Os organizadores do Rio 2016 vão ter muito que discutir na avaliação das duas provas do Teste Evento das Águas Abertas realizado neste final de semana. Um batalhão de 150 colaboradores, 60 funcionários e 90 voluntários esteve a frente das duas provas de 10 quilômetros que movimentaram a praia de Copacabana.

Entre as dificuldades de organização, planejamento e logística, o maior desafio do Rio 2016 continua sendo as condições naturais de se realizar a prova de águas abertas no mar. Na história curta da modalidade nos Jogos Olímpicos, o Rio 2016 e a praia de Copacabana serão o primeiro palco olímpico para a disputa da prova em mar aberto. Em 2008, nos Jogos de Beijing, uma raia de remo foi utilizada e em 2012, nos Jogos de Londres, a prova foi no Hyde Park, um lago no meio da cidade londrina.

Provas de águas abertas realizadas no mar acontecem todo ano no Circuito da Copa do Mundo. Porém, as exigências da organização e patrocinadores para a prova olímpica exige uma demanda muito maior.

Em Campeonatos Mundiais, por duas vezes quando a modalidade foi realizada em mar tivemos sérios problemas com a mãe natureza. Em 2007, no Mundial de Melbourne, os ventos da praia de St. Kilda atrapalharam e muito a disputa. A prova mais atingida foi os 25 quilômetros feminino que teve de ser paralizada para ser completada no dia seguinte. Foi a única vez que isso aconteceu em Campeonatos Mundiais.

Em 2009, no Mundial de Roma, a praia de Ostia também ofereceu inúmeras dificuldades aos nadadores adiando a competição por dois dias.

Copacapabana pode ser diferente, ou não. Este fim de semana provou isso com duas provas totalmente diferentes mesmo que disputadas com 24 horas de intervalo. A prova masculina muito mais mexida, mar mais agitado e temperatura de água menor. As mulheres no domingo foram beneficiadas pelas correntes mais calmas, a baixa da maré e o aumento da temperatura.

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Nada disso é garantia de que acontecerá em 2016. Com o mar, não se mexe, e não se sabe o que vai acontecer. Abaixo relacionamos alguns pontos a serem trabalhados e erros encontrados na organização do evento que a Best Swimming acompanhou:

* A organização, mesmo descontados os problemas com as condições naturais, deixou a desejar. Atletas e treinadores reclamaram de falta de comunição, logística e preparação adequada.

* As bóias precisam ser uniformizadas. Tínhamos bóias brancas, amarelas, laranjas ao logo do percurso. Os nadadores apenas identificavam as bóias obrigatórias pelo seu formato e não pela cor. Precisa haver esta uniformização além da eliminação de bóias brancas, praticamente impossíveis de serem visualizadas em mar aberto.

* A largada foi um dos pontos mais controversos. No masculino, a balsa ficou a 80 metros da praia, no domingo para as mulheres, a distância aumentou para 200 metros. Segundo os organizadores, um pier será construído para a largada olímpica e que também servirá como local de alimentação para os atletas. A balsa atrapalhou demais os homens quando entrou para dentro do percurso.

* Uma das maiores críticas foi a parte de alimentação para os atletas. Feita em barcos que, pelas ondas, desalinharam e por algumas vezes os atletas passavam sem ser alimentados. O problema foi maior no sábado, mas também voltou a acontecer no domingo. Caso este pier seja construído no próximo ano a tendência é de que isso não volte a acontecer.

* Eram muitas embarcações na água. Foram 42, para 25 atletas um tanto exagerado. Dificultando visualização e estratégia dos atletas. Pela segurança perfeito, mas para uma competição deste nível, desnecessária.

* Não há como controlar o mar, muito menos a temperatura da água. No início da semana a água chegou a estar 14 graus. No sábado 18,5, no domingo informações diversas entre 18 a 20 graus. O que aumenta a temperatura do mar não são os raios solares, mas a entrada das correntes. A temperatura esteve abaixo da média para esta época e poderia até ter a prova cancelada. O mínimo, pelas regras da FINA, é 16 graus.

* As raias de 50 metros que marcam a chegada se romperam no sábado. No domingo, foram colocadas mais frouxas e ficaram afunilando o que poderia prejudicar um atleta.

* O pórtico de passagem intermediária da prova, bem como o pórtico de chegada, precisam estar fixos e alinhados com a bóia de entrada paralela. Com o movimento do mar viravam de posição constantemente. Tal variação de posição pode favorecer um atleta e prejudicar outro. A organização vai ter de encontrar uma forma de manter tal estrutura fixa e que não prejudique a ninguém.

* Teste Evento também envolvem outras ações na praia como segurança e isolamento. Na largada da prova masculina, tivemos alguns banhistas que chegaram a sair nadando na praia acompanhando, mesmo que por alguns metros os nadadores que iniciavam a prova. Um melhor isolamento da praia será necessário.

* Equipes estrangeiras também reclamaram das condições de treinamento pré-competição que foram oferecidas. Enquanto o Parque Aquático Maria Lenk estava vazio, as equipes foram mandadas para o treinamento na Escola Naval e lá encontraram a piscina de 50 metros isolada e sem poder ser usada, suja e sem tratamento.

* A Best Swimming também sofreu com a falta de organização do evento. Fizemos o encaminhamento de credenciamento conforme o site oficial da competição determinava. Nem recebemos a resposta da organização, não havia a distribuição da mesma no local e mesmo assim tivemos acesso na área de competição sem qualquer problema. Um evento como Jogos Olímpicos vai necessitar uma atenção muito maior, cuidados especiais, e um tratamento mais especializado.

O Teste Evento de uma forma geral serviu para isso. Provou a instabilidade do maior desafio a ser enfrentado são as condições naturais. Porém também mostrou que dificuldades se enfrentam com preparação e que muitas vezes, pelo menos neste final de semana, não aconteceu.

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