Time, talvez esta tenha sido a melhor experiência da Seleção Brasileira Olímpica em seu treinamento de aclimatação no Centro de Treinamento Paralímpico em São Paulo. O training camp pré-Jogos é importantíssimo. O Brasil chegou a estudar fazer fora, Los Angeles, pelo fuso horário similar ao que iremos enfrentar na natação olímpica, ou no Nordeste, onde belos parque aquáticos foram inaugurados recentemente (Salvador, João Pessoa).
A opção por São Paulo foi ótima. Conveniente, de fácil acesso e instalações de primeira linha. O esporte paralímpico está muito a frente do olímpico neste aspecto. O lugar é simplesmente espetacular. Bem localizado, de acesso controlado, instalações de primeira linha, ainda próximo do local de preparação física e também do hotel utilizado. Não poderia ter sido melhor.
Na coletiva da equipe de domingo, onde haviam mais treinadores do que atletas na mesa (7 X 3), uma oportunidade e tanto para os profissionais envolvidos na programação e planejamento deste ciclo. Companheiro de revista Swim Channel, Patrick Winkler, e que vai comentar natação pela Band nestes Jogos, fez uma das melhores perguntas do encontro. Ao treinador chefe da equipe masculina, Alberto Pinto da Silva, Winkler citou que esta era a maior seleção olímpica da história (33 atletas), a maior comissão técnica já formada, tudo foi oferecido para este ciclo olímpico e que o resultado fosse o melhor possível. Com todas estas condições, e não faltando quase nada, podemos esperar pelo melhor resultado de todos os tempos?
Tão boa quanto a pergunta, foi a resposta de Albertinho. Ele concordou, jamais tivemos as condições que foram oferecidas e disfrutadas neste ciclo, mas foram quatro anos. Antes disso, a natação brasileira teve outros 80 anos em diferentes condições. Albertinho é comedido, controlado e mede muito bem as palavras. Chegou a pedir ajuda aos repórteres na questão da preservação dos nadadores para o revezamento 4×100 livre masculino.
Nicolas Oliveira, que numa coletiva da CBDA anunciou que não iria nadar a prova dos 200 livre, agora nem fala disso. João de Lucca, único que se manteve desde o início firme com a disposição de nadar a prova não mudou de idéia. Os 200 metros nado livre acontecem no segundo dia de competição, dia 7 de agosto. Eliminatórias e semifinal da prova no mesmo dia do 4×100 livre. Nas eliminatórias, pelo programa horário divulgado, são 49 minutos. Na final, é bem mais, uma hora e 43 minutos.
Albertinho tem grandes esperanças neste revezamento. O 4×100 livre masculino do Brasil tem história, tem espírito. O time treinou junto em Los Angeles em junho e o grupo está muito focado. Um dos nadadores será poupado nas eliminatórias para que o reserva Gabriel Silva Santos possa nadar. Pela nova regra, ele TEM de nadar.
Marcelo Chierighini, Nicolas Oliveira, João de Lucca, Matheus Santana e Gabriel Silva Santos pela ordem dos tempos é o grupo do 4×100 livre. Eles conhecem as dificuldades e sabem os adversários. França e Austrália estão a frente, depois o Brasil vem junto com Estados Unidos, Itália e Rússia. Destes cinco, saem os três medalhistas da prova.
Thiago Pereira assumiu a condição de capitão. Foi ele o mais incisivo na palavra Time. É sua quarta Olimpíada, mais maduro, Thiago tem apenas uma missão nestes Jogos de nadar os 200 medley. No dia anterior, fez uma tomada de tempo com todo ar de competição. Aqueceu, colocou o traje, concentrou. Com o placar acionado nadou os 100 borboleta para 52.47 depois de passar com 24.30. Ninguém no time conseguiu ser tão rápido nesta prova na atual temporada. Thiago se candidatou de forma oficial a uma possível vaga para o 4×100 medley. Nem Thiago, muito menos Albertinho falam nada sobre isso. O que se sabe é que o tempo foi feito e todo mundo viu.
