Ter um atleta nas águas abertas e classificá-lo para os Jogos do Rio 2016 faz o treinador ter 100% de aproveitamento na prova dos 10 quilômetros, mas se você tem três nadadores e todos ganham a vaga para a Olimpíada, não precisamos nem fazer o cálculo, é um absurdo!

Pois foi o que fez o francês Philippe Lucas, técnico da francesa campeã dos 10 K Aurelie Muller, da holandesa Sharon van Rouwendaal vice campeã da prova e do jovem francês Marc Olivier, a surpresa dos classificados no masculino. Todos vão ao Rio.

Ele não tem amigos, sorriso nem pensar. Parece um guerreiro gaulês, baixo, forte, sempre carregado de pulseiras e colares, brincos e camisas cavadas. Polêmico e esquisito, só tem uma unanimidade, seus resultados. E em Kazan, apenas começando Phelippe Lucas já fez história.

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Aos 52 anos de idade, Lucas tem inúmeros resultados expressivos e muitas histórias para se contar, quase todas polêmicas. Foi um nadador de relativo sucesso no Melun até começar a trabalhar como técnico que fez por um pequeno período nos Estados Unidos. De volta a França, foi no próprio Melun onde começou numa época onde o seu pai era o presidente do clube.

Teve resultados imediatos de alto nível, colocando atletas na Olimpíada como Julia Reggiany, hoje sua esposa e mãe de um casal de filhos, Alena Popchanka, a sueca Therese Alshammar, a romena Camelia Potec, Esther Baron e a mais famosa de todas, Laure Manaudou. Famosa pelos resultados, ouro nos 400 livre de Atenas 2004, e pelo controverso fim de relação com Lucas. Manaudou  morava na residência do treinador e, alegando cansaço e desgaste se mudou para a Itália onde acompanhou o namorado Lucca Marin.

Brigas e rompimento público que só acabaram quase 10 anos depois. Este ano, Manaudou fez uma visita a Lucas fazendo uma reportagem para a TV francesa e para pedir desculpas a seu mentor.

Lucas deixou o Melun e por anos defendeu o seu nome em corte, acusado de roubo e desvio de dinheiro, mesmo absolvido o caso ainda persiste na justiça francesa.

Veio a era do Canet 66, clube que recebe a etapa francesa do Mare Nostrum onde a maior estrela de Lucas foi o velocista Amaury Leveaux, por alguns anos, um dos melhores nadadores do mundo e que chegou a bater o recorde mundial dos 100 livre em piscina curta, até hoje imbatível.

Mais brigas, mais polêmicas, Lucas foi para o Narbonne, clube onde está até hoje e sempre seguido de grandes atletas. Até o ano passado, Federica Pellegrini e o namorado Filippo Magnini estavam com Lucas. Mesmo com nadadores na seleção francesa, faz tempo que seu nome não faz parte do staff. Nem sempre muito benvindo, Lucas estava na comissão técnica da Itália no Mundial de Barcelona em 2013 e na equipe da Holanda no Mundial de Curta em Doha no ano passado.

Philippe Lucas não é só polêmico na natação. É uma figura famosa e muito popular na França. É fã da equipe Paris Saint Germain e já atuou como comentarista de TV. Seu nome chegou a ser ventilado para assumir o PSG como manager.

A maior fama de Lucas é a sua participação no Les Guignols del’Info, na tradução “os chifres da informação”, um programa humorístico diário onde bonecos fazem análises e críticas do noticiário da atualidade francesa. Lucas tem um boneco lhe representando e tem uma frase famosa que é seu chavão “Et pis c’est tour”, “o pior é isso”.

Veja o boneco de Lucas em ação:

https://www.youtube.com/watch?v=jjsFpYdd11U

 

Ao conquistar as três vagas para o Rio 2016, Phillipe Lucas ganhou um meme celebrando a conquista com a imagem do boneco e o “Et pis c’est tout”.

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Phiippe Lucas gosta de trabalhar. É duro, seu regime de treinamento é rigoroso. As brigas e discussões com seus atletas são fortes, muitas vezes embaraçosas. Insatisfeito com o resultado de Sharon van Rouwendaal na prova dos 5 quilômetros em Kazan, onde a holandesa dominou a prova grande parte, mas acabou cansando no final e terminando em quarto lugar, Lucas aprontou com sua nadadora.

Marcou um treino para o dia seguinte, logo pela manhã. Porém, não apareceu, fez Sharon treinar sozinha. Era a vingança por ela não ter seguido sua orientação na prova. A reação da holandesa foi entender a mensagem. O trabalho e a pressão psicológica foi mostrar que ela deveria seguir o que ele manda para ter sucesso. E veio, nos 10 quilômetros com o segundo lugar e a vaga olímpica.

Sharon van Rouwendaal já era boa nadadora quando se mudou para a França onde foi treinar com Lucas. Mas nadadora de piscina e de costas, medalha de bronze no Mundial de 2011 nos 200 costas. Foi Lucas que lhe transformou em nadadora de fundo, hoje recordista nacional holandesa das provas de 400, 800 e 1500 livre e agora olímpica como nadadora de águas abertas. No ano passado, foi campeã européia dos 10 quilômetros e vice nos 5. Alguns dias depois, prata nos 400 livre na competição em piscina.

Ao ganhar a prata em Kazan na prova dos 10 quilômetros. van Rouwendaal se tornou na segunda nadadora da história a subir ao pódio em Mundiais de piscina e águas abertas.

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Sua companheira de treino, Aurelie Muller, foi olímpica em 2008 terminando em 21o a prova dos 10 quilômetros. Ficou dez anos sob o comando do treinador Oliveir Antoine. Foi com ele para o Canadá, mas não gostou da rotina e sentiu saudades de casa. Voltou para a França e passou a treinar com Lucas desde fevereiro. O título de Kazan e a vaga olímpica é seu primeiro grande resultado sob o comando do novo treinador.

O terceiro classificado para o Rio 2016 foi o mais surpreendente. Marc-Antoine Olivier de apenas 19 anos de idade. Quinto colocado no Mundial Júnior do ano passado na Hungria, Olivier foi a zebra dos dez classificados da prova masculina.

Aurelie Muller, Sharon van Rouwendaal e Marc-Antoine Olivier foram os responsáveis pelos “300%” de Philippe Lucas, mesmo assim não foi o suficiente para o sisudo treinador comemorar e nem sorrir. É o jeito, e “o pior é isso”.

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