A expectativa da presença e performance de César Cielo neste Troféu Open foi deflagrada por ele mesmo. No dia 8 de dezembro, o Globo publicou uma reportagem com o nadador na qual ele prometia mandar uma “mensagem” para seus adversários na competição. A matéria chegou a ter repercussão internacional com publicações na Swimswam nos Estados Unidos e na Swimvortex na Europa.
A segurança de um bom resultado era principalmente pela boa fase nos treinamentos e a recuperação completa do joelho. Tal situação, deixou a saída de Cielo tão eficiente quanto era antes da cirurgia no ano passado.
Por conta disso, grande euforia e expectativa foi criada para a chegada de Cielo em Porto Alegre. Chegada esta que foi retardada pela sua participação no Prêmio Brasil Olímpico onde venceu a categoria de melhor atleta da natação em 2013 e era um dos finalistas para o prêmio de melhor atleta olímpico do ano que acabou vencido pelo iatista Jorge Zarif.
Cielo não pôde participar dos 50 borboleta, a eliminatória no dia seguinte seria impossível ser alcançada em vôo do Rio de Janeiro. Assim, Cielo só chegou na tarde de quinta-feira a Porto Alegre. O primeiro treino aconteceu na sexta-feira pela manhã e desde então despertou a grande atenção do público gaúcho.
A expectativa pelos 50 livre foi incrementada ainda mais com a performance de Bruno Fratus nos dias anteriores. Seus parciais nos revezamentos 4 x 100 livre (47:98) e 4 x 50 livre (21:19) eram bastante promissores. Operado em maio do ombro direito, jamais se esperava que Bruno conseguisse recuperação tão rápida. A única coisa contrária a Bruno foi o grande número de provas até chegar ao dia dos 50 livre. Nadando pelo Pinheiros e na briga pelos títulos da temporada, Bruno, mesmo vindo de uma operação, foi submetido a uma carga intensa de provas e revezamentos.
A piscina do União nunca esteve tão cheia para uma competição de natação. A arquibancada especialmente construída para o evento tinha uma capacidade de 1200 pessoas. O clube só falava disso. O sol forte encheu as piscinas do clube que na hora dos 50 livre os banhistas se empuleiravam por um espaço para assistir o tri campeão mundial. Até uma faixa para Cielo foi colocada na arquibancada.
A prova anterior a dos 50 livre masculino foi um tanto decepcionante. Afinal, Graciele Hermann tinha aberto o revezamento 4 x 50 livre para 25:05. Agora, a nadadora da casa havia sido derrotada por Alessandra Marchioro por um centésimo, mas o tempo 25:73 e 25:74 deixou todos preocupados. Será que sair do outro lado está dando a mais???
Cielo vestia o seu traje da Adidas, Bruno foi com seu laranja Mark2 da Arena. A saída mostrou que Cielo está realmente recuperado. Tomou a frente e teve uma velocidade de reação de 0.76 contra 0.83 de Bruno, até então, nenhuma novidade.
Na altura dos primeiros 25 metros, Cielo tinha a liderança, Bruno vinha em segundo mas era visível o seu crescimento. Coisa que se intensificou no final e com uma chegada perfeita o nadador do Pinheiros tocou na frente 21:82 contra 21:92 de Cielo.
O tempo devolveu a segunda posição na velocidade brasileira a Bruno Fratus. Superou os 21:84 que Marcelo Chierighini fez no Mundial de Barcelona e lhe colocou na posição de número 11 do Mundo em 2013. Bruno não escondeu a alegria ao terminar a prova em primeiro e a marca que fez. Abriu os braços e celebrava intensamente enquanto sua noiva, a gaúcha Michelle Lenhardt comemorava muito na área Vip da competição.
A reação do público foi de espanto. Um misto de silêncio com gritos, mas todos espantados. Assim como nos 50 livre feminino, onde se esperava por Graciele Hermann e deu Alessandra Marchioro, no masculino se esperava por César Cielo e deu Bruno Fratus.
Cielo saiu da água, cumprimentou Bruno pelo resultado e foi para a zona mista atender a imprensa. Falou tranquilamente do resultado. Disse que não encaixou o estilo e que nadaria melhor a tarde.
Na hora da premiação, Cielo chegou atrasado mas recebeu a medalha para atender novamente a imprensa. Ficou vários minutos sentado na área dos atletas conversando com seu treinador, o americano Scott Goodrich que não parecia estar contente. Os pais de Cielo, Dr. César e Flávia, chegaram a área reservada e por alguns minutos conversavam com o filho.
Nesta hora, os nadadores Walter Lessa do São José e Henrique Martins do Minas já estavam atrás do bloco de partida, prontos para nadar o desempate para a oitava vaga da final dos 50 livre após empatarem com 22:84. Já havia terminado a etapa das eliminatórias e só faltava isso ser definido.
Foi quando Cielo acompanhado do pai foi até a cabine de controle informar que não iria voltar a tarde. Os atletas já estavam no bloco prontos para largar quando o locutor Rodolfo Carneiro fez o anúncio da não necessidade do desempate. Cielo estava fora da final.
Desta vez, não houve entrevista. A imprensa já havia deixado o local e todos foram surpreendidos pela notícia trazida pela Best Swimming para a sala de imprensa. O motivo alegado foi de não estar se sentindo veloz. Cielo optou por não nadar pois sentiu que não seria muito melhor do que havia feito pela manhã.
Foi o pai, Dr. César que revelou a nós de “estar sentindo forte, sem velocidade”, não era o dia conforme ele.
Cielo ainda ficou muito tempo atendendo a garotada. Tirou foto com o quadro de arbitragem, com os cestinhas. Atendeu a autógrafos e muitas fotos com os jovens nadadores do União. Para chegar até a portaria do clube e deixar as dependências do União foi tranquilo, mas sempre muito solícito e atendendo a todos. Junto com os pais e Scott ainda disse que voltaria a tarde para a final, coisa que não aconteceu.
A repercussão gerou uma frustração no clube. Muita gente só foi saber quando voltou para as finais. Outros viram na edição local do Globo Esporte “César Cielo desiste de nadar a final” foi a chamada de um dos blocos. Um dos árbitros da competição chegou a ser parado na rua quando foi identificado pela roupa: “É verdade que Cielo não vai nadar na final?” perguntava um fã.
Foi a 14a vez que Cielo nadou os 50 livre em 2013. Destas 14, 7 delas foram na casa dos 21 segundos. Os 21:92, foi o pior deles. O melhor, os 21:32 do Mundial de Barcelona, melhor tempo da história sem trajes. Era em cima desta marca que Cielo esperava nadar. Recuperado do joelho, com força total na saída e depois de excelentes treinos e uma performance muito boa no Grand Prix de Minnesotta, Cielo era só confiança para nadar bem no Open.
Como não aconteceu, Cielo desistiu da final. Tomou a decisão por achar que não valeria a pena voltar e fazer igual ou pior. O público não gostou e todos esperavam ter o maior nome da natação de volta para nadar a prova que lhe fez o primeiro tri campeão mundial da história nos 50 livre.
Menos mal que Bruno Fratus fez a sua parte. Foi lá e venceu novamente, agora com 21:80 empatando com o ucraniano Andriy Govorov na décima posição do ranking mundial deste ano. Foi também a despedida de Bruno do Brasil. Ele viaja para Auburn em janeiro onde passará a treinar com Brett Hawke. Cielo também está de partida, vai estar janeiro e fevereiro no Arizona.
O público gaúcho continua a adorar César Cielo. Ele ainda é o maior nome da natação brasileira em todos os tempos, mas desta vez ficou devendo.