Não tem como não concordar. Somos o país que lançou com grande pompa (e justiça) o Plano Pódio para a elite da natação e águas abertas que irá beneficiar os 13 melhores nadadores do país na preparação para os Jogos do Rio 2016 e estamos com o pagamento de mais de 5 mil atletas beneficiados do Bolsa Atleta atrasados em quase um ano.

A discrepância de nosso esporte não pára aí. Somos o país onde clubes como o Minas Tênis Clube e o Pinheiros investem milhões em seus departamentos científicos enquanto dezenas de clubes amargam a falta de piscina, de raias, de aquecimento.

Somos o país onde a Federação Paulista de Desportos Aquáticos reúne cerca de 70% da natação nacional, tem sede própria, programas e eventos de padrão, enquanto que a maioria das federações estaduais são operadas precariamente.

César Cielo “machucou” ao dizer em sua entrevista a Folha de São Paulo que a natação involuiu após o seu ouro de Beijing em 2008. É a pura verdade que dói.

Doeu para mim ir assistir ao Campeonato Maranhense de Natação de 2013. Fazia 15 anos que não tinha a oportunidade de ir ao evento. Antes de me mudar para os Estados Unidos, o Maranhão tinha campeonatos estaduais diferenciados. Um para a categoria mirim e petiz, outro para o infantil e juvenil e um absoluto. Todos com vários dias de disputa, cerca de uma quinzena de clubes e academias, pelo menos 200 atletas em cada um deles. Todos realizados na piscina do Castelinho, um complexo pertencente ao Governo do Estado do Maranhão, composto de uma piscina olímpica, mais uma caixa de saltos, arquibancada coberta.

Pois o Maranhense 2013, juntou tudo. Na mesma competição nadam os mirins, os petizes, o infantil, o juvenil, o júnior (ou o que restou deles), ainda ganhou-se os masters e tudo numa só competição. Em dois dias! Não precisa dizer que a piscina do Castelinho está fechada. O mato cobriu tudo. São seis anos sem poder ser utilizada, para nada.

O esforço dos profissionais, que ainda estão envolvidos com a natação competitiva no Maranhão, é heróico. Restaram só quatro clubes. A Federação é operada da própria residência do presidente, que leva a família para ajudar no evento.

Se formos falar de águas abertas, o Brasil ganhou o título inédito de campeão mundial por equipes em Barcelona e conseguiu concluir um dos piores, mais desorganizados e críticos circuitos nacionais da modalidade. Foram poucas, mas muito poucas das nove provas da temporada que não tiveram erros de grande dimensão. Alguns deles arriscando até a vida dos atletas, comprometendo a modalidade no país e uma quase tragédia.

Enquanto isso, provas de maratonas aquáticas organizadas por empresas reúnem 2, 3 mil pessoas, com transmissão pela TV e grande espaço na mída. O Rei e Rainha do Mar contribuiu muito mais ao esporte nacional do que todo um calendário completo do fracassado Circuito Nacional de Águas Abertas.

O disparate é grande demais. Não tem como ver as cidades do interior de São Paulo investir em trazer equipes completas da capital para representá-las nos Jogos Abertos. Um dinheiro que literalmente é jogado por ralo abaixo. Será que sairia muito mais caro aquecer a piscina da cidade, contratar um treinador, promover o esporte na cidade trazendo saúde e sociabilidade para o cidadão? Ao final destes Jogos Abertos, todos os contratados vão embora, o troféu foi para a prefeitura e na cidade, restou nada.

Acho que já passou da hora para uma reflexão. Uma avaliação a fundo do que temos e o que vem pela frente é determinante para quem ainda vive e trabalha com o esporte competitivo neste país. A discrepância dos valores e situações é tão grande, que a perspectiva não apresenta futuro.

Alex A. Pussieldi, editor chefe da Best Swimming Inc.

6 respostas
  1. Amador
    Amador says:

    Mas qual é a solução para massificar a natação? Trazer as crianças menos abastadas para dentro de clubes ou levar piscinas a espaços públicos? Acredito que a segunda alternativa seja a mais viável, analisando o contexto de nosso país. Construir piscinas públicas com infraestrutura adequada, para crianças carentes pode ser o primeiro passo para essa massificação. Afinal, como é que o boleiro vira jogador profissional? Não é jogando pelada em campos de várzea?
    No caso dos campeonatos do Maranão, um primeiro passo para resolver o problema, seria não votar mais na família Sarney & Cia!!!

  2. Dudu Saquarema
    Dudu Saquarema says:

    Os políticos, em época de eleição, falam que o esporte é uma das saídas para que os jovens não entrem para os caminhos errados. Mas o que vemos, após as eleições, são os políticos entrarem pelos caminhos errados e deixarem de lado os discursos bonitos e salvadores. Conclusão: temos que ignorar os políticos e fazer a nossa parte, buscar mudanças radicais nos eventos, adaptá-los à mídia, para que se tornem atraentes para os patrocinadores e tragam investimentos a curto prazo. O Volei começou com empresas bancando a ideia e hoje é uma potência mundial. Temos que nos unir e debater as mudanças, se cada um colocar as ideias no papel e depois expô-las, sem medo de que sejam copiadas, mas com a felicidade de vê-las executadas, as coisas já começam a tomar forma. Agora temos que pôr mãos à obra e partir para a atitude.

