Não tem revezamento que desperte mais interesse, ansiedade e expectativa do que esse, pelo menos para nós brasileiros. Pelo que se viu no passado recente, e olhando para nossos talentos, o revezamento 4×100 livre masculino faz nossos olhos brilharem quando o assunto é Rio 2016.
A Best Swimming, reconheceu isso, e prepara, a partir de hoje, uma série de artigos que vão colocar você a par de tudo que gira nas expectativas, preparação, ranking, técnicas e estratégias da prova, assim como de seus participantes. Não poderíamos começar diferente a não ser falando da rica história deste evento.
4X100 livre masculino: Projeto medalha para o Brasil no Rio 2016
Parte I – A história que faz o evento tão especial e difícil
Foi em Sydney, na Austrália em 2000, a última vez que o Brasil chegou a final olímpica do 4×100 livre masculino. Mais que isso, chegamos ao pódio, terminando num terceiro lugar histórico.
O Brasil vinha numa fase muito boa na prova. Havíamos sido bi campeões mundiais em piscina curta, onde detínhamos o recorde mundial da prova. Na longa o retrospecto também era bom. No ano anterior, batemos os americanos por quase dois segundos no Pan Americano de Winninpeg no Canadá com expressivos 3:17.18 que terminou o ano de 1999 como o quarto melhor tempo do mundo.
A equipe era boa, e a briga por entrar nela bem acirrada. Apenas Fernando Scherer e Gustavo Borges eram peças garantidas, por mérito, e também por decreto. A CBDA costumava divulgar critérios para os Mundiais já informando que os dois eram sempre pré-convocados.
Assim, a briga pelas cadeiras era incessante. No Mundial de Curta de 93 em Palma de Mallorca, na Espanha, o primeiro grande título deste revezamento, o ouro veio com Fernando Scherer, André Teixeira, José Carlos Souza Júnior e Gustavo Borges. No bronze do Mundial de Longa de 94 em Roma, Xuxa abriu, entrou Teófilo Ferreira, André Teixeira permaneceu no grupo e Gustavo fechou. O bi mundial de curta em 95 manteve Xuxa abrindo, André Cordeiro e Alexandre Massura no meio, Gustavo fechando.
O primeiro grande desafio olímpico deste grupo veio em 96 em Atlanta. Um honroso quarto lugar a pouco menos de um segundo atrás da Alemanha. O time era o mesmo do Mundial de Praia de Copacabana: Xuxa, Chupeta (André Cordeiro), Massura e Gustavo.
A vitória, e principalmente o tempo, do Pan de 99 animou os brasileiros. A expectativa para Sydney era boa. Americanos e australianos, os grandes favoritos iriam travar a sua “batalha das guitarras” como ficou conhecida a disputa. Tudo isso porque Gary Hall Jr. disse que iria fazer o som da sua guitarra soar as vésperas da prova e teve de aguentar a gozação dos australianos que venceram no toque e celebraram “tocando suas guitarras” no bloco.
A Holanda era o terceiro tempo, campeões europeus de 1999 com 3:16.27, três segundos a frente da Rússia vice campeã. Para um bom resultado, um pouco de sorte nunca faz mal a ninguém. Nas eliminatórias do 4×100 livre em Sydney, os holandeses foram desclassificados. A troca do primeiro nadador, Mark Veens, para o segundo Dennis Rijnbeek foi de -0.04. O suficiente para deixar a equipe de fora da final. Eles haviam feito o terceiro tempo das eliminatórias e teriam a presença de Peter van den Hoogenband.
Sem a Holanda, o Brasil entrou para a final com o quinto tempo. Nadamos com o formato tradicional da equipe, Xuxa abriu, o baiano Edvaldo Valério foi o segundo, Carlos Jayme, o mais jovem da equipe, então com 20 anos, em terceiro, e Gustavo Borges fechou. Fizeram 3:19.29. Na nossa frente, fora americanos e australianos, a Alemanha com 3:18.70 e a Itália 3:18.86. A Rússia ficou em sexto 3:19.70 e para a final teria Alex Popov, poupado nas eliminatórias.
