ANA MARCELA CAMPEÃ MUNDIAL DOS 25 K

Autor • Alex Pussieldi direto de Shanghai
Fonte • Best Swimming

Reuters

Pódium com Ana Marcela Campeã Mundial

A delegação brasileira ainda estava atônita quando a Best Swimming fez contato com o treinador campeão mundial Márcio Latuf. A alegria era sem tamanho. Ele mesmo não conseguiu gravar o final da prova, tinha a camera na mão, estava bem posicionado mas a emoção era tanta que não saiu nada. No podium, também foi Coach Latuf que gravou alguns segundos da sua atleta antes de receber a medalha de ouro.

Ana Marcela Cunha ganhou o primeiro título mundial da história dos esportes aquaticos do Brasil ao vencer a prova dos 25 quilômetros na praia de Jinshaw. Foi a consagração de quem havia perdido a vaga olímpica há quatro dias na disputa dos 10 quilômetros do Mundial de Esportes Aquáticos.

Ana Marcela ficou em 11o nos 10, melhorou sua posição para sétima nos 5 quilômetros e agora levou o título dos 25. Segundo o treinador Latuf, “Marcelinha nadou mal os 10, não estava bem, não encaixou. Hoje foi diferente, fez uma prova perfeita”.

E a vitória foi nas piores condições possíveis. Uma pressão internacional muito grande, especialmente dos americanos para cancelar a prova. Antes e durante a mesma.

A reclamação era a temperatura da água. O novo regulamento da FINA determina que a temperatura máxima é de 31 graus Celsius. A comissão organizadora antecipou o horário de início da prova para as 6 da manhã e mesmo assim enfrentou a alta temperatura.

Segundo especialistas, a sensação térmica durante a prova chegou aos 40 graus. Antes do início da prova, diversos nadadores anunciaram a sua renúncia a disputa, alegando temores com relação a temperatura. Entre eles, o alemão Thomas Lurz, campeão dos 5 quilômetros no dia de ontem, e os atuais campeões mundiais dos 25 quilômetros Alex Meyer dos Estados Unidos e a holandesa Linsy Heister.

A USA Swimming chegou a anunciar uma recomendação para seus atletas não participarem do evento e a única a desobedecer foi a jovem Claire Thompson que acabou parando no meio.

Durante a prova, os americanos continuaram a pressionar e pediam pela suspensão da mesma. Se fosse cancelada, a prova teria de fechar na altura dos 18 quilômetros. O técnico Rogério Arapiraca estava com uma pistola que mede a temperatura e chamou a arbitragem indicando que naquele momento a água estava a 28-29 graus.

“A vitória de Ana Marcela foi uma vitória de equipe” disse Márcio Latuf. A suplementação e a participação de todos os treinadores do Brasil espalhados pelo percurso fez a diferença. Ana Marcela foi hidratada 18 vezes e além do carboidrato com água e Gatorade, desta vez o menu incluiu pêssego em calda e coca cola. Itens que jamais haviam sido consumidos, mas pela distância da prova e sua duração foi necessária a modificação na alimentação do atleta.

Grande parte desta conquista se deve a participação do médico cubano Dr. Blanco Herrera. O médico das águas abertas tem sido decisivo na programação, no treinamento e na orientação do programa desta modalidade no Brasil.

O resultado de Allan do Carmo, que terminou em sexto lugar, também foi destacado por Márcio Latuf. Allan também nadou os 25 quilômetros pela primeira vez.

O esforço foi rigoroso desde o princípio. O horário de largada, 6 da manhã, determinou uma mudança por completa nos hábitos da equipe. O despertar foi as 4 da manhã. As 4:50 já estavam na primeira chamada para a prova. A segunda e final foi as 5:30.

Ana Marcela, Allan e Samuel de Bona se alimentaram antes da prova e estavam prontos para a largada as 6 da manhã. Os homens foram liberados antes, as mulheres as 6:15.

Contra a decepção de ter perdido a vaga olímpica, a alta temperatura da água, a pressão internacional para o cancelamento da prova, e ainda enfrentando as maiores maratonistas do mundo, Ana Marcela foi implacável e merece muito este título de campeã mundial.