Ainda que tímida, a melhora das jovens nadadoras pode render bons resultados em 2016

Por Victoria Salemi, colunista convidada 

Ao longo da história, os resultados da natação masculina proporcionaram maior visibilidade ao esporte. Qualquer leigo conhece César Cielo ou Gustavo Borges, mas, ao se fazer o teste com nomes de mulheres, o estranhamento aparece. Enquanto no masculino já tivemos até recordes mundiais, no feminino o melhor resultado foi a quinta colocação de Joanna Maranhão nos 400 metros medley nas Olimpíadas de Atenas, em 2004. Esta realidade, no entanto, pode mudar nos próximos anos com jovens atletas e os resultados que vêm mostrando.

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Duas nadadoras desta nova geração são Bruna Primati e Giovanna Diamante, ambas de 17 anos e atletas do Sesi-SP. Elas já vêm demonstrando grandes resultados desde as categorias de base e continuam em ascensão. Tendo competido a última etapa de Tóquio da Copa do Mundo, Bruna diz que é muito estimulante nadar competições adultas no exterior. “Lá é outra coisa. Competir com gente de fora é diferente, te tira da zona de conforto. Um tempo que é bom aqui, lá é horrível e acaba servindo de motivação para tentar melhorar”, conta ela, que teve como melhor resultado a 8ª colocação nos 800 metros livre. Giovanna Diamante, que foi vice-campeã no revezamento 4×100 metros livre misto nos Jogos Olímpicos da Juventude, também diz que, desde que começou a competir no exterior, no ano passado, melhorou muito. “A evolução que tive foi notável”, diz a nadadora.

Para 2016, Bruna e Giovanna dizem que o foco são as Olimpíadas do Rio de Janeiro, mas gostam de pensar sempre no próximo passo. “Ano que vem temos o Mundial de Kazan e, praticamente, quem for para lá vai para os Jogos Olímpicos, então estou focando primeiro nessa competição”, fala Bruna. Giovanna também prefere pensar no que vem a seguir: “antes das Olimpíadas ainda vai ter o Pan, o Mundial. Tem muita coisa pela frente e eu prefiro focar nisso primeiro”.

Em relação a 2016, Wlad Veiga, técnico do Corinthians e ex-treinador do Clube Paineiras do Morumby, equipe em que Bruna Primati e Giovanna Diamante nadavam nas categorias de base, diz que acredita no potencial das duas. “As meninas têm possibilidade de chegarem a alguma final”, afirma o técnico. Ele diz que, desde que as nadadoras eram pequenas, além dos resultados, era possível observar a postura delas. “Sempre foram disciplinadas, organizadas e muito motivadas. Até hoje, sei que treinam com muita dedicação”, conta ele.

Hoje em dia há mais estímulo a essas jovens nadadoras que já estão na elite da natação brasileira. Os programas de incentivo aos atletas de ponta existem, os técnicos são capacitados e a estrutura dos grandes clubes não fica em nada a dever para o exterior. “Antes era mais difícil para as atletas se manterem na carreira adulta, mas hoje há bolsas do governo e os clubes pagam salários melhores. A condição que essa geração tem leva a carreira mais longe”, diz Wlad Veiga.

Falta de tradição explica os resultados
Como a natação feminina nunca teve muita tradição, o exemplo daqui para as atletas mais jovens é menor. Um ícone da natação feminina que Giovanna admira, por exemplo, é Missy Franklin, uma jovem atleta americana. É o que explica Daniel Takata, estatístico apaixonado por natação e redator da revista Swim Channel: “não é coincidência que Gustavo Borges e Fernando Scherer tenham brilhado no final da década de 90 nas provas curtas e, hoje, tenhamos César Cielo, Bruno Fratus e Marcelo Chierighini entre os melhores do mundo. Os ídolos têm um papel fundamental”. Neste cenário, uma medalha olímpica feminina provavelmente mudaria muita coisa, incentivando as meninas mais novas. “Para isso acontecer, provavelmente precisaremos que um talento extraordinário apareça para motivar mais jovens na natação”, completa Takata.

A falta de tradição também acarreta outro problema: o menor incentivo às meninas que estão começando em algum esporte a escolherem a natação. Se mais crianças começam a nadar, a chance de que surjam talentos é maior. Segundo o estatístico, é preciso que haja mais nadadoras com bons resultados desde as categorias inferiores para que, dentre elas, apareçam atletas mais fortes e, assim, se possa sonhar com uma medalha olímpica. Daniel Takata explica que o sistema ainda é falho: “precisamos de mais nadadoras, certamente mais do que as que temos hoje. Claro que isso não é culpa das atletas que já têm destaque, que se esforçam e se dedicam ao máximo, mas sim de todo um sistema”.

1 responder
  1. Wlad Veiga
    Wlad Veiga says:

    Orgulhoso, por ter duas ex nadadoras que vi crescer, como foco da materia e tambem… por uma ex atleta querida, ser a redatora.

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