Lance Armstrong não é só o maior caso de doping da história do esporte mundial, mas também e principalmente a prova de que o sistema é falho, corrupto e impreciso.

WADA, USADA, ICU, COI todos sucumbiram a capacidade de identificar um atleta que brilhou como nunca durante quase uma década utilizando diferentes formas de substâncias proibidas.

O que assusta e assusta como ele mesmo disse na entrevista é de que o sistema de doping não foi criado por Armstrong, muito menos apenas ele usufrui desta artimanha, o problema é geral e mundial.

O ciclismo, ao qual eu classificaria como o esporte mais sujo do mundo, está prestes a ser eliminado dos Jogos Olímpicos. O número de casos, a falta de controle e principalmente a permissividade da UCI deixam a comunidade esportiva descrente de que isso possa ser resolvido a curto prazo. Ao final, os justos pagam pelos pecadores.

Lembro bem de uma frase do treinador americano Mike Bottom de que “somos culpados até prova em contrário”, e esta é a verdade sobre o doping.

Se Lance Armstrong foi capaz de correr e vencer tudo dopado de 1998 a 2005 quantos outros grandes atletas usufruiram disso e também viraram heróis quando na verdade são outros vilões nesta história que virou drama.

O australiano Michael Klim bateu recorde em 1998 ao ganhar seis medalhas de ouro no Mundial de Perth. Quem garante que ele não fez a mesma coisa? E o corredor americano Michael Johnson quando bateu o fantástico recorde mundial dos 400 metros no ano seguinte, seria outro caso. Será que Alex Popov quando bateu o recorde mundial dos 50 livre com 21:64 meses antes da Olimpíada de 2000 estava limpo? Será que o nosso time de volei masculino campeão da Liga Mundial pela primeira vez em 2001, campeão mundial em 2002, e duplo campeão em 2003 na Liga e na Copa do Mundo também não faria parte de um esquema de múltiplo doping organizado e patrocinado por empresas interessadas no marketing e projeção mundial. Até mesmo Ian Thorpe que foi dominante exatamente nestes anos de glória de Lance Armstrong, seu primeiro recorde mundial foi em 1999 e suas últimas medalhas olímpicas em 2004.

Armstrong por pior que tenha sido para o esporte ele nos ajudou em uma coisa: o sistema é falho! O movimento que produz, prescreve, distribui e vende as drogas é muito maior, poderoso e lucrativo do que o outro que pesquisa, examina, controla e pune. A verdade é que estamos ficando cada vez mais para trás, e o doping correndo solto longe de nós e da verdade.

Verdade que acho passou longe da entrevista reveladora de Lance Armstrong. Não acredito que ele tenha voltado de forma limpa como alegou. Não haveria sentido para isso. Só acreditarei quando ele revelar os nomes, o sistema, o esquema, as pessoas que prescreveram, venderam, distribuiram e principalmente pagaram por todo este esquema. Armstrong é um mentiroso que um dia era herói, filantropista e exemplo mundial, para acordar no maior escândalo da história de nosso esporte.

Uma livraria australiana anunciou que vai retirar os livros de Armstrong das estantes de biografia e dos livros de esporte para serem colocados na seção de ficção. A história de Armstrong deixou de ser exemplo e modelo para virar uma tragédia e decepção para todos nós amantes do esporte.

E o medo que fica é saber quantos outros “sujos” continuam sendo tratados como heróis neste sistema falido do controle anti-doping. E continuaremos a ser todos o que somos: “culpados até prova em contrário”!

Alex Pussieldi, editor chefe da Best Swimming Inc.

2 respostas
  1. Alexandre Assunção
    Alexandre Assunção says:

    Acredito que o doping só vai acabar (?) no dia em que as grandes empresas que “patrocinam os dopados” também forem punidas. Ou alguém duvida que os patrocinadores não sabiam do doping de Arminstrong?
    É muita hipocrisia para pouca honestidade.

  2. Lucimar
    Lucimar says:

    Ou naquele velho chavão até o” juízo final”(Mt 5,12;2 Tm 4,8).Aqui se faz , pode demorar, paga-se.

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