Quando vim para o Rio de Janeiro, setembro de 2014, queria morar perto do trabalho e principalmente do Parque Olímpico. A volta para o Brasil era para me dedicar e trabalhar na cobertura do Rio 2016. Escolhi um apartamento na frente do Parque, na cara do gol!

Assim, depois de visitar vários, a escolha foi por um condomínio construído em 2009, mesmo ano que o Brasil foi escolhido como sede olímpica. São quatro torres, quinze andares cada uma, dez apartamentos por andar, 600 apartamentos e, quando está cheio, aqui vivem duas mil pessoas.

O local é ótimo. Uma piscina imensa, na verdade um parque aquático, com bangalôs no estilo Bora Bora, e nos padrões da Barra da Tijuca, onde sala de musculação, sauna, bar, restaurante, salão de festas, salão de beleza, cinema, padaria, boliche, quadras de tênis, campos de futebol, é quase um resort.

A localização privilegiada e a oferta dos dólares mudou por completo a geografia do prédio. Praticamente não conheço e não vejo mais meus vizinhos. Foram substituídos por chineses, coreanos, japoneses, britânicos, americanos, canadenses, australianos e por aí vai. Segundo dados da adminstração, são mais de 500 apartamentos alugados. Ou seja 80%!

Os proprietários ficaram bastante satisfeitos com a oportunidade olímpica. Embolsaram entre 25 a 45 mil reais pelas três semanas olímpicas. Os novos moradores pagaram muito mais. A média chega a mil dólares por dia!

Um vizinho se especializou no agenciamento e alugou cerca de 20 apartamentos e me confessou: “como seria bom ter Olimpíada todo ano”.

Aqui estão os pais da Seleção Americana de natação. Entrei no elevador com o pai de Jimmy Feigen que abriu o revezamento 4×100 livre dos Estados Unidos. O pai é cadeirante e me contou que estava adorando. No bloco dois está Joseph Condorelli, é americano, mas seu filho Santo Condorelli que também é americano, mas nada pelo Canadá. Condorelli também esteve aqui no Troféu Maria Lenk sendo que desta vez paga o dobro do valor de abril.

No bloco três, Kate Bohl, mulher do treinador australiano Michael Bohl veio torcer pela filha, Georgia. Trouxe duas amigas e a outra filha. Diferente dos australianos que criticaram insistentemente a Vila Olímpica, diz que adorou o condomínio.

O time de rúgby da Grã-Bretanha tomou um sarrafo na final contra Fiji por 43 a 7. De noite, os jogadores não estavam cabisbaixos. Foi aqui no Bora Bora que afogaram as mágoas e encheram a cara no bar.

No restaurante, a sempre simpática dona Regina, dona do local, me comenta que os chineses são os mais mal-educados e os japoneses os mais gentis. Tão pertos e tão longe. Bandeiras foram colocadas nas janelas. Montenegro, Itália, Rússia, e muitas outras na sacada. Coloquei a minha do Brasil, mas não demorou um dia para receber uma ligação da administração proibindo. “Fere o código do condomínio”. E o espírito olímpico?

Entrar no elevador é uma aventura. Um dia você tem dizer “oi”, no outro dia “hello”, no seguinte “hola” e em alguns é só um movimento de cabeça. Tem feito frio no Rio de Janeiro, principalmente para os padrões cariocas. Os gringos não se intimidam e volta e meia tem um nadando nas águas geladas da piscina.

A segurança foi incrementada. Moradores tem de usar credencial e o acesso de carro é limitadíssimo. Viver aos arredores do Parque Olímpico tem inúmeras vantagens, mas muitas desvantagens também. Sair e chegar daqui é difícil, muitas vezes quase impossível. Ainda bem que para ir ao Parque Olímpico é só atravessar a rua.

Os Jogos Olímpicos nos trouxeram uma nova perspectiva. De viver e de ganhar dinheiro. Como disse o meu vizinho, como seria bom ter Olimpíada todo ano.

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