Etiene Medeiros vai nadar três provas individuais nos Jogos Olímpicos do Rio 2016. Uma delas ainda inspira cuidados e preparativos especiais. É os 50 metros nado livre, onde Etiene é recordista sul-americana, e tem nadado com certa frequência para 24.

O detalhe é o padrão de respiração a ser executado. Etiene e seu treinador Fernando Vanzella discutem a opção de fazer a prova sem nenhuma respiração. Até hoje, Etiene tem se mostrado um pouco reticente nesta estratégia. O que ela faz, e com sucesso, são duas respirações, normalmente uma na faixa dos 25 metros, outro entre 35-40 metros.

A estratégia já foi treinada, praticada, só ainda não executada. Etiene tem asma, reclama um pouco do cansaço e dificuldade para colocar o plano em prática. Mesmo assim, os 50 metros nado livre de Etiene tem sido constantemente em alto nível e já bateu o recorde sul-americano duas vezes.

Etiene nos 50 livre do Maria Lenk 2016 

O exemplo acima é de que um nadador de alto nível, no caso nadadora, pode fazer a sua estratégia de respiração onde se sinta melhor. A americana Dara Torres, medalha de prata dos 50 livre em Beijing 2008, é o caso mais em relevo deste aspecto. Na época com 41 anos, Dara Torres nadou a prova toda nadando em bilateral e respirando a cada três braçadas. O estilo da americana era incrível e ela conseguia colocar a respiração sem afetar o ritmo, a frequência, a execução das braçadas. Não é fácil, e para ser sincero, foi a única que vi até hoje.

Evitar respirações é exatamente por este motivo numa prova de velocidade. Não quebrar o ritmo, manter a frequência e a dimensão das braçadas. Normalmente (Dara Torres é exceção), os atletas perdem seu ciclo ao executarem as respirações na prova dos 50 metros nado livre. Saber dosar esta respiração e onde executá-la (s) faz parte do treinamento de identificacão e preparação para isso.

O trabalho de hipoxia no esporte não é coisa nova. A palavra “hipoxia” vem do grego, onde Hypos é pouco, oxis é oxigênio. Foi nos Jogos Olímpicos do México em 1968 que o treinamento ganhou muito espaço. Na época, velocistas destruíram os recordes mundiais no atletismo beneficiados pela altitude e o ar rarefeito.

Na natação, o treinamento hipóxico chegou no final dos anos 60, início dos anos 70. No Brasil, foi o treinador americano Richard Powers com passagem pelo Grêmio Náutico União e Hebraica que implantou tal prática. Anos depois, o treinamento hipóxico continua a ser contestado, alguns citam até falta de comprovação científica para o seu uso efetivo.

A conclusão que se chegou é que o treinamento de hipoxia ajuda a controlar a capacidade de hypercarpnia, ou seja, a controlar a necessidade de respirar. Isto por que a sensação de fadiga e perda de movimentos não é pela ausência de oxigênio e sim pela produção do gás carbônico.

Assim, o que se treina os nadadores é incrementar esta capacidade, de forma progressiva e planejada. Todo trabalho requer redobrada atenção dos treinadores principalmente pela possibilidade de acidentes com o chamado “shallow water blackout” quando nadadores perdem os sentidos ao praticar o treinamento de hipoxia. Tal tipo de treinamento é extremamente controlado nos Estados Unidos e recomendado para não ser utilizado pela Swimming Australia (embora continue sendo praticado).

Todo mundo sem respirar na final dos 50 livre do Mundial de Kazan

Ter a capacidade de sustentar o nado sem respirar por determinado tempo requer uma preparação e, por conta disso, abaixo um procedimento padrão para o incremento da técnica:

1. Praticar o controle de respiração nos últimos 5 metros dos tiros.
2. Ir incrementando a distância para 7, 8, 10 metros.
3. Combinar o controle de respiração com o aumento de frequência e a prática de chegada adequada.

O processo vai dando autonomia e principalmente confiança ao nadador até administrar grande parte da sua prova ou a distância completa.

Para um nadador que está começando a executar o controle de respiração numa prova de 50 metros se recomenda:
1. Conte o número de respirações que você executa numa prova de 50 metros.
2. Eliminar as respirações nos primeiros 10 metros e últimos 5 metros.
3. Administrar o número de respirações diminuindo progressivamente até atingir o padrão desejado.
4. Este processo não só inclui o número de respirações a ser dada, mas o momento em que eles serão executadas.

Outros exercícios que ajudam o controle respiratório:
1. Nadar alternando respirações a cada distância percorrida 3 ciclos por braçada a cada 25 metros, depois 5 ciclos por 25 metros, 3, 7, 3, 9.
2. Alternativa para o mesmo procedimento sendo que alternando apenas os ciclos, ou seja, em distância a ser estabelecida dar 3 ciclos, respirar, 5 ciclos, respirar, 3 ciclos, respirar, 7 ciclos, respirar, 3 ciclos, respirar, 9 ciclos, respirar.
3. Séries de 25 metros de controle, 3 bem nadado, 1 submerso sem respirar (lung busters).
4. Série de 40×25 10 com 4 respirações, 10 com 3, 10 com 2, 10 com 1. Manter o mesmo padrão de tempo.
5. Séries de 25 metros para tempo, onde o treinador executa dois sinais, o primeiro para o atleta mergulhar e soltar todo o ar que tem em seu pulmão, o segundo para a saída do atleta que nada em hipoxia em alta velocidade até o momento que aguentar (suicide swimming).

Um dos procedimentos mais adequados para o trabalho de hipoxia é criar leis do treinamento, algo como “é proibido respirar depois da bandeirola”, passando a ser regra diária para todos os atletas seja qual for o tipo de atividade que esteja sendo praticada.

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