Depois das notícias recentes de doping de 3 nadadores, incluindo o brasileiro João Luiz Junior, não tive dúvidas que esse mês o assunto seria sobre o tema. Acredito que ninguém melhor para comentar do assunto do que alguém que já passou por isso. Como atleta não há nada pior do que receber um telefonema avisando que seu teste anti-doping deu positivo. O sentimento é o pior possível. No meu caso, tive a “sorte” de ter meus companheiros ao meu lado, facilitando todo o processo desde o painel na CBDA até o dia do julgamento em Xangai, na China. Porém, naquela época eu já percebia a falta de informação de muitos sobre o assunto. Alguns me perguntavam, brincando, qual era a “bomba” que eu havia tomado, sem saber que a substância que foi acusada no teste não era nenhum agente anabolizante nem hormonal. Muitos me questionaram e questionarão a integridade do João mesmo sabendo que a substância em si – o diurético – não causa nenhum aumento na performance, porém a quantidade da substância encontrada no teste será levada em consideração. Mas o que mais interessa para o atleta é o que a corte do esporte pensará do caso, ela quem avalia se o atleta será penalizado ou não, o que não evita o julgamento muitas vezes equivocado das pessoas no meio esportivo e fora dele.
Tenho certeza que a maioria da população não tem idéia do que é doping. A origem da palavra “doping” é atribuída a palavra Holandesa “doop” que é um suco viciante de opium usada pelos atletas da Grécia antiga nos primeiros Jogos Olímpicos em 776 AC. No começo do século 20 os atletas tomavam uma mistura alcoólica com estricnina (usado atualmente para matar ratos), heroína, cocaína e cafeína. Nos anos 60, atletas começaram a usar anfetaminas que eram usadas por soldados durante a guerra. Já na década de 70, os esteróides começaram a ser testados entre atletas. O primeiro grande caso aconteceu em 1988 nas Olimpíadas de Seul, onde Ben Johnson foi suspenso por ter testado positivo para Stanzolol, um esteróide anabolizante durante os jogos. Mas foi na década de 90 que o doping começou a repercutir com mais força. O maior caso de doping sem sombra de dúvida é o do ciclista Lance Armstrong, que após ganhar sete Tours de France, admitiu publicamente que usou drogas proibidas para melhorar sua performance.
É preciso saber que para dar positivo em um teste anti-doping o atleta não precisa fazer transfusão de sangue ou injetar hormônios, basta ele ir a farmácia com dor de cabeça e tomar uma simples Neosaldina, por exemplo, que já terá seu teste positivo. Numa drágea de Neosaldina, assim como em vários medicamentos utilizados pelas pessoas não-atletas existem substâncias listadas como proibidas pela WADA (world anti-doping agency). No caso da Neosaldina ela contém 30mg isometepteno, um estimulante capaz de colocar qualquer atleta na lista de atletas dopados.
Todos atletas devem então, estar cientes das mais de 192 substâncias ilegais no mundo esportivo ao tomar qualquer medicação ou suplemento. Porém, seria mais fácil para os atletas se todos os suplementos esportivos fossem obrigados a passar por testes de qualidade e informassem no rótulo as substâncias que contém. No meu ponto de vista, a própria WADA poderia instalar um programa para estabelecer esse controle. Penso ser muito mais fácil acusar o atleta por sua ignorância e ingenuidade do que tomar uma ação mais pró ativa por parte das organizações responsáveis pelo esporte. Se tivéssemos um padrão, regras claras e maior controle de qualidade para os suplementos, com certeza o teste adverso seria menor podendo ter uma punição mais severa.
Com a intervenção opinga WADA em suplementos pelo mundo, acredito que muitos atletas deixariam de passar pelo processo cansativo que passei. As intermináveis semanas antes do julgamento e as longas horas no tribunal ficaram marcadas na minha vida e certamente me fizeram amadurecer. Porém, é uma experiência que não desejaria à ninguém. Não se deixe enganar acreditando que isso nunca possa acontecer com você, pois acredite, poderá! Portanto, fique atento no que você consome e não acredite em suplementos vindos de farmácias de manipulação, pois é a sua carreira que está em jogo.
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