100 anos dos Jogos de Berlim 1916, a Olimpíada que não aconteceu

Nesta crise da Zika e o medo do que representa a ameaça que o Aedes Aegypti tem causado em nosso país, já começaram a rolar rumores ao redor do mundo de colocar em ameaça os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Em 120 anos de esporte olímpico, as Olimpíadas da Era Moderna só foram canceladas três vezes, e todas por problemas com guerras.

Este ano, estamos completando 100 anos dos Jogos Olímpicos de 1916, os Jogos que não foram realizados por conta da Primeira Grande Guerra Mundial. A Olimpíada seria em Berlim, na Alemanha, julho de 1916, a primeira que deixou de ser realizada.

A sede foi dada a Alemanha em 27 de maio de 1912 na reunião do Comitê Olímpico Internacional em Estocolmo, na Suécia. A vitória de Berlim foi contra as concorrentes Alexandria da Grécia e Budapeste na Hungria. Outras cidades chegaram a se movimentar na tentativa de concorrer, mas foram eliminadas logo ao início do processo como Bruxelas na Bélgica e Cleveland nos Estados Unidos.

O Kaiser Guilherme ficou muito contente ao saber que a Alemanha iria sediar os Jogos de 1916. Para isso, mandou iniciar logo a construção do Estádio Olímpico que seria inaugurado em 1913. Na cerimônia, cerca de 50 mil espectadores e, por incrível que pareça, 10 mil pombos liberados para voar.

Como as pombas não eram da paz, pouco mais de um ano depois, precisamente no dia 28 de julho de 1914 com o assassinato do Arquiduque Francisco Ferndinando em Sarajevo, se iniciava a Primeira Grande Guerra Mundial. Foram quatro anos, três meses e duas semanas de guerra.

Inicialmente não se acreditava que o conflito duraria tanto. O próprio Barão de Coubertin então Presidente do Comitê Olímpico Internacional, teve de pedir afastamento da sua função. Convocado pelo exército francês, o Barão de Coubertin passou o comando para o barão suiço Godefroy de Bionay. O COI se mudava para Lausanne, na Suiça, de onde nunca mais saiu.

A guerra que começou na Europa, se estendeu com para África, Oriente Médio, ilhas do Pacífico e na China, 28 países foram envolvidos no conflito.

Os Jogos de 1916 seriam os Jogos do avanço. Uma semana destes Jogos seria para quatro modalidades dos esportes de inverno. Seria a primeira edição da Olimpíada de Inverno, que por conta deste conflito, acabou se configurando apenas em 1924.

O Kaiser comandou pessoalmente as obras do Estádio Olímpico. Ele mesmo tentou, sem sucesso, uma trégua para a realização dos Jogos. Não tivemos os Jogos, mas o complexo construído na região Grunewald de Berlim tinha o primeiro circuito de 400 metros de atletismo em um estádio olúimpico, além de um velódromo com arquibancada e uma pisciina com arquibancada.

Os Jogos de 1912 em Estocolmo haviam sido um sucesso de 27 países e 4.742 atletas. A expectativa para 1916 era muito maior.

A Olimpíada teria 24 esportes, abertura seria 2 de julho e encerramento no dia 16, duas semanas depois. A semana do esporte de inverno era um pedido do dirigente italiano Eugenio Brunetta D’Usseaux que fez a solicitação para 1912, mas recusada pelos organizadores. Agora, para os Jogos de 1916 seriam quatro modalidades: patinação de velocidade, patinação artística, hóquei no gelo e esqui nórdico.

As datas destes Jogos foram motivos de muita discussão. Inicialmente, os alemães queriam em junho para celebrar os 25 anos de comando do Kaiser. Os americanos reclamaram que seria impossível de levar seus atletas universitários. Mesmo definidos para julho, haveriam algumas modalidades em maio e junho, o remo seria em agosto.

Os Jogos de 1916 teriam o boxe de volta, afastados em 1912 pois lutar boxe era ilegal na Suécia. O futebol seguia como o esporte mais popular entre os coletivos e o pedido da inclusão do rúgby pela França foi recusada. O golfe era olímpico e o esporte favorito dos filhos do Kaiser Guilherme. A esgrima e o ciclismo eram exclusivos para homens.

O melhor dos Jogos que não aconteceram foi a construção do Deutch Stadiu, o Estádiio alemão. O complexo custou três milhões de marcos e estava localizado no lado oeste da cidade de Berlim, ficava a 30 minutos do centro. Na construção, houve a instalação de 20 pequenos apartamentos que serviriam para os atletas que teriam de ficar instalados para treinamentos ou competições nos horários da manhã.

A inauguração no dia 10 de junho de 1913 foi um sucesso. Um belo ensolarado dia, arquibancadas lotadas, atletas de todas as modalidades desfilando em pouco mais de duas horas de cerimônia.

A Alemanha estava no movimento olímpico desde a primeira edição, mas era uma nação em pleno desenvolvimento do esporte. O Barão de Coubertin era um entusiasta com o esporte alemão. Nos Jogos de 1912, eles estiveram com 185 atletas nos Jogos de Estocolmo e ganharam medalhas de ouro na natação, remo, hipismo e tênis.

Entusiasmados com o crescimento do esporte olímpico, os alemães investiram no esporte. Foram para os Estados Unidos e contrataram um técnico para sua equipe de atletismo. Na época, Alvin Kraenzlein da Universidade da Pennsylvania se tornava no treinador mais bem pago do esporte alemão com 25 mil dólares anuais.

O sonho olímpico de 1916 durou pouco depois do início da Primeira Grande Guerra Mundial. Passadas duas semanas do conflito, já se falava em cancelamento. Embora alguns resistissem a idéia da suspensão do evento, a dimensão da guerra só fez crescer. O saldo de quase 40 milhões de mortos deixou o movimento olímpico com este hiato.

Os Jogos voltaram a ser disputados em 1920, Bruxelas na Bélgica foi a escolhida para receber a competição. Uma maneira de amenizar para um dos países mais afetados pela guerra. A Alemanha e Áustria, causadoras da Primeira Grande Guerra Mundial foram proibidas de participar.

Os Jogos Olímpicos deixariam de ser realizados mais duas vezes. Em 1940 e 1944, ambas as vezes pela Segunda Grande Guerra Mundial. Foram as únicas vezes na história do esporte olímpico.

Não seria agora, passados 100 anos da primeira edição olímpica não realizada, que um mosquito seja capaz de cancelar o maior evento esportivo do planeta.