Durante algum tempo, mantive uma certa teoria na cabeça. A avaliação era de que o Flamengo fez mal a Mariana Brochado, antes de ela se aposentar das piscinas.

Não “mal” no sentido direto da palavra. A menina pode ter tido os problemas que teve por lá. Pagar com a ajuda do patrocinador pessoal para que a piscina fosse quente, por exemplo. Mas sempre fez o que fez por vontade própria. Nunca coagida ou pressionada.

Mas Mariana nadava sozinha no Flamengo. Caía na água para os treinos e não tinha quem acompanhar, na raia ao lado. Chegava, se alongava, conversava com o técnico e fazia o treino que tinha de fazer. Depois, se trocava e voltava para casa.

Ponto-final.

Enquanto isso, Pinheiros, Minas e Unisanta, principalmente, mantinham equipes numerosas. Recheadas de integrantes da seleção. Integrantes que Mariana encontrava, claro, quando representava o país nas competições internacionais.

Mas que seriam essenciais ao dia a dia dela. Para que se mantivesse evoluindo e, principalmente, não se sentisse entediada.

Numa conversa com ela, na época, disse o que pensava. Mariana sorriu e baixou a cabeça. Até sabia que a tentativa seria válida. Propostas, ela sempre teve. Mas o apego ao Flamengo e à rotina que mantinha no Rio de Janeiro falaram mais alto.

Poucos anos depois, desmotivada depois de não se classificar para o Pan-Americano do Rio, em 2007, acabou abandonado a carreira. Cedo demais, há quem diga. Mas o talento não conseguiu bater de frente com as obrigações do dia a dia e à realidade difícil do clube carioca.

Mas por que a história, o caro internauta vai se perguntar?

Porque é com bons olhos que dá para enxergar essa mudança de Felipe França, que largou o Pinheiros e foi para o Corinthians. É mais um louco do bando, como dizem no clube do parque São Jorge.

A parte técnica, que fique claro, não se compara à situação que Brochado encontrou no Flamengo, lá para 2006, 2007, 2008. O Pinheiros virou referência entre os peitistas do país, depois que o técnico Ari Silva fez um trabalho marcante por lá.

Mas o que pode fazer bem ao ex-campeão mundial é, justamente, a mudança de ares. Vai treinar com gente diferente. Vai ter companheiros novos. Vai ser uma referência, até, em meio à jovem equipe que o Corinthians tem, que vem ganhando título atrás de título no cenário nacional das categorias mais jovens.

França é talentoso e forte. Muito forte. Vive às turras com o peso, todo mundo sabe. Emagrece, depois engorda de novo. Tem de lidar com a complicada matemática que mostra que se ele ficar “leve” demais, vai perder força. Mas, ao mesmo tempo, “forte” demais não funciona em um esporte como a natação.

Mas é indiscutível que pode ser um dos caras da seleção brasileira na Olimpíada do Rio, em 2016. E até lá, também, claro, porque muita água vai passar embaixo da ponte.

Que o Corinthians faça bem a Felipe França, sujeito de caráter excepcional. Mudar, de vez em quando, é a melhor coisa a se fazer. Areja a cabeça, renova os pensamentos. E a esperança. E sem esperança, meu amigo, como já disse o poeta, não há vida.

Plinio Rocha

Plínio Rocha é editor do Diário de S.Paulo e assina a coluna Na Raia na Best Swimming desde 2007

2 respostas
  1. Evandro Cabral
    Evandro Cabral says:

    Estamos sempre com o Felipe, aonde ele estiver…”nossa ficou como o hino do Grêmio, kkk ” mas é pura verdade…aonde estiver a família Cabral estará com ele…e a reportagem… o autor atingiu um ponto forte e correto…Mariana não é o único caso do esporte tupiniquim…mas as tristezas são em todas áreas…os jovens precisam mudar a política neste pais…abraço…ETC

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