  3. Ricardo Ratto
    Ricardo Ratto says:

    Depois do que disseram os colegas acima, nem preciso dizer mais nada, a não ser expressar toda a minha frustração, depois de um ano olímpico e o Brazil e o Rio de Janeiro sendo “a bola da vez” neste movimento com a aproximação dos Jogos de 2016, depois de ter participado de Londres e ver o enorme sucesso que foi a Maratona Aquática, ver eventos como o Campeonato Brasileiro, que trabalhei duro por mais de 15 anos para implanta-lo em todo o Brasil, com até 16 etapas em alguns anos, dada a motivação de tantas federações em sedia-mas, muitas delas com até 200 nadadores de excelente nível técnico fora os Masters, chegando e ter etapas com mais de 400 atletas, hoje com não mais de 6 etapas, todas elas com pouquíssimos nadadores inscritos e com estrutura e segurança precárias, depois de trabalha por amor à minha modalidade para implantar o Campeonato Estadual de Maratona Aquática com atletas de bom nível técnico e boa estrutura e hoje ver uma competição mambembe e com atletas Masters em sua maioria, sem nenhuma representatividade de nadadores de clubes com bem nível técnico (Vale dizer que este Estadual chegou a revelar o Rodrigo Silveirinha,seleção Brasileira Junior, treinado pelo meu amigo Luís Flavio na época treinador da Djan Madruga e hoje no Botafogo), depois de ver acabar a Travessia dos Fortes e de me ver “alijado” de contribuir para o crescimento da modalidade, seja no âmbito Estadual ou Nacional, de ver acabar a unica etapa do Circuito Mundial que o Brasil sediava em Santos no mês de Janeiro, a Travessia Renata Agondi, quero saber aonde querem levar o esporte que amo.Agradeço ao Pedro Monteiro e ao Luiz Lima o convite de estar contribuindo como Diretor Técnico do Rei e Rainha do Mar, hoje sem duvida o maior, melhor e mais importante evento do país. No Pan eu avisei o que daria errado e não fui ouvido. E ágora para as Olimpíadas a historia se repete….será que mais de 20 anos à serviço da modalidade, dentro e fora do Brasil, 15 campeonatos Brasileiros, 8 Campeonatos Mundiais 3 Sulamericanos e 1 Olimpíada, fora as etapas de circuito Mundial da Fina, Campeonatos Estaduais e toda a ralação de “quebrar a Pedreira” para implantar há mais de 20 anos atrás uma modalidade que não era olímpica, era considerada o “patinho feio” da natação, será que tudo o que aprendi e evento aprendendo não serve para nada? Acho que o Luiz Lima e o Pedro Monteiro pensam que serve….desculpem-me pelo desabafo!

  4. Carlo Monni
    Carlo Monni says:

    Concordo com Dudu Saquarema, quando se há condições satisfatória para a prática do esporte, muitos talentos surgem. Sei que não é uma tarefa fácil, mas precisarmos agir rápido. Sou a favor da educação partilhada com o esporte, como é nos Estados Uniidos, trazer empresas e investidores que invistam neste esporte fantástico chamado NATAÇÃO.

  5. Dudu Saquarema
    Dudu Saquarema says:

    A constatação de que a maioria das Federações está à míngua, enquanto uma ou outra respira aos trancos e barrancos e que toda a natação brasileira migra em direção a dois ou três estados, é no mínimo entristecedor. Está na hora de unir forças e deixar as vaidades de lado, sob pena de a cada dia vermos o nosso esporte mais decadente. As crianças que querem praticar esportes procuram aqueles que remuneram melhor na idade adulta, os amantes já não querem mais saber disso, os pais querem os filhos ricos como os jogadores de futebol, não os querem felizes e sim ricos. Mas, doce ilusão, se soubessem as estatísticas do futebol, nunca tentariam segui-lo. Os esportes não são preparados para que os atletas sejam bem sucedidos, os esportes são imediatistas. Os clubes querem ser campeões hoje, amanhã se pensa no dia de amanhã. Conclusão: se queremos resgatar os esportes, em especial a natação, temos que torná-la atraente, temos que fazer dela uma máquina de marketing, temos que torná-la rentável e promissora financeiramente falando. Não podemos deixar é do jeito que está, acomodados e reféns de dirigentes perpétuos e ineficientes, temos que unir forças e arranjar a solução o mais rápido possível. Como? Massificando o esporte, incentivando sua prática e diminuindo os custos dos pais, fazendo do esporte uma saída para as mazelas do nosso país, mostrando ao praticante que ele pode ter futuro dentro do esporte, que ele pode viver disso. Mas ver um atleta de 16 anos se perder unica e simplesmente porque não ganha nada quando vai a um mundial, quando vai a um sul americano, apenas uniforme, hospedagem e alimentação, enquanto os jogadores de futebol, da mesma idade, recebem quantias surreais para participar de um torneio mundial sub dezesseis. Essas diferenças financeiras, fazem com que o jovem que tem que decidir sua vida aos 15 ou 16 anos, abandone aquilo que não projeta seu futuro. Remunere-se os bons atletas, para que não precisem sair do esporte, organizem competições menos cansativas, reduza-se os valores cobrados dos pais e dos clubes, procurem patrocínios dentro das marcas que enriquecem com o esporte, esses são alguns dos caminhos, mas a arma principal é torná~lo atraente para a mídia. O Rei e Rainha do Mar se adaptou para poder passar na televisão, o Fast Triatlon é adequado aos padrões da mídia, o Volei se enquadra cada vez mais, enquanto nós estamos parados há mais de um século. Os nossos ídolos (Cielo, Thiago) não são garotos propagando do esporte, são garotos propaganda por causa do esporte, não fazem propaganda do nosso esporte, fazem propaganda de bancos, supermercados e etc. São mal utilizados e quase nunca estão nas competições nacionais, ou nos clubes arregimentando novos praticantes. Ex-atletas tem que se virar depois que acabam suas carreiras, pois são pouquíssimo aproveitados, por exemplo num projeto nacional de divulgação. É bom que abramos os olhos sob pena de ver os campeonatos brasileiros irem pelo mesmo caminho, como foi o Junior de verão, no RJ. Vamos buscar a união.

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