A comissão técnica do Brasil fez uma reunião e junto com os atletas decidiu fazer algo diferente. Uma ordem e uma disposição em busca da medalha. Sem os holandeses, era a nossa chance.
Xuxa iria abrir novamente, ele gostava, nadador destemido e sempre disposto, ficou marcado em sua carreira por abrir revezamentos. A diferença estava na posição de Gustavo Borges, nosso melhor nadador naquele momento. A decisão foi abrir com tudo, um revezamento “suicida”. Xuxa abre, Gustavo é segundo. Carlos Jayme seria o terceiro e nas mãos de Edvaldo Valério a responsabilidade de fechar.
A final foi aquilo que se esperava, duas provas distintas. Uma, a batalha das guitarras, e a outra pelo disputado bronze. Xuxa abriu em quinto lugar com 49.79. Gustavo, a surpresa do Brasil para a final, nadou para 48.61, colocou o Brasil em terceiro. Alemanha e Itália viraram os primeiros 200 metros empatados em quarto lugar, apenas 29 centésimos atrás do Brasil.
Carlos Jayme nadou pela primeira vez para 49, fez 49.88, entregou em quarto lugar, atrás da Itália por 11 centésimos. Coube ao Valério Bala fechar o nosso revezamento. E que responsabilidade para o baiano. Nadou para 49.12 batendo o italiano Simone Cercato que fechou para 49.46 e sendo atacado de perto pelo alemão Stefan Herbst que fechou com 48.88.
Os australianos faziam a sua festa de guitarras e o Brasil era só alegria pelo bronze com 3:17.40, 37 centésimos a frente da Alemanha e 45 centésimos a frente dos italianos.
Foi a consagração de um revezamento que ficou marcado na memória da natação brasileira. Foi o útimo revezamento brasileiro masculino em uma final olímpica. Até as mulheres chegaram a final depois disso e os homens nunca mais passaram das eliminatórias.
Na história olímpica, o 4×100 livre existe desde 1964. São 11 Olimpíadas e o Brasil nadou as últimas nove delas, quatro finais, a última no distante 2000 e a inesquecível medalha de bronze. Tradição mesmo é dos americanos, 11 Olimpíadas, oito medalhas de ouro. Derrotas em 2000 para a Austrália, em 2004 para a África do Sul e na última em Londres para a França. Nestas apenas em 2004 os americanos não foram prata, terminando em terceiro lugar, atrás da Holanda de Hoogenband.
O retrospecto do 4×100 livre masculino nos Mundiais de Longa não é muito diferente para o Brasil. Estivemos em seis finais, e somente uma medalha, o bronze de 1994. Os americanos, como nas Olimpíadas, também tem o domínio. Em 15 disputas acumulam 11 vitórias.
Nosso melhor resultado desde o bronze de 94 veio no Mundial de 2009 em Roma. Tivemos César Cielo abrindo para recorde de campeonato nos 100 livre e terminamos na quarta colocação.
O revezamento 4×100 livre masculino do Brasil tem tradição mesmo é nos Jogos Pan Americanos. Em 13 edições, vencemos cinco vezes e as últimas quatro de forma consecutiva.
Todo mundo sabe que Pan é Pan, Mundial e Olimpíada é outra história, e o retrospecto não esconde isso. Entretanto, resultados recentes indicam uma nova fase para o 4×100 livre do Brasil, capaz de re-editar as melhores performances e voltar a subir no pódio.
Isso você vai ver na segunda parte da nossa série:
4X100 livre masculino: Projeto medalha para o Brasil no Rio 2016
Parte II – Como está o ranking e as chances do Brasil
Reveja a emoção da medalha histórica do Brasil na narração de Galvão Bueno na TV Globo.
Edvaldo fez milagre nesse revezamento!! Parabéns aos grandes atletas, emoção na narração ficou a flor da pele. Parabéns pelo ótimo texto.