Autor • Alex Pussieldi direto de Shanghai
Fonte • Best Swimming

AFP

A barrigada mais famosa de Shanghai

 

Ryan Lochte, Michael Phelps, Anastasia Zueva, Rebecca Soni, César Cielo, estes todos nós conhecemos, mas existem outras centenas de nomes por aqui que jamais escutamos. O Campeonato Mundial dos Esportes Aquáticos é uma festa de congraçamento dos povos.

 

A FINA faz ao máximo para garantir que a maioria de seus filiados estejam presentes a disputa. Shanghai 2012 bateu o recorde de participação com 181 países dos 202 filiados. Assistir as primeiras séries das provas, principalmente em provas de 50 metros, é ver um festival de desconhecidos onde mais do que nunca o importante é competir.

 

Uma coisa precisa ser dita. O trabalho de popularização e assistência aos países mais pobres elevou o nível dos atletas. Já não temos nadadores do perfil de Eric Moussambani, atleta da Guinea Equatorial que fez “sucesso” nos Jogos Olímpicos de 2000 com 1:52 nos 100 metros livre ganhando toda a atenção da mídia internacional.

 

O próprio Moussambani foi um dos que disfrutou do trabalho feito pela FINA e melhorou muito sua natação. Ele não esteve nos Jogos Olímpicos de 2004 em Atenas mas as informações é de que baixou sua marca sensivelmente para os 57 segundos.

 

Uma prova de que o nível já é outro basta dizer que o último colocado na prova dos 100 livre foi Niyonkuru Janvier de Burundi com 1:16:00, 36 segundos mais veloz que Moussambani em 2000.

 

Entre os heróis desconhecidos não dá para deixar de citar o drama do nadador Sofyan Elgidi da Líbia. Enquanto seu país vive uma guerra civil e sangrentos conflitos entre rebeldes e as tropas do líder Kadaffi, Elgidi não conseguiu qualquer apoio para viajar. Nem sua federação fez a sua inscrição. A sorte é ter vivido durante alguns anos no Canadá e ter o passaporte canadense. Senão, nem o visto seria possível.

 

Elgidi nadou a prova dos 100 borboleta e terminou na 57a colocação com 58:38. Todo o sacrifício valeu a pena na sua estréia em Campeonatos Mundiais.

 

Hamza Labeid da República Islâmica da Mauritânia nem pode estrear. Ao cair do bloco na saída dos 50 livre todo o esforço deste jovem de 19 anos em participar do seu primeiro Campeonato Mundial foi por água abaixo.

 

Labeid nem esperou o sinal de partida do árbitro e deu uma barrigada a frente de todos. Foi devidamente desclassificado, o único em toda a competição. Deixou a piscina meio sem entender o que estava acontecendo, mas o seu Mundial havia acabado sem começar.

 

Outro que ficou famoso neste Mundial, ou melhor, já era famoso também por não nadar é o iraniano Mohammed Alirezai. Por força do acaso ele sempre cai nas séries onde há um nadador de Israel. Aconteceu assim em Beijing nos Jogos Olímpicos, no Mundial de Roma e agora aqui em Shanghai.

 

Alirezai nem fala sobre o assunto e o Irã agora sofre uma forte pressão internacional para ser punido pelo ocorrido. O Parlamento de Israel discutiu o caso esta semana e vai encaminhar um pedido ao Comitê Olímpico Internacional para punir os iranianos.

 

Enquanto o mundo vive o drama das irregularidades no nado peito e ninguém é desclassificado, a nadadora Ingrid Outtara de Burkina Faso não teve a mesma sorte. Na prova dos 50 peito, mesmo nadando para mais de 45 segundos, foi desclassificada por executar duas braçadas e duas pernadas na fase submersa do nado.

 

Os heróis desconhecidos muito dificilmente entram para a história e talvez jamais venham a ser lembrados. Mas tudo isso aqui não seria tão interessante sem eles. 

1 responder
  1. Célia
    Célia says:

    Coach, Obrigada pela matéria.
    Li muitas reclamações sobre esses jovens nadando as provas no Mundial. O que ví foram meninos e meninas demonstrando FELICIDADE, ALEGRIA, AMOR e PRINCIPALMENTE CORAGEM.
    Quando chegavam olhavam o placar e os olhares vibravam de felicidade.

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