Noite do dia 16 de setembro de 2000, manhã cedo em Brasília, oito países vão para a final do revezamento 4×100 metros nado livre. Nas eliminatórias, 23 países caíram na água, dois deles, Holanda e Uzbequistão foram desclassificados. O Brasil classificou com o quinto tempo para a final marcando 3:19.29.
Time USA, grandes favoritos, e com a provocação de Gary Hall Jr. dias antes, anunciaram que iriam “amassar como guitarras”, uma expressão americana, fizeram o melhor tempo da manhã com 3:15.43. Os australianos quase dois segundos atrás 3:17.37. Para a final, as duas equipes trouxeram duas mudanças cada uma.
O Brasil veio com o mesmo time, apenas mudou a ordem. Nas eliminatórias, Fernando Scherer abriu com 50.16, Edvaldo Valério foi segundo com 49.26, Carlos Jayme em terceiro com 50.10 e Gustavo Borges fechou para 49.77. Na Vila Olímpica, uma reunião entre os atletas e a comissão técnica decidiu pela mudança mantendo Xuxa abrindo, colocando Gustavo em segundo e o Bala para fechar. A equipe sabia que com a desclassificação do time holandês de Pieter van den Hoogenband aumentavam a chance de uma medalha de bronze. Todos sabiam que Estados Unidos e Austrália brigavam pelas duas primeiras colocações.
Na prova, Michael Klim abriu para a Austrália e de cara, novo recorde mundial com 48.18. O então jovem Anthony Ervin, com apenas 20 anos, deixou o time americano em segundo com 48.89. Xuxa abriu melhor que nas eliminatórias, fez 49.79, o Brasil era quinto.
No segundo parcial, Neil Walker diminui a diferença se aproximando de Chris Fydler, mas seguia Austrália na frente. Ao final do primeiro nadador era 71 centésimos, agora 54.
A outra briga, pelo bronze, o Brasil estava em quarto. Gustavo Borges fez o parcial de 48.61, ganhamos uma posição, mas era tudo apertado contra Alemanha, Itália, Rússia e Suécia.
Na disputa pelo ouro, Jason Lezak tirou um pouco mais de vantagem sobre Ashley Callus, a diferença pró Austrália era 25 centésimos. Gary Hall Jr. fechava para o time americano, Ian Thorpe para os australianos.
Carlos Jayme, o terceiro nadador do Brasil fez 49.88, o Brasil iria para o último nadador Edvaldo Valério Bala pulando em quinto lugar.
As câmeras e atenção ficava para a briga de Hall e Thorpe, o americano até se aproximou bastante na virada dos 50 metros, mas não conseguiu conter o final de prova do australiano. Vitória australiana com novo recorde mundial 3:13.67, 19 centésimos a frente dos Estados Unidos quebrando o recorde americano com 3:13.86.
Valério ainda virou em quinto, mas foi crescendo e o final de prova incrível, numa frequência muito alta fechou como ninguém e com 49.12 conseguiu colocar o Brasil em terceiro, 3:17.40, 37 centésimos a frente da Alemanha, quarta colocada.
Os australianos faziam suas guitarras serem tocadas, os americanos cabisbaixos aguentavam a provocação adversária, e o Brasil, comemorava como nunca a medalha de bronze.
Especial “Smash the aussies like guitars” da TV australiana relata a prova.
Transmissão da TV Globo, narração de Galvão Bueno da prova.
Coisas que eu me recordo deste episódio da natação brasileira:
1) Xuxa vinha fazendo um ciclo olímpico incrível. ganhou do Popov nos 50 livre em 1998 no Goodwiil Games, onde também nadou pra baixo de 49″ nos 100m, foi arrasador no Pan de 99, tudo pra ser medalhista nas provas individuais em Sidney, mas contundiu gravemente o pé, escorregando na escada de sua casa nos EUA dias antes dos Jogos. Quase ficou de fora. Após o Rev lembro de ele falar na TV que teve dificuldade pra impulsionar a parede na virada e pra fazer a saída.
2) Acaba a prova. O Brasil conquista o bronze heroico e ai surge uma informação de que a equipe brasileira poderia ser desclassificada porque o Edvaldo Valério havia nadado com um maiô que tinha a marca de uma empresa que o patrocinava gravada no peito. Foram minutos de suspense até a confirmação do bronze!
Foi uma medalha suada, diria até inesperada pelas condições físicas do Xuxa e o altíssimo nível dos 100 livre naquela edição dos Jogos. Muito bom recordar!