Lúcido, mas com algumas problemas de saúde, a última internação foi no ano passado com problemas respiratórios. O deslocamento é por cadeira de rodas, mesmo assim, nos finais de semana é visto com a família no Country Club no Rio de Janeiro. Este é Jean Marie Faustin Godefrid de Havelange, o João Havelange, completando neste domingo 100 anos de idade.

Longe da mídia, não dá mais entrevistas, mas sua presença é esperada para a abertura dos Jogos Olímpicos do Rio 2016. Foi figura forte atuante na busca dos votos há sete anos na campanha para ganhar a sede do Comitê Olímpico Internacional. Era o seu presente de centenário que chega neste domingo.

Nascido no Rio de Janeiro, 8 de maio de 1916, João Havelange é filho de um imigrante belga, Faustin Havelange, especialista em armas e que se instalou no bairro das Laranjeiras para nunca mais sair. Havelange se destacou no esporte e nos estudos.

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Como nadador, defendeu a Seleção Brasileira na segunda edição do Campeonato Sul-Americano de 1934 em Buenos Aires, na Argentina. Nadou as provas de 400 e 800 livre sem ganhar medalhas, mas trouxe duas de prata nos revezamentos 4×100 e 4×200 livre batidos pela Argentina, vencedora daquela competição.

Aos 20 anos, Havelange disputou a sua primeira Olimpíada. Era um daquela equipe de 16 nadadores, 11 homens e cinco mulheres que foi aos Jogos de 1936 em Berlim. Havelange nadou as provas de 400 metros nado livre marcando 5:31.5 e nos 1500 livre com 22:54.1, nas duas parando nas eliminatórias.

Havelange nos Jogos de 1936

Havelange nos Jogos de 1936

Na volta dos Jogos, e com o advento das Guerras, Havelange se dedicou aos estudos. Aos 24 anos, concluía o curso de advocacia e mesmo assim se mantinha ativo como jogador de polo aquático do Fluminense. Em 51, Havelange foi medalha de prata com a Seleção Brasileira na primeira edição dos Jogos Pan Americanos em Buenos Aires, na Argentina.

No ano seguinte, aos 36 anos de idade, era o mais veterano jogador da equipe brasileira que foi aos Jogos de Helsinque. Presente em todos os seis jogos da equipe, foram cinco derrotas e apenas uma vitória contra Portugal garantindo o 13o lugar na competição.

A carreira de atleta se encerrava ali, mas nascia o Havelange dirigente. Foi o primeiro Presidente da Federação Metropolitana de Esportes Aquáticos do Rio de Janeiro, ajudou a fundar o Comitê Olímpico Brasileiro em 1955 e depois se tornou membro vitalício. Já na Olimpíada seguinte a sua aposentadoria, 1956 em Melbourne, João Havelange era o chefe de missão do Brasil. Em 1958, Havelange assumia a Presidência da CBD, Confederação Brasileira de Desportos. Ficou no cargo até 1973, quando saiu para assumir a FIFA, onde se tornou o sétimo presidente, e com o segundo mandato mais longo ficando até 1998.

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Havelange foi reconhecido pelo International Swimming Hall of Fame em 1996 recebendo o “Gold Medallion”,maior premiação da entidade. Prêmios e honrarias é o que não falta na carreira de Havelange. São mais de 34 condecorações, é cidadão honorário de 33 países, 150 títulos e honrarias esportivas e mais 129 diplomas e honras de contribuição ao esporte ao redor do planeta.

João Havelange é o nome oficial do Estádio Engenhão construído em 2007 para os Jogos Pan Americanos e que vai sediar o atletismo nos Jogos Olímpicos do Rio 2016. Também é o nome do Estádio do Parque do Sabiá em Uberlândia e um moderno centro olímpico em Trinidad & Tobago.

Todos os seus anos de trabalho, conquistas e honrarias foram abaladas nos recentes anos. Em 1999, o jornal holandês De Telegraaf foi o primeiro a trazer acusações de corrupção contra Havelange. Envolviam presentes caros e benefícios ganhos na campanha da cidade de Amsterdam para sediar os Jogos Olímpicos de 1992. Depois disso, um envolvimento com a agência internacional ISL que intermediava negócios com a FINA e COI. Um livro do jornalista inglês Andrew Jennings trouxe a tona mais detalhes e que levaram a Havelange pagar de volta uma alta quantia a FINA em negócios feitos de forma irregular.

Havelange optou por deixar a posição do Comitê Olímpico Internacional em 2011 evitando uma possível investigação e fez o mesmo em 2013 no cargo da FINA. Sua posição de Presidente Honorário foi retirada em ação do Presidente Joseph Blatter, suiço que lhe sucedeu na entidade.

No ano passado, a CBDA através de seu Presidente Coaracy Nunes organizou uma homenagem a João Havelange na abertura do Troféu Maria Lenk no Fluminense. Sua presença era esperada, mas por questões de saúde ele não pode comparecer. A intenção de Havelange e sua família é poder estar no Maracanã na abertura dos Jogos do Rio 2016 no próximo dia 5 de agosto.