Autor • Plínio Rocha
Fonte • Best Swimming

 

Engraçado (não no sentido literal, claro) e escorregadio esse assunto sobre doping, que volta e meia ressurge no noticiário. Nunca vai sumir, na verdade, mas são algumas notícias, especificamente, que assustam, decepcionam, sei lá, use o termo que achar necessário e mais se adeque ao tipo de ligação que você tem com o personagem da vez envolvido.
 
É evidente que o bafafá mais recente, e um dos maiores da história, se não o maior, é esse ao redor de Lance Armstrong. Muita coisa já se disse desde que ele foi definitivamente considerado culpado por ter supostamente (!!!) se dopado ao longo de todos os anos. Há a versão de quem acusa, de quem julga, dele próprio, da União Internacional de Ciclismo, da federação americana, da Nike, de atletas que competiram ao lado e contra ele. Todo mundo falando o que acha que deve, tentando se justificar.
 
O envolvimento, provado ou não, de Armstrong com o doping é de longa data. Desde sempre foi acusado, mas depois da matéria do "L'Equipe", de 2006, a casa começou a cair de vez. Hoje, ao que consta, é difícil depor a favor do cara. As evidências e, principalmente, a postura dele decretaram o veredito que todo mundo levanta hoje. O sujeito é culpado, ponto-final, dizem.
 
E o que se pensa, e aqui a discussão se amplia para todos os esportes, inclusive a natação, é que muita gente sabe o que acontece, desde sempre, e não faz nada. Se Armstrong fez mesmo tudo o que dizem que ele fez, não fez sozinho. Nem teria como. É algo grande demais para imaginar que o cara não tenha precisado de ajuda ao longo das competições, seja para encobrir os fatos ou qualquer outra coisa.
 
E gente grande, diga-se. Há quem ajude na hora das coletas de exames, na hora de divulgá-los, de lidar com a informação que, vez ou outra, tenha vazado.
 
Infelizmente, a natação brasileira tem um histórico de doping negativo. Muito negativo. Levantamentos mostram que o país lidera o ranking mundial dos atletas flagrados nos exames. Claro que, aí, tem de tudo. Tem quem tenha tomado alguma coisa sem saber. Tem quem tenha tido algum tipo de contaminação na amostra. Tem quem tenha tomado alguma coisa sabendo que estava tomando, mas sem envolver terceiros no processo. Mas tem quem tenha entrado num esquema maior, agregando pessoas ao redor.
 
Combater o doping é uma coisa complicada. Mais do que qualquer fiscalização, acredita-se, ou devia se acreditar, pelo menos, na honestidade das pessoas. E se existe a vontade de burlar a regra, num momento ou outro ela vai ser burlada. Não há cerco que evite isso, seja você quem for, tenha conquistado o que conquistou.
 
Quando acontece um escândalo como esse envolvendo o ciclista americano, o que se torce é para que lições sejam tomadas. No geral. Que as autoridades saibam que as investigações têm de abranger mais do que apenas os atletas. Que furos no processo sejam identificados e lacrados, para que, por aquele meio, pelo menos, não se erre de novo. Mas, principalmente, para que aqueles que pensam em se dopar olhem no "exemplo" dado para ver como a coisa pode ficar grande, como alguém pode ser caçado, como uma vida pode mudar radicalmente da noite para o dia, como tudo aquilo que foi conquistado com muito sofrimento (?) pode ser reduzido a nada em horas, minutos, segundos.
 
Só que a coisa continua acontecendo porque as pessoas não levam isso em consideração. Vão dizer que Armstrong é um caso raro, um em um milhão, uma agulha encontrada num palheiro. Que, no geral, o crime compensa, e vão continuar trapaceando e roubando normalmente, sem nenhum pudor, quase nenhum medo. A vida continua, sempre continua, e infelizmente é isso o que é, mesmo.
 
E ponto para o bandido.
 
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Plínio Rocha é editor do Diário de S.Paulo e assina a coluna Na Raia na Best Swimming desde 2007
2 respostas
  1. bruno
    bruno says:

    suplemento contaminado com furosemida em laboratorio de forma cruzada, sem intencao, e impossivel de acontecer!!

  2. Lucimar
    Lucimar says:

    Meu caro Plínio você está coberto de razão mas estamos infelizmente na era que a “honestidade, sem as regras do decoro, transforma-se em grosseria.”Confúcio.

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