Duas vezes seguida pode ser bi campeonato, teimosia ou burrice. A escolha é sua.

A FINA pela segunda Olimpíada consecutiva erra no processo de seleção dos atletas e classificação para a natação dos Jogos Olímpicos. Tal processo, foi criado para os Jogos de Londres 2012 com o auxílio da USA Swimming e seu programa de processamento de dados e ranqueamento. Isso foi necessário depois da explosão de participantes nos Jogos de Beijing em 2008 quando tivemos o recorde de 1.026 nadadores de 162 países. As eliminatórias foram enormes…

O COI reclamou, com razão. A FINA foi obrigada, desde então, a cumprir a meta, 900 nadadores participantes, nem mais, nem menos. É impossível fazer um evento desta magnitude sem um limite, sem um número preciso e fechado para organização de logística, transporte, alimentação e hospedagem.

Porém com o limite de 900 cumprido em Londres e novamente no Rio (serão 906 atletas), o processo ainda apresenta falhas e erros administrativos da entidade. Em Londres, há quatro anos, tivemos atletas sendo chamados quando faltavam poucos dias para os Jogos. Eu mesmo tive um nadador convocado quando faltava uma semana para o início das provas. Alguns nadadores de outros países já tinham até abandonado o esporte quando não tiveram seus nomes chamados e saíram da aposentadoria direto para disputar a Olimpíada.

O processo de classificação de nadadores para os Jogos Olímpicos envolve quatro grandes grupos. O maior, e principal, é o que reúne os atletas com marcas A. São os principais nadadores, os melhores, aqueles que realmente disputam as medalhas. No total, representam 60% das 900 vagas. Para o Rio 2016, estas marcas A foram baseadas no 16o lugar das eliminatórias dos últimos Jogos Olímpicos.

O segundo grupo é formado por nadadores que irão disputar apenas os revezamentos. Este grupo teve uma mudança de regra imposta pela FINA para estes Jogos. Agora, todos os convocados neste grupo serão obrigados a nadar as eliminatórias da prova, com o risco de desclassificação da equipe para a final. Até Londres 2012, os atletas poderiam ser convocados e não nadar. Algo como aconteceu com João de Lucca, que foi olímpico há quatro anos e não pulou na água.

O terceiro grupo é o espírito dos Jogos Olímpicos. Como as modalidades coletivas reúnem as principais equipes do mundo, são nos esportes individuais, e em especial na natação e no atletismo, onde o Comitê Olímpico Internacional tem a oportunidade de convocar atletas de todos os países do mundo a participar da festa dos Jogos Olímpicos. É assim que o tal 172 número de países participantes na natação olímpica do Rio está sendo comemorado. É o maior número da história. No total, são 206 países membros do Comitê Olímpico Internacional, e a natação desponta como uma das mais abrangentes do movimento olímpico.

Este grupo, chamado de Universalidade, é integrado por atletas que não obtiveram nem as marcas A, nem as marcas B, estes índices por aproximação num percentual sobre os tempos mais fortes. São também integrantes de países menores, com menos estrutura, e por consequência, mais desorganizados nos seus processos de controle e registro.

Somente depois de confirmados os três grupos acima é que a FINA vai atrás de encontrar quem serão os integrantes do grupo quatro, os índices B, que irão completar os 900 nadadores participantes da natação do Rio. Assim, qualquer país que atrasar na resposta de confirmação de seus atletas, retarda e prejudica todo o processo.

Estas vagas restantes são ocupadas por resultados dentro da marca B e levando em conta o ranking mundial das competições que aconteceram entre 1o de março de 2015 a 3 de julho de 2016. Somente competições reconhecidas e registradas pela FINA.

São 26 provas individuais, 13 no masculino, 13 no feminino. Assim, de acordo com a soma dos grupos 1 (marcas A), 2 (revezamentos), e 3 (Universalidade), o número de vagas restantes serão chamados pelas linhas do ranking de marcas B. Se sobraram 26 ou menos vagas, apenas um nadador por prova, o primeiro colocado deste ranking se adiciona ao total. Como foram mais de 26 vagas restantes, foram chamados dois nadadores por prova, ou seja, 52 atletas por marcas B, duas linhas deste levantamento.

Foi assim que chegamos ao total de 906 atletas e a FINA fechou a lista.

Ao verificar o levantamento, encontramos dois atletas incluídos pela FINA de forma irregular. Ambos foram no critério de Universalidade, onde a participação é condicional ao fato dos mesmos atletas terem participado do Campeonato Mundial de Kazan no ano passado. Tal exigência está em regulamento da FINA e é uma forma dos países prepararem seus atletas de forma adequada, oferecendo competições e treinamento de alto nível no trajeto até a Olimpíada.

Vale lembrar que a FINA paga passagem para estes atletas participarem do Mundial o que justifica ainda mais tal exigência de cumprimento do regulamento.

Thet Ei Ei de Myanmar e Naomy Hope Grand Pierre do Haiti não foram ao Mundial de Kazan, nem inscritas foram, e aparecem na lista para nadar a prova dos 50 metros nado livre no Rio 2016. Isso são duas vagas de nadadores irregulares que poderiam representar a chamada de outros atletas com marcas mais expressivas e que ficarão de fora dos Jogos.

Fora isso, a FINA fez uma confusão com uma nadadora da Grécia. Kristel Vourna vai nadar a sua segunda Olimpíada depois de ser convocada, desconvocada e convocada de novo. A própria FINA já reconheceu o erro, mas agora é tarde.

Vourna nadou a seletiva olímpica grega para 58.92 nos 100 metros nado borboelta, acima do índice A da FINA de 58.74. Mesmo sendo marca B, a Grécia já tem uma nadadora com marca A, Anna Doudounaki com 58.32. Ou seja, graças ao erro (reconhecido) pela FINA, a Grécia vai ser o único país da Olimpíada com duas nadadoras na mesma prova, sendo apenas uma com o índice A.

Alia Atkinson da Jamaica, quarta colocada nos 100 peito dos Jogos Olímpicos de Londres, e Top 10 do mundo no ranking desde 2012, chegou a estar de fora da primeira lista liberada pela FINA.

Os erros da FINA também afetaram o Brasil. A comissão técnica da CBDA encaminhou o processo de registro de provas de seus atletas dentro dos prazos e cumprindo todos os regulamentos. Duas atletas, classificadas para os revezamentos, Natália de Luccas e Jhennifer Conceição Alves teriam direito de participação em provas individuais desde que não houvesse outra nadadora na prova, por terem apenas a marca B.

E assim foi feito, na inscrição do Brasil, Natália de Luccas nos 200 costas e Jhennifer Alves nos 100 peito. Saiu a lista da FINA e cadê as duas? Embora a CBDA já tenha iniciado o processo de reclamação, a FINA já antecipou, as provas estão fechadas.

Não há mistério neste processo de seleção e ranqueamento. Qualquer programa de informática é capaz de avaliar tudo isso e apurar estes nomes sem qualquer controvérsia, sem qualquer erro. A FINA, por duas Olimpíadas consecutivas, mostra que foi incapaz de regular algo tão simples, mas extremamente importante.

1 responder
  1. Rodrigo G
    Rodrigo G says:

    ..”Embora a CBDA já tenha iniciado o processo de reclamação, a FINA já antecipou, as provas estão fechadas”… então as brasileiras não nadarão a prova individual por “orelhada” da FINA? Que sacanagem!

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