Filho de peixe, nadador é!

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O nome Laszlo Cseh vai estar no movimento olímpico pela sexta vez no próximo ano. Duas vezes, em 1968 na Cidade do México e em 1972 em Munique foi com Laszlo Cseh Senior, as últimas três Atenas 2004, Beijing 2008, Londres 2012 com Laszlo Cseh Junior.

Pai e filho nasceram em Budapeste. O pai em 1952, nadava costas e seu melhor resultado foi um oitavo lugar no 4×100 medley dos Jogos de 72. O filho nasceu em 1985, completa 30 anos em dezembro e acumula cinco medalhas olímpicas, três de prata e duas de bronze.

Aliás, medalhas é o que não falta na carreira do Junior. São 65 medalhas internacionais, aí contando apenas dos Jogos Olímpicos, Mundiais de Longa e Curta, Europeus de Longa e Curta e Universíades. Destas 65, 33 são de ouro, 16 de prata e 16 de bronze.

Versatilidade é uma palavra que tem tudo a ver com a carreira de Laszlo Cseh. Ele tem 14 recordes nacionais húngaros, sete em piscina curta, sete em piscina longa.

Suas melhores marcas pessoais:

PROVAS

PISCINA LONGA

PISCINA CURTA

200 LIVRE

1:45.78

 1:41.64

100 COSTAS

53.40

51.29

50 BORBOLETA

23.07

 23.29

100BORBOLETA

50.87

 50.72

200 BORBOLETA

1:52.70

1:50.87

200 MEDLEY

 1:55.18

1:52.74

400 MEDLEY

4:06.18

3:57.27

Seu estréia olímpica em Atenas foi marcada por uma superação incrível. Apenas algumas semanas antes dos Jogos, Cseh fraturou o calcanhar num training camp pré-Olimpíada. Mesmo assim, ele chegou a três finais, um bronze nos 400 medley, quarto lugar nos 200 medley e um sexto nos 100 costas.

O bronze de 2004 em Atenas

O bronze de 2004 em Atenas

Com um final de prova muito forte, Cseh foi buscar uma medalha que parecia impossível durante a disputa. Um bronze comemorado embora ele tenha sido vice campeão mundial da prova no ano anterior no Mundial de Barcelona, a sua primeira conquista internacional.

Final de prova emocionante (em húngaro) dos 400 medley de Atenas 

Para 2008, Laszlo Cseh trocou de técnico e de clube e deixou Beijing com três medalhas de prata nos 200 e 400 medley e os 200 borboleta. Todas atrás de Michael Phelps, o grande nome dos Jogos com oito medalhas de ouro.

Superação sempre foi usual para Cseh. Em 2009, no Mundial de Roma, ele chegou a ser hospitalizado com uma infecção estomacal. Teve de sair dos 200 borboleta, mas ainda teve tempo para voltar e levar uma prata nos 200 medley no dia seguinte e um bronze nos 400 medley dois dias depois.

Os 400 medley foi a prova que colocou Laszlo Cseh no mapa. Ele teve o “azar” de nascer na geração Michael Phelps, Ryan Lochte e Thiago Pereira. Os quatro estiveram juntos em três edições dos Jogos Olímpicos e outros tantos Mundiais.

Três pratas atrás de Phelps em Beijing 2008

Três pratas atrás de Phelps em Beijing 2008

Já antes de Londres, Cseh teve problemas em suas performances na prova. Venceu o Europeu em casa, na cidade de Debrecen, mas os 4:12.17 ficaram um tanto distante para quem esperava nadar abaixo dos 4:10. Na Olimpíada, sete centésimos lhe deixaram de fora da final.

Nadou para 4:13.40 enquanto que Michael Phelps que nadava por um tri campeonato olímpico que não veio entrava com o oitavo tempo para a final com 4:13.33.

Dois dias depois, Cseh falhava pela segunda vez. Agora nos 200 borboleta, não passando da semifinal com um 12o lugar.

Dificuldade e superação, sempre foi assim com ele. Mais dois dias, e na final dos 200 medley, o “Quarteto Fantástico” se encontrava mais uma vez, talvez a última. Phelps em busca do tri, Lochte vivendo o seu melhor momento, Thiago Pereira motivado com a prata nos 400 medley e Cseh, desacreditado e decepcionado.

Thiago saiu decidido para tentar a sua segunda medalha. Saiu a frente de Phelps no borboleta, caiu para o terceiro lugar no costas ultrapassado por Phelps e Lochte, voltou a disputa no peito, sabia que o final de Cseh sempre era forte. E foi.

Enquanto Phelps e Lochte brigavam pelo ouro, com vitória de Phelps e o tri campeonato olímpico com 1:54.27 contra 1:54.90 de Lochte, Thiago brigava contra si mesmo. A técnica de crawl lhe deixava faltando poucos metros para a borda. Os metros finais foram agonizantes e Cseh lhe roubava o bronze com 1:56.22 contra 1:56.74. Do jeito que o húngaro gosta, sempre sofrida.