Mesmo sendo a melhor marca do ano para um integrante deste time, não é o suficiente para a equipe disputar uma medalha nestes Jogos. Todos sabem que Guilherme Guido está na boca do gol para quebrar (finalmente) a barreira dos 53 segundos nos costas, os dois nadadores de peito podem nadar para um 58 baixo e Marcelo Chierighini fechará num expressivo 47 baixo. O problema é o borboleta. Precisamos de um 51 baixo, ou talvez um 50 alto. Sem isso, nem Thiago, nem Henrique Martins, nem Marcos Macedo, nem Kaio Márcio, conseguirá resolver nosso problema. Todos sabem disso.
Bruno Fratus estava diferente na entrevista. Mais descontraído, mais alegre, mais leve. Insistiu que não tem dores nem lesão nas costas. Conhecido por suas respostas ríspidas, Fratus segue decidido no objetivo da medalha, e não esconde isso.
Fernando Vanzella falou em nome da natação feminina. Explicou o porque do silêncio de Etiene Medeiros. Ainda existe o risco de uma possível apelação, e mesmo com o prazo se esgotando, já parece improvável que FINA ou WADA possam contestar a absolvição por unanimidade no Tribunal do STJD no Brasil. A orientação do silêncio é do advogado, Marcelo Franklin. O mesmo vem fazendo um trabalho muito bom e elogiável, assim, o que o “advogado diz, a gente faz”.
Fora da coletiva, se sabe que Etiene Medeiros soube lidar com tudo isso. Ligou um “mode Off” e não fez outra coisa a não ser se concentrar nos treinos. Primeiro, quando estava suspensa temporariamente, sozinha, para depois integrada ao time treinando normalmente. Etiene fez belos treinos e marcas impressionantes. Os 50 livre seguem sendo a sua melhor prova. Este colunista vem falando isso desde o Open no ano passado. A prova dos 50 de Etiene “está redonda”. Etiene é a chance real de uma final da natação feminina nestes Jogos. Para isso, não está afastada a possibilidade dela sair dos 100 livre.
Os revezamentos femininos seguem com a intenção de chegar a final. Tanto o 4×100 livre que deu um show no Pan de Toronto, como o 4×200 livre que impressiona pelos tempos do grupo, ambos combinados podem estar entre os oito melhores das eliminatórias. Trocas de revezamento foram treinadas durante a semana e até em diferentes variações pelo grupo.
Também se falou sobre a não confirmação da FINA de Natália de Luccas e Jhennifer Conceição Alves respectivamente nas provas de 200 costas e 100 peito. As duas foram inscritas pela CBDA e COB e a FINA não confirmou suas presenças. O Brasil segue lutando para ter as duas nas provas e vai tentar até hoje, dia em que se realiza o congresso técnico. Detalhe que entre todos os nadadores “relay only” listados pela FINA no start list inicial, nenhum aparece nas provas nadando com marcas B. Ou seja, talvez, diferente do que se pensa pode ter sido um erro da FINA, é uma norma para todos. Assim, nadadores para revezamento, são apenas para revezamentos, mesmo que tenham marcas B em algumas provas. O Brasil vai tentar até o último instante, embora a tendência seja as duas nadarem apenas o 4×100 medley.
Thiago Pereira tomou a responsabilidade pelo grupo. Agradeceu a todos os técnicos, e até mencionou Ricardo de Moura, figura importante em todo este processo. Albertinho não gosta de estabelecer metas. Sabe que o recorde de finais (6 em 2008) e de medalhas (3 em 1996) pode ser batido, mas prefere não divulgar isso.
Nas palavras de Thiago e nas respostas de Albertinho, se viu um espírito que jamais havia sido mencionado na história desta equipe. A expectativa para o Rio 2016 é grande, mas a principal conclusão que se tirou do encontro é de que as coisas devem ser bem mais fáceis para o próximo ciclo e a nova geração. Thiago chegou a mencionar que deste grupo saem pelo menos dois ou três novos ídolos e esperanças para 2020.
Antes disso, estes 33 nadadores caem na piscina a partir de sábado. Na briga por medalhas, por finais, por melhores marcas e com um espírito de equipe jamais reunido antes.
Coach, não sei pq, mas sinto que o Brandonn pode surpreender nos 400.
Muito boa matéria, parabéns Coach!