Na década de 70, mais precisamente de 1974 até 1978, a TV americana lançou uma série que fez sucesso por lá e também no Brasil. “O homem dos 6 milhões de dólares” era a história de um ciborgue, Steve Austin, interpretado pelo ator Lee Majors, um astronauta que sofreu um acidente e teve reconstituído o seu olho, um dos braços e as pernas.

O olho biônico tinha a capacidade de visão 20 vezes a mais do que o normal, o braço uma força imensa e as pernas capazes de correr até 90 quilômetros por hora. O filme e a série foram baseados no livro “Cyborg” de Martin Caldin em 1972 e foi sucesso por todo o mundo.

“O homem de seis milhões de dólares” é o sonho de consumo de um super atleta que seria capaz de performances incríveis em resultados inacreditáveis. A Best Swimming revive a série e monta um ciborgue constituído de qualidades e habilidades de alguns dos melhores nadadores do mundo. Escolhemos um item em cada um dos selecionados para montar o que seria um atleta perfeito. Entre neste mundo de fantasia e veja como seria montar um super nadador e imaginar que resultados seria capaz de fazer.

A velocidade de reação de Ruta Meilutyte. Não lembro, realmente não lembro da prova em que a lituana não seja a primeira a perder o contato com o bloco de partida. Uma capacidade incrível de reagir ao comando e em habilidade que se observa desde quando se sagrou campeã olímpica dos 100 metros peito nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012. Durante uma clínica que deu para nadadores cariocas no ano passado, no Rio de Janeiro, Meilutyte não soube explicar a origem de sua habilidade. “Vai ver que é um dom” disse ela.

A saída de bloco de Cameron van der Burgh. Ao anunciar a sua aposentadoria aos 30 anos de idade após vencer as provas de 50 e 100 metros peito no Mundial de Piscina Curta em Hangzhou, na China, em dezembro, van der Burgh deixa uma bela carreira de 36 medalhas internacionais entre Mundiais, Olimpíadas, Commonwealth Games, Jogos da África. Um título olímpico e seis vezes campeão mundial, van der Burgh ainda foi recordista mundial das duas provas. Tudo isso está registrado e será para sempre lembrado. Como também a sua fantástica capacidade de saída do bloco de partida. Um movimento explosivo, entrada perfeita na água e uma filipina que lhe colocou sempre na frente no início de suas provas.

O submerso e transição de Caeleb Dressel. Ele tem apenas 22 anos de idade e já é o maior vencedor da história dos Mundiais de Longa em uma edição, igualado com Michael Phelps com sete ouros, mas o único a ganhar três ouros num mesmo dia. Somados a isso, Dressel também é o maior nadador de jardas da história. Tem os recordes das provas de 50 e 100 jardas nado livre, 100 jardas borboleta e dos 200 medley. Já teve a marca dos 100 peito e em todas elas conseguiu desenvolver uma incrível técnica de pernada submersa, mas principalmente de transição. Ou seja, potente o suficiente para desenvolver a pernada e a sensibilidade adequada para fazer a transição e submergir transferindo toda a velocidade aplicada.

A pegada nas braçadas de Florent Manaudou. Desde o final da década de 90 que os principais nadadores do mundo transferiram a força da pegada nas braçadas para a parte inicial. Fred Bousquet foi um dos pioneiros, no estilo que hoje se configura numa importância muito maior na pegada inicial em relação ao nado que dominou até os anos 80, onde a finalização era o mais importante. O aposentado Florent Manaudou desenvolveu um nado perfeito, pegadas fortes e encaixadas. Tanto nos 50, como nos 100 livre, nesta com mais dificuldade, Manaudou se consagrou pela pegada forte e precisa. Ainda é do francês o recorde mundial dos 50 metros nado livre em piscina curta desde o Mundial de 2014, em Doha, no Catar.

O final de prova de Shiwen Ye. A jovem chinesa Shiwen Ye apareceu (e desapareceu) para o mundo ao vencer um incrível 400 metros medley nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012. Batendo o recorde mundial da prova (4:28.43), então com 16 anos de idade, Ye conseguiu a proeza de fechar os últimos 100 metros para 58.68, um tempo que na prova masculina não seria melhor apenas do que Ryan Lochte que fechou para 58.13. Ainda assim, nos últimos 50 metros Ye marcou 28.95, parcial final melhor até do que o campeão olímpico Lochte 29.13. O recorde mundial de Shiwen Ye já foi batido, Katinka Hosszu fez isso nos Jogos Olímpicos do Rio 2016, mas este parcial final, nunca foi sequer aproximado.