Ouro nos 200 borboleta de Kazan

Ouro nos 200 borboleta de Kazan

Este ano foi um ano de grandes mudanças na carreira de Cseh. Primeiro, deixou o Kobany Swim Club, equipe que defendeu por mais de 10 anos sob o comando do treinador Gyorgy Tury. Precisava de nova motivação, de novos desafios.

Decidiu voltar para Plagany Zsolt, veterano treinador que o revelou no Spartacus, outro clube da capital húngara. A idéia de renovar o espírito veio com novos desafios, novas provas. Cseh, pela primeira vez em sua carreira internacional não disputou as provas de medley no Mundial de Kazan.

Nadou os 50, 100 e 200 borboleta, um programa diferente e que lhe rendeu glórias e história. Começou com o mais difícil, um bronze nos 50 borboleta. Cseh nunca teve velocidade e chegou a Kazan com o 14o tempo da prova. Fazendo o seu melhor nas eliminatórias e na semifinal, Cseh terminou com o bronze empatado com o polonês Konrad Czerniak.

No dia seguinte já era a sua melhor prova: os 200 borboleta, mas contra o melhor adversário, Chad Le Clos. Atual campeão mundial e olímpico, o jovem sul-africano sete anos mais jovem parecia imbatível. Do jeito que Cseh gosta.

Uma coisa que sempre caracterizou os nadadores húngaros foi o trabalho duro. Competitivos por excelência, os húngaros são exemplos de dedicação e superação. Sem poupar energia, Cseh foi o mais rápido das eliminatórias 1:53.71, o mais rápido das semifinais 1:53.53 e venceu a final contra um desesperado Le Clos por dois décimos: 1:53.48 x 1:53.68.

Cseh e seu ouro nos 200 borboleta em Kazan

Le Clos saiu forte, 24.81 contra 25.18 de Cseh. A vantagem caiu nos 100 metros, 54.13 contra 54.21 de Le Clos. Nos 150 metros, Cseh tomou a frente 1:23.54 e quando parecia que Le Clos estava fora da disputa, já virando em terceiro quase um segundo atrás ele fechou forte deixando a prova ainda mais emocionante.

Comparativo da vitória de Cseh em Kazan e Michael Phelps dois dias depois no US Open 

Laszlo Cseh teve dois dias de descanso para os 100 borboleta. Seria outra prova muito difícil e ele a um passo de fazer história. Jamais na história dos campeonatos mundiais de piscina longa um nadador foi capaz de subir ao pódio nas provas de 50, 100 e 200 metros no estilo numa mesma edição. Cseh estava perto, e com muita dificuldade, do jeito que ele gosta.

O jeito “húngaro de ser” ficou logo evidenciado nas eliminatórias, 50.91, melhor marca pessoal, primeira vez abaixo do 51 na carreira, novo recorde nacional, melhor tempo do mundo em 2015. Na semifinal ficou evidenciado o equilíbrio da prova. Apenas 48 centésimos separaram os oito classificados e o melhor tempo foi dele, 51.03, mas empatado com o americano Tom Shields.

O bronze inesperado nos 50 borboleta

O bronze inesperado nos 50 borboleta

A primeira final de 100 borboleta da era pós-trajes onde todo o pódio nadou abaixo dos 51 segundos aconteceu em Kazan. Na raia 1, o nadador de Singapura, Joseph Schooling saiu como louco e virou na frente com 23.53, Cseh era o terceiro com 23.76, Le Clos o segundo com 23.72. No final, novo recorde africano para Le Clos 50.56 levando o ouro, novo recorde húngaro para Cseh 50.87 levando a prata e novo recorde asiático para Schooling 50.96 levando o bronze.

Laszlo Cseh deixava o seu sétimo Mundial de Piscina Longa com sua 12a medalha e pela primeira vez um nadador estava no pódio das três provas do mesmo estilo. Feito jamais alcançado desde a implantação das provas de 50 metros no Mundial de 2001. Cseh, o primeiro e único.

Logo após Kazan, não se viu mais Cseh, nem na Copa do Mundo, nem em competições internacionais. Ele aproveitou o momento para uma nova renovada de espírito. Era a hora de assumir compromisso com a namorada de tanto tempo, Dia. Já morando juntos há quatros, Cseh e Dia casaram em Budapeste para uma rápida lua de mel antes de retomar os treinamentos para a sexta Olimpíada da família Cseh no Rio em 2016.

Boldogan = Felizes para sempre em húngaro

Boldogan = Felizes para sempre em húngaro

Ainda não se sabe qual será o programa de provas de Laszlo Cseh no Rio. Nem ele, nem seu treinador anunciaram os seus planos. Seja o que for, vai ser do jeito que ele gosta, com dificuldade e superação.

Série 40 estrelas para bilhar no Rio 2016

#1 Therese Alshammar, Suécia 

Na próxima semana, o fenômeno, Adam Peaty!

1 responder
  1. Rodrigo G
    Rodrigo G says:

    Coach, texto muito bom! Confesso que por muitas vezes tive raiva do húngaro por ter “roubado” algumas medalhas do Thiago. Depois de Londres achei que a carreira dele tinha acabado mas o que ele fez em Kazan provou o contrário.

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