aspecto as suas maiores ambições e aspirações. O clube todo gira e está voltado para isso. Viabilizar os outros esportes só será possível se for criada uma administração que permita projetos e ações neste sentido.

* Algum de vocês leu as centenas de comentários da “nação rubro-negra” com a decisão de acabar com a natação? A grande maioria, absoluta maioria, aprova a decisão da diretoria. É assim que pensa a torcida do clube.

* Contratar um Ryan Lochte por alguns dias (Troféu Maria Lenk e Troféu José Finkel) talvez traga o mesmo tipo de repercussão, resultados e num custo muito menor. É assim que a natação de clube neste país funciona. O compromisso com o Brasil Olímpico é nulo, não existe.

E o futuro? Tem solução? Fica difícil vislumbrar, fica difícil até mesmo de acreditar. A verdade é que o esporte olímpico em nosso país sofre com um problema de falta de organização e planejamento. Não tenho dúvidas em citar de que não há país no mundo onde os atletas de natação recebam tão bem como no Brasil. Não existe! Entretanto, nosso problema com falta de estrutura, organização, e salários dos treinadores  nos poem no mesmo nível de países de pouca ou quase nenhuma expressão.

O fim da natação do Flamengo pode até ter revoltado muita gente, mas surpresa não foi para ninguém.

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