A perna de Natalie Coughlin. O lituano Gennadijus Sokolovas é apontado como um dos maiores biomecânicos da natação mundial. Dono do maior arcevo de análises de nadadores de alta performance do mundo, Sokolovas encontrou apenas uma nadadora em milhares de análises com a capacidade de potência de pernada para cima ou para baixo na mesma intensidade. A quase totalidade dos nadadores bate a pernada de crawl e borboleta mais forte para baixo, a de costas para cima. Natalie Coughlin faz na mesma intensidade nas duas direções. E com uma potência incrível. Não é a toa que ela é uma das nadadoras americanas com o maior número de medalhas olímpicas, 12 conquistadas em quatro participações olímpicas.

Capacidade de verbalização de Cesar Cielo. Esta habilidade é muito mais apreciada e entendida pelos treinadores. Saber como o nadador se sentiu numa prova, ter a sensibilidade de identificar o que fez e o que precisa fazer é das mais importantes sensações que se espera de um atleta de alto nível. Quem consegue verbalizar este sentimento, ainda melhor! E Cielo faz, melhor do que ninguém. Faz uma leitura perfeita dos movimentos, das coisas certas e erradas que executa. Uma de suas maiores qualidades que se observa há muito tempo.

KAZAN, RUSSIA – AUGUST 03: Cesar Cielo of Brazil prepares to compete in the Men’s 50m Butterfly final on day ten of the 16th FINA World Championships at the Kazan Arena on August 3, 2015 in Kazan, Russia. (Photo by Clive Rose/Getty Images)

O fôlego de Katinka Hosszu. Nadar duas provas no mesmo dia, ou até três, tem alguns nadadores que conseguem. Porém, nenhum atleta do mundo, jamais conseguiu fazer o que a Dama de Ferro tem feito. As vezes quatro, cinco provas no mesmo dia, algumas chegando perto da exaustão e morrendo no final. Alguns minutos depois, faz uma performance de padrão mundial. É verdade que desde o ano passado, Katinka não conseguiu repetir com a mesma qualidade, mas esta capacidade física e mental, é unica, é dela, é da Dama de Ferro.

A longevidade de Nicholas Santos. Desde 2015, no Mundial de Kazan, Nicholas Santos já era o mais velho medalhista em Campeonatos Mundiais. Ampliou seu recorde de longevidade no Mundial de Budapeste em 2017 e ainda mais no Mundial de Curta em Hangzhou, em dezembro. No de Hangzhou, ainda se tornou no mais velho campeão mundial da história. Nicholas é um exemplo, uma referência, um modelo do esporte e que tem provado através de muito esforço e cuidados especiais como um atleta consegue ampliar a sua capacidade de se manter ativo e melhorando. Não é a toa que se sagrou também no mais velho recordista mundial da história com os 21.75 feitos na Copa do Mundo de Budapeste, em outubro.

A chegada e competitividade de Chad Le Clos. O sul-africano é um bicho, de treino, de dedicação. E tão bom quanto treina, também compete. Le Clos tem outras tantas boas características, sua saída, sua velocidade inicial, mas acima de tudo o seu final de prova, mesmo estando atrás, não existe prova perdida para Le Clos. Quem vai conseguir esquecer aquele final contra Michael Phelps e o título dos 200 borboleta na Olimpíada de Londres?

A simpatia e alegria de Missy Franklin. Atleta também precisa lidar com a imprensa, com os fãs, e lidar com tudo isso com maestria. Nestes últimos anos, fomos agraciados pela beleza, simpatia e alegria de Missy Franklin. Disparado, a mais concorrida, amada e idolatrada atleta a ser entrevistada ao final de suas provas, seja quando vencia e batia seus recordes mundiais, ou até mesmo quando não conseguia nem chegar perto de suas melhores marcas. Recentemente aposentada, vai fazer falta.

Já pensou reunir estes 11 super poderes destes 11 super atletas? Já imaginou o super nadador biônico que conseguimos montar? Com certeza, tanta qualidade reunida superaria os 7 milhões de dólares do homem biônico e encantaria o mundo muito mais do que Steve Austin.

3 respostas
  1. Rafael Oliveira
    Rafael Oliveira says:

    Coach, a comparação com a série ficou muito legal, Parabéns! Gostei das escolhas do super nadador, minhas sugestões seriam: saída de bloco (Roland Schoeman, explosão pura e muito técnica), viradas e submerso (Michael Phelps, era incrível como ele conseguia manter um padrão mesmo no final de prova), mentalidade de campeão (Alexander Popov, conseguir se manter tantos anos no topo como se fosse algo natural) e estratégia de prova (Daniel Gyurta, ninguém conseguia dosar uma prova tão bem quanto ele).

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