O título é de outro editorial, publicado aqui na Best Swimming em setembro do ano passado. Fala, basicamente da mesma coisa, mas em uma lição cada vez mais difícil de ser aprendida. Leia aqui a versão anterior: link.

A Seleção Júnior ou Juvenil, em qualquer modalidade esportiva, só tem um objetivo: fomentar o esporte nas categorias menores incrementando a oportunidade para chegar com estes nadadores lá em cima, no alto nível. Seleção Júnior não é, e nunca vai ser, ter o objetivo final de vencer, ganhar medalhas e bater recordes. Não é.

Ter um nadador júnior batendo recordes, fazendo resultados incríveis e expressivos é ótimo, mas tudo fica sem sentido se este nadador não conseguir chegar lá na frente.

Este ano, voltamos a cometer os mesmos erros com relação a este tópico. Temos nadadores que estiveram (e brilharam) no Multinations há duas semanas na Europa, semana passada estavam competindo no Maria Lenk e esta semana vão estar no Sul-Americano em Lima, no Perú.

São três semanas consecutivas de competição em alto nível, mais viagens, diferença de fuso, temperatura, perda de treinos e ausência na escola. Sim, escola é importante!

Sob a ótica de formação dos atletas, e por mais que tenham bom nível, são todos nadadores em desenvolvimento, estamos “massacrando-os”. O abuso e a falta de consciência é gritante.

Brandonn Almeida talvez seja um dos melhores valores já revelados na natação brasileira nos últimos anos. No fundo, é ele, sem dúvida. Sair de um Maria Lenk onde foi o segundo nadador mais eficiente (isso quer dizer mais pontos marcados, ou seja, muitas provas) e ter quebrado um recorde brasileiro, e agora viajar para um Sul-Americano Juvenil.

Pior mesmo vai ser no meio do ano, quando Brandonn vai estar no Pan Americano de Toronto, Mundial de Kazan e Mundial de Singapura. Três competições de padrão internacional de primeira linha e mais de um mês de viagens e enfrentando os melhores nadadores do mundo.

O mesmo iria acontecer com a jovem Rafaela Raurich, isso mesmo, 14 aninhos, para a sensacional nadadora do Curitibano, que está lá no Sul-Americano também, e que no apagar das luzes perdeu a vaga do revezamento 4×200 livre para Joanna Maranhão que abriu o revezamento do Pinheiros em marca lhe tirando a vaga.

Durante a competição, até comentei com o treinador de Rafaela, Waldemyr Saldanha, que a perda da vaga tinha sido uma coisa boa, e não uma perda como poderia parecer. Rafa vai brilhar no Mundial de Singapura e tem muita coisa pela frente na natação competitiva.

É extremamente difícil, desgastante e, muitas vezes, inapropriado, para um treinador externar que seria melhor para um atleta ficar de fora de uma seleção brasileira. Isso pode nos custar até o próprio atleta.

A verdade é que não faltam exemplos. Tivemos nadadores das seleções júniors amargando seus finais de temporada no ano passado, convivendo com lesões, overtraining e até mesmo gente nova, muito nova fora da escola, como se isso fosse algo normal.
O que falta é um direcionamento por parte da CBDA. O que falta é determinar que um atleta não pode defender mais de uma seleção brasileira no mesmo semestre, permitindo o seu desenvolvimento, não afetando seus treinamentos e respeitando o seu período escolar.

No ano passado, Henrique Martins, aos 23 anos de idade, chegou a sua primeira seleção brasileira absoluta. Foram quatro anos fora de qualquer equipe nacional depois de duas a três convocações por ano na sua fase de formação entre Sul-Americanos e Multinations. A pergunta que fica é quantos daqueles nadadores que estiveram na sua última equipe júnior, na Copa Latina de 2010, conseguiram se manter no esporte e chegar a seleção novamente?

O tema é polêmico. Há dois anos apresento como forma de sugestão ao Conselho Técnico Nacional da CBDA uma proposta de preservar os atletas, evitando esta super posição de eventos e competições. Pelo jeito, ainda não é consenso, mas os problemas todo mundo viu no final de 2014.

4 respostas
  1. Marcel Chaves
    Marcel Chaves says:

    Coach,
    Infelizmente a seleção brasileira, representada pelos atletas do Norte/Nordeste, na Copa do Pacífico fica sem o apoio da CBDA, onde cada atleta tem que tirar grana do próprio bolso pra bancar a viagem, a CBDA apenas envia os uniformes para os atletas. Muitos atletas que estão na seleção de base nadaram a Copa do Pacífico. Uns com muito e outros com quase nada.

  2. Baruel
    Baruel says:

    ÓTIMO TEXTO ALEX!
    Mais reflexões como essa devem ser apresentadas para alertar muitos técnicos e, principalmente, pais que acabam transformando o esporte numa “doença” na vida dos jovens.

  3. nadador
    nadador says:

    Infelizmente para muitos atletas quanto mais seleção melhor. Escola nem me fale… na categoria juvenil e júnior, infelizmente aqui no Brasil ela já fica em último plano.
    O pior… depois de tantas competições, overtrainning e lesões, esses atletas acabam largando o esporte e ai percebem que algumas decisões foram erradas. Estamos numa safra muito boa de atletas juvenis e juniores, vamos ver qtos chegarão a 2020?

  4. Mário swim
    Mário swim says:

    Muito bom o post, coach.
    Gostaria d ver um só sobre overtranning na natação, pois encontro vários d outros esportes, mas n do nosso, e sei q VC é a pessoa q tem propriedade no assunto, além do mais acho q venho sofrendo muito nessa temporada por esse motivo. Vlw

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