Diana Nyad era uma universitária de 18 anos quando saltou de paraquedas de uma janela do quarto andar do alojamento estudantil, em 1967. Foi a primeira vez que ela sobreviveu a um desafio com potencial suicida, apesar de acabar expulsa da Universidade de Emory, na Geórgia (Estados Unidos). Quase meio século depois, outra proeza garante o lugar dela na história. Desde ontem, ela é a primeira pessoa a nadar de Cuba aos EUA sem uma gaiola antitubarões. Desta vez, a ousadia não pode ser atribuída à juventude, pois a atleta tem 64 anos.

Diana Nyad, aos 64 anos, tornou-se nesta segunda-feira a primeira pessoa a atravessar o estreito da Flórida a partir de Cuba sem uma proteção contra tubarões, obtendo sucesso em sua quinta tentativa.

No início da tarde de ontem, dia 2 de setembro, ela chegou a Key West, a cidade mais ao sul do país do Tio Sam, 53 horas depois de partir de Havana. Foram 177km de nado em mar aberto, enfrentando a ameaça de hipotermia à noite e o calor do verão caribenho de dia. Desprovida também de nadadeiras, começou a ser fotografada e aplaudida por admiradores antes mesmo de tocar os pés na areia.

O tempo estimado inicialmente era de até três dias para completar a travessia, mas Nyad se beneficiou de uma corrente favorável, disseram seus tripulantes.

Quando os microfones se aproximaram, Diana mostrou-se atordoada. A pele exibia marcas de insolação. Os lábios estavam inchados, feridos pelo uso de uma máscara contra águas-vivas. “Eu tenho três mensagens”, avisou, com a dicção prejudicada. “A primeira é que não devemos desistir jamais. A segunda, você nunca é velho demais para perseguir seu sonho. E a terceira: isso parece ser um esporte solitário, mas é um time”, enumerou. Na sequência, foi levada de ambulância para exames em um hospital.

Apesar de soar como clichê, cada uma das afirmações tinha uma motivação clara. Diana dissera, uma semana antes, que seria a última tentativa dela de atravessar o Estreito da Flórida, depois de quatro incursões malsucedidas. A primeira deu-se em 1978, quando a esportista de 29 anos acumulava feitos notáveis em desafios de longa distância. As outras ocorreram após o aniversário de 60 anos. Correntezas, queimaduras feitas por águas-vivas e até um ataque de asma frustraram as missões anteriores.

Por fim, a menção à conquista coletiva foi em reconhecimento aos amigos que a acompanharam em pequenos barcos. Um dispositivo eletrônico levado por eles manteve longe os tubarões. Era fundamental dispensar o uso de gaiola metálica contra os predadores, pois esse equipamento precisa ser rebocado e acaba por conferir um impulso extra ao nadador.

Duas décadas atrás, o repelente eletrônico poderia ter se tornado um artigo disputadíssmo em Cuba. Com o fim da União Soviética e o embargo comercial dos EUA, a ilha afundou em uma crise de desabastecimento. O aumento da pobreza levou o regime castrista a permitir a saída de compatriotas pelo mar. Somente em 1994, mais de 31 mil cubanos aventuraram-se no oceano rumo à meca capitalista. Muitas deles, em embarcações precárias, enfrentando em botes e balsas as condições que Diana desafiou com o corpo.

O sonho da nadadora era antigo. Ela tinha 8 anos quando decidiu que queria atravessar o estreito. Em 1957, menos de dois anos antes da revolução, Cuba não era um problema para a Casa Branca. Ao contrário, funcionava com um satélite dos EUA, e a ditadura de Fulgêncio Batista constituía um ambiente favorável aos negócios dos vizinhos ricos.

Nos anos seguintes, vieram o êxito da guerrilha liderada por Fidel Castro, a mudança de regime, a aliança com os soviéticos, a crise dos mísseis, os efeitos do embargo econômico e o ocaso e a queda do bloco socialista, a conduzirem Cuba a um crescente isolamento econômico. Nesse tempo, Diana constituiu carreira no esporte, bateu recordes, atingiu a maturidade, tornou-se escritora e passou a dar palestras motivacionais.

A maior potência econômica e militar do globo continua tratando o regime de Havana como inimigo, apesar do fim da Guerra Fria. Pressões da comunidade cubana sobre parlamentares dos EUA, sobretudo da Flórida, fazem tabu da possibilidade de encerrar o bloqueio.

Com apoiadores dos dois lados do estreito, Diana lançou-se no Atlântico ciente da controvérsia política que seu desafio evoca. Na capital caribenha, o amigo José Miguel Diaz Escrich liderou a organização que deu suporte ao início da jornada da nadadora, no sábado. Ontem, ele exultava: “Mais do que um feito atlético, ela quer enviar uma mensagem de paz, amor, alegria e amizade entre os povos dos Estados Unidos e de Cuba”, disse José à imprensa norte-americana. Ele e Diana desejam que a mensagem chegue a Washington e a Havana.

Com informações do Reuters e do Correio Braziliense.

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