Autor • Plínio Rocha
Fonte • Best Swimming

 

A USA Swimming, que controla a natação americana, resolveu proibir o que chama de deck changing. Ou seja, não se pode mais trocar de roupa na arquibancada ou em áreas comuns e públicas em um ginásio, piscina ou complexo aquático.
 
É uma prática comum no esporte, por mais que a entidade não seja a primeira a proibi-la. E, que se diga, ninguém fica de fato pelado na frente de ninguém. É a tal história de se posicionar a toalha da cintura para baixo, para os homens, e em todo o tronco, para as mulheres, para tirar ou colocar a sunga, o maiô, o biquini. São raros os "acidentes" nesses casos, nos quais alguém mostra mais do que devia. Profissionalmente falando, pelo menos.
 
Todo mundo que já nadou de maneira um pouco mais competitiva, digamos assim, já trocou de roupa nessa circunstância. A primeira vez é tão nervosa quanto o momento no qual você sobe numa baliza. Sim, é mais prático e rápido do que procurar um vestiário, por isso você acaba se trocando ali mesmo. Se contorce daqui, se enverga dali, mas acaba concluindo a coisa toda. Dá uma puxada a mais na sunga ou no maiô, acerta os cantos e sai vestido.
 
Não se ganha uma medalha por isso, mas bate um baita dum orgulho quando você completa a sequência com sucesso pela primeira vez. Sei lá, o sujeito se sente capaz de se trocar em público. Um dos momentos mais íntimos de um ser humano, quando ele está despido, e faz isso na frente de dezenas, centenas, quiçá milhares e milhões de pessoas, concluído sem deslize. É um ato de destreza ímpar, há de se reconhecer. A Fina deveria ter um prêmio para isso, "o melhor deck changing da temporada". Entregar troféu e diploma, e o cara deveria discursar, depois, dizendo como foi árduo o treinamento para conseguir fazer o que faz.
 
Todo mundo que está do lado de um "deck changer" fica curioso. Tem gente que torce para a toalha cair. Tem gente que vira o rosto, para não correr o risco de ver o que não deve, o que não quer. Tem gente que conta a experiência com entusiasmo para as outras pessoas, não é todo dia que se quase presencia um nu completo de um desconhecido, um famoso, um sei-lá-quem.
 
E a USA Swimming resolveu banir esse ritual tão sagrado da natação americana. Alguém estava sem fazer algo de útil, num determinado momento, e criou a tal regra. Sem dizer, ainda, qual será a punição aos desinibidos infratores, mas ai deles se resolverem tirar ou colocar a roupa onde não devem, a partir de agora. Repreendidos serão, pois. Americano é cheio de regra e gosta que elas sejam cumpridas. Quando isso não acontece, alguém sempre aparece para restaurar a ordem, custe o que custar.
 
E eu chego à conclusão de que não deve estar acontecendo alguma coisa mais interessante do que isso, nos últimos dias, na natação mundial para que o tema desta coluna seja a proibição do deck changing nos Estados Unidos. Teve o Desafio Raia Rápida, mais algumas aposentadorias, o fato de Missy Franklin ter sido eleita a nadadora do ano também nos Estados Unidos, algumas homenagens. Até Laure Manaudou e Frederick Bousquet comemoraram cinco anos de relacionamento, e eu me ative à tal proibição do deck changing.
 
Vai entender.
 
Plínio Rocha é Editor do Diário de São Paulo e colunista da Best Swimming desde 2007. 
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