Um gênio, referência, amigo, mestre e inspirador. O jornalismo esportivo do Brasil perdeu um de seus maiores. Hoje, não foi fácil fazer a transmissão do Troféu José Finkel, fiquei realmente muito abalado.

Escolhi o texto do Alberto Murray Neto para reproduzir o sentimento e a admiração que o mundo do esporte tinha por Silvio Lancelotti.

SILVIO LANCELOTTI

As nossas relações familiares têm mais cem anos. O pai do Silvio Lancellotti era atleta do Tietê e corredor das provas de 400 metros rasos e 400 metros com barreiras, as mesmas do meu avô, atleta do rival Espéria. Contava o Silvio que a primeira sapatilha (sapato de pregos) do pai dele foi meu avô quem deu. Eles eram amigos, meu avô e o pai do Silvio. No documentário feito sobre a vida do meu avô, Silvio Lancellotti deu um longo e preciso depoimento. Quem quiser ver, busque no Youtube pelo filme “Padilha, Uma Vida Olímpica”.

Estudei no Colégio Santo Américo, em que Silvio tinha seus filhos. Silvio era responsável por excelentes almoços e jantares oferecidos aos pais, alunos e professores em datas festivas.

Silvio Lancellotti era arquiteto, jornalista, cheff, escritor, intelectual, gênio, generoso e paciente. Há cerca de uma década, nos comunicávamos diariamente (diariamente mesmo). Mesmo que eu estivesse viajando, com fusos horários completamente diferentes, a comunicação era diária.

Silvio revisava meus textos, corrigia, dava broncas quando eu cometia erros banais. Quando redigi a AGENDA POSITIVA PARA O COB, com cerca de cem propostas para mudar de vez os conceitos do esporte olímpico no Brasil, o Mestre revisou, sugeriu, mexeu e, mais importante, estusiamou-se com a possibilidade de levar o nosso Olimpismo para caminhos modernos e éticos.

Havíamos marcado um jantar. No dia ele me disse para deixarmos para depois, porque ele se internaria para exames. No domingo passado me ligou para contar que estava em casa e que “ainda nem havia começado a lutar”.

Certa vez mandei para ele uma pergunta, por whatsapp, já muito tarde da noite. Ele demorou cerca de uma hora para me responder. No fim da resposta ele escreveu “quando for de madrugada, ligue. Não mande mensagens porque eu deixo o celular no silencioso”. Agora não terei com quem falar de madrugada.