Há algumas semanas foi disputado aquele que é o mais conhecido e celebrado campeonato das categorias inferiores da natação brasileira. Durante o evento, você deve ter escutado pelo menos um zilhão de vezes “o celeiro da natação brasileira”, “berço dos campeões”, “a geração 2016”, outros mais conscientes “a geração 2020” e outros ainda mais modestos “a geração 2024”.
Infelizmente não é matemática. Esporte de competição é uma combinação de fatores, muitas vezes sem termos controle dos mesmos O que se faz, é desenvolver um programa , e com os ajustes levar os atletas até o alto nível.
Ter um nadador de categoria menor de destaque, campeão, recordista e grande futuro , nem sempre representa o sucesso que se espera lá na frente. Não é matemática. Não há garantia de sucesso.
Mococa já nos revelou inúmeros destaques. Dos 23 nadadores que o Brasil enviou para o Mundial de Barcelona, 18 estiveram em Mococa e 17 deles subiram ao pódio. Um levantamento desde 1996, indica que já tivemos nadadores que no ano seguinte a Mococa estavam no time olímpico (Thiago Pereira e Joanna Maranhão) e outros que levaram 11 anos depois de sua participação em Mococa para estarem na equipe olímpica (Felipe Lima).
Todos os anos são centenas de garotos que passam pelo Chico Piscina e o número que conseguirá chegar ao alto nível é bem menor do que isso. Não há a garantia de um caminho já trilhado para o sucesso. O que se faz durante este caminho é incrementar as possibilidades e vias. As condições de nossa natação, de nossa estrutura e também de nossa cultura, combinados com a determinação dos atletas e suas famílias é que vão levar estes jovens ao alto nível.
O fim dos trajes trouxe uma revitalização da natação de alta performance mundial. Tivemos campeões olímpicos de 21 anos nos dois últimos Jogos e campeãs olímpicas de 15-16 anos. Com os trajes isso não acontecia. A juventude voltou a brilhar no alto nível pois incrementou a necessidade do trabalho e treinamento duro um pouco ofuscados pelas vantagens tecnológicas dos trajes de alta performance.
Uma mudança no cenário internacional também indica que é cada vez mais alto o índice de atletas de alta performance a nível mundial terem tido carreiras de destaque nas categorias inferiores. Fenômenos como o de Fernando Scherer, o Xuxa, que era um modesto garoto de 14 anos que nadava os 100 livre para 1:02 é cada vez mais raro, para não dizer inexistente.
Mesmo assim, por incrível que pareça, o campeão das categorias inferiores de hoje pode nem estar na final de amanhã. Existem exemplos suficientes para comprovar de que o caminho é longo e a determinação é fundamental para ser percorrido. Isso aumenta a responsabilidade de que o trabalho esteja planejado, comprometido e em busca de uma performance futura, e não somente de uma demanda imediata.
Repensar a natação de base e o processo competitivo e formativo é determinante. Incentivar e promover a natação escolar, expandindo e popularizando nosso esporte, são meios que serão determinantes para a construção de um processo olímpico.
Recentemente escutei de três grandes personalidades do esporte brasileiro (Gustavo Kuerten, Bernardinho e César Cielo) a respeito da realidade nacional. Os três foram diretos e enfáticos que precisamos investir na base. Só identificar-los já mostra que são pessoas mais do que habilitadas a falar sobre o assunto de forma consciente e autoridade.
O sucesso no futuro pode não ser garantido, mas a determinação e o trabalho para se chegar até lá é o que vale. Isso me lembra a frase que estampava a camisa do Davie Nadadores Swim Team desde a sua fundação: “Success is not a destination, is a journey”.
Alex A. Pussieldi, editor chefe da Best Swimming Inc.
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