Eles não sobem ao pódio, medalha? Só de participação. Reconhecimento, só dos atletas. As figuras quase anônimas são os treinadores responsáveis pelos atletas e, que no fundo, representam uma série de outros profissionais envolvidos em todo este processo. As quase duas horas de águas abertas executadas em alta performance não podem mais ser feitas apenas com o trabalho empírico e a sensibilidade de nossos técnicos.

Por conta disso, por trás do bronze de Ana Marcela Cunha, e das classificações de Poliana Okimoto e Allan do Carmo, existem médicos, nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos, massagistas. São as chamadas comissões multidisciplinares, hoje imprescindível para quem quer fazer esporte de alto nível.

Os treinadores são o guia de tudo isso, o elo de ligação entre todos, o comandante deste barco que segue navegando fazendo das maratonas aquáticas um dos esportes de mais sucesso nos recentes anos do esporte brasileiro.

Ana Marcela com seu tecnico. Campeonato Mundial de Desportos Aquaticos, 10 Km, realizada no Rio Kazanka. 28 de julho de 2015, Kazan, Russia. Foto: Satiro Sodre/SSPress

Ana Marcela com seu tecnico. Campeonato Mundial de Desportos Aquaticos, 10 Km, realizada no Rio Kazanka. 28 de julho de 2015, Kazan, Russia. Foto: Satiro Sodre/SSPress

Fernando Possenti é o mais novo, tem 37 anos de idade, está com Ana Marcela Cunha na terceira temporada. Depois de uma carreira vitoriosa na Unisanta sob o comando de Márcio Latuf não faltavam dúvidas e questionamentos sobre a juventude e experiência do novo treinador. Possenti conseguiu não só conquistar a confiança de Ana Marcela como os resultados comprovaram o bom trabalho.

No ano passado, Ana Marcela além do bi  tri campeonato da Copa do Mundo subiu ao pódio em todas as provas da temporada, feito inédito na história do Circuito da FINA. A saúde era tanta que sobrou energia para fazer a Travessia Capri – Nápoli na Itália e estabelecer o recorde de percurso. Escolhidos como os melhores do mundo no ano, ele como técnico, ela como atleta, 2015 não começou tão bem.

Uma infecção, uma doença auto-imune, um período sem treinar. Ana Marcela ficou de fora de provas, de viagens e as dúvidas chegaram. A recuperação foi completa. Quem não entendeu a emoção e o choro da nadadora baiana ao final da prova, agora sabe que não foram apenas 10 quilômetros percorridos, mas um drama e uma superação de grande dimensão. Méritos dela, méritos dele.

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O outro baiano, Allan do Carmo, também não conteve a emoção ao terminar a prova e sair correndo em direção a delegação brasileira. Lá entre risos e sorrisos, recebia o abraço emocionado de todos. Allan, assim como Ana Marcela, de fora da última Olimpíada está de volta a maior competição esportiva do mundo.

O abraço emocionado com o técnico Rogério Arapiraca foi daqueles que a gente está acostumado a ver. Coach Arapiraca é chorão, e não seria desta vez que iria se segurar. O trabalho com Allan é impressionante. Um nadador de técnica limitada que se transformou num dos melhores do mundo. Campeão da Copa do Mundo no ano passado, Allan e Rogério Arapiraca não puderam ir a Doha receber seus prêmios. Estavam treinando e se preparando para garantir vaga no time que lhes trouxe a Kazan.

Arapiraca é paizão, controla tudo, proíbe chocolate e refrigerantes, mas é sensível e chorão. Allan foi revelado por Sued Awad, mas desde 2007 está com Arapiraca. Em Kazan, está comemorando 10 anos de seleção brasileira absoluta e junto com o chorão vai tentar subir ao pódio olímpico no Rio em 2016.

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Quando nadava, Ricardo Cintra era velocista. Hoje, um dos melhores treinadores de águas abertas do mundo. Embora ele não pense assim, Cintra gosta mesmo é de dar treino para a esposa. Tem treinadores que gostam do esporte, Cintra gosta de Poliana. Faz todo o sacrifício que for necessário para atingir o melhor no seu trabalho.

A esposa recebe o tratamento que precisa e merece. Broncas não faltam, o rigor faz parte da rotina. Até mesmo entra na piscina se não tiver ninguém para treinar junto da nadadora que não suporta nadar em piscinas vazias. A dupla já deu demonstrações de superação e volta por cima.

O abandono da prova de Londres em 2012 nunca foi bem digerido. Demorou meses para os dois se recuperarem. A temporada de 2013 completou isso. A melhor nadadora do mundo de águas abertas fez um Mundial incrível em Barcelona e terminou o ano como a melhor atleta do Brasil no Prêmio Brasil Olímpico.

O ano passado também prometia, mas uma lesão na prova de Portugal comprometeu a temporada. Mesmo assim, ela ainda conseguiu terminar o ano como gosta, vencendo. E o maridão do lado. Juntos, Poliana e Cintra vão para a terceira Olimpíada, feito inédito nas maratonas aquáticas feminina.

Possenti, Arapiraca e Cintra são merecedores do feito de colocar seus atletas nos Jogos Olímpicos do Rio 2016. E a Best Swimming sente orgulho de seus trabalhos, não poderia deixar passar batido uma homenagem aos três primeiros treinadores olímpicos dos esportes aquáticos para os Jogos do próximo ano.

3 respostas
  1. Alexandre Madsen
    Alexandre Madsen says:

    Muito bom o texto, Coach!!! Traz um lado humano, que nem sempre é relatado pela mídia, atrelado aos excelentes trabalhos dos três. Bravo!!!

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