Tecnicamente perfeito, famoso e vencedor, apenas 24 anos de idade, quatro medalhas olímpicas, 12 medalhas em Mundiais, Sun Yang tinha tudo para ser o mais popular e celebrado atleta da China. Está longe disso.
Suas conquistas, medalhas e recordes competem diretamente com suas controvérsias, polêmicas e escândalos. Sun Yang, hoje, além de lutar para seguir como o melhor fundista do mundo também luta para melhorar sua imagem não só a nível internacional, mas também no seu próprio país.
A primeira vez que se escutou falar de Sun Yang foi aquele jovem magro e comprido de apenas 16 anos de idade, o mais jovem da equipe da natação masculina chinesa nos Jogos de Beijing em 2008. Sua estreia não poderia ser melhor. Depois de um modesto 3:50.90 terminando em 28o lugar nos 400 livre, o jovem Sun Yang surpreendeu a todos ganhando a sétima vaga para a final dos 1500 livre com 14:48.39. No dia seguinte, pressionado e inexperiente, Sun Yang terminou num distante oitavo lugar com 15:05.12.
A técnica perfeita de Sun Yang.
A primeira medalha internacional viria no ano seguinte. Era o Mundial de Roma, ficou em 18o nos 400 livre com 3:47.51, mas brilhou com um bronze nos 1500 livre com 14:46.84 O início de sua carreira de vitórias.
A rivalidade com o sul-coreano Tae Hwan Park sempre esteve presente na sua jornada. Os dois se alternavam em disputas desde as categorias menores. Em 2010, um grande confronto nos Jogos da Ásia, em Ghanzhou, na China. Sun Yang foi melhor nos 1500, mas Park lhe bateu nos 200 e 400. A vitória nos 1500 livre, a um segundo do legendário recorde de Grant Hackett, e com apenas 18 anos, o mundo sabia que ali estava o futuro recordista mundial da prova mais longa da natação.
Jogos da Ásia 2010, Sun Yang ameaça o recorde mundial dos 1500 livre.
Com o Mundial de Shanghai no ano seguinte, o local não poderia ser melhor. Sun Yang foi perfeito do início ao fim. Estreou com uma prata perdendo para o tradicional adversário Tae Hwan Park, mas fazendo sua melhor marca com 3:43.24. Três dias depois, vencia o seu primeiro título mundial nos 800 livre com 7:38.57. Um dia de descanso, fechou brilhantemente o revezamento chinês para um bronze, a primeira medalha da China em revezamentos a nível Mundial. Faltava a cereja no bolo, o antigo recorde de Grant Hackett, o recorde mundial que mais tempo perdurou sem ser batido.
Pois no dia 31 de julho de 2011, dez anos e dois dias depois da marca de Grant Hackett e seus 14:34.56, Sun Yang vencia os 1500 livre com 14:34.14.
Por incrível que pareça, até então as polêmicas com Sun Yang eram praticamente inexistentes. Tudo mudou depios dos Jogos de Londres em 2012. Lá, Sun Yang, agora com 20 anos de idade, se tornou no primeiro nadador chinês campeão olímpico da história logo no primeiro dia de competição ao vencer os 400 livre com 3:40.14, terceiro melhor tempo da história.
Sun Yang voltou a brilhar com bronze no revezamento 4×200 livre da China, agora a primeira medalha em revezamento olímpico da natação masculina chinesa. No último dia de competição, Sun Yang viveu um dos maiores dramas de sua carreira. Na posição pronto para a partida, o árbitro anunciou “relax” e Sun Yang caiu na piscina. Foram vários minutos de tensão, sem motivo, mas Sun Yang sem falar inglês não sabia se iria poder nadar ou não, a sua prova. Estes momentos foram eternos e a arbitragem nunca pensou em desclassificar o chinês, mas o drama foi administrar todo aquele nervosismo a espera de uma desclassificação que não veio.
Sun Yang com Dennis Cotterell
Ele nadou os 1500 livre, de ponta a ponta, na sua tradicional e bela técnica para vencer e novamente com recorde mundial 14:31.02. Deixava seu recorde mundial três segundos para trás e oito segundos a frente do segundo colocado. O mais incrível da sua prova foi o arremate final, um parcial inacreditável de 25.68 fechando os últimos 50 metros.
Foi com esta conquista que começaram os problemas e controvérsias de Sun Yang. Primeiro na disputa do Campeonato das Províncias Chinesas, alguns meses depois de Londres. Sun Yang brigou com a imprensa, reclamou da competição e abandonou o torneio. Depois foi com seu treinador Zhu Zhigen. Atrasos, indisciplina e principalmente uma namorada que estava “destoando” a carreira de seu pupilo.
Sun Yang deixou Zhigen e foi treinar com Zhang Yadong, apenas três meses antes do Mundial de Barcelona. Chegou lá fora de forma, e todos duvidavam que ele seria capaz de repetir suas conquistas. Nadou de forma inteligente e igualou Grant Hackett se tornando no segundo nadador da história a vencer os 400, 800 e 1500 livre. Todas com marcas distantes das suas melhores. Os 1500 ficaram a 10 segundos do seu recorde mundial.
Mesmo assim, foram três vitórias, o suficiente para se emocionar, chorou, agradeceu, abraçava seu treinador e jogou seu uniforme para a torcida. Foi eleito o melhor nadador do Mundial junto com Katie Ledecky.
As polêmicas não pararam aí. Sun Yang ganhou fama, dinheiro e muita publicidade na China. As reclamações da imprensa cresciam cada vez mais. Até que se envolveu num pequeno acidente de automóvel. Dirigindo seu Land Rover foi batido por um ônibus na sua cidade em Zhejiang. De vítima, passou a vilão ao ser identificado e não ter a carteira de habilitação. Esportistas na China são ídolos, mas também são modelos.
Sun Yang foi suspenso da natação competitiva, preso por uma semana e expulso da Seleção Chinesa. Um castigo do tamanho da decepção nacional. A imprensa chinesa não perdoou Sun Yang que foi implacavelmente perseguido.
O “gordo” Sun Yang voltou em 2014. Aceito de volta ao time da Província de Zhejiang, recebido de volta por seu antigo treinador, Sun Yang começava o ano recuperando a sua velha forma. Venceu as provas no Campeonato Chinês em abril de 2014, mas nada com grande brilho. Era o suficiente para ganhar uma vaga no time para os Jogos da Ásia que aconteceriam em setembro daquele ano.
Antes disso, tempo para mais uma polêmica. Sun Yang testou positivo para trimetazidina no teste anti-doping do Campeonato Chinês. Porém, os chineses esconderam o resultado e até mesmo a suspensão. Isso só veio a se tornar público em dezembro. O médico Bah Zhen assumiu a responsabilidade pela prescrição do remédio que é para doenças cardíacas e levou um ano de suspensão. Sun Yang, apenas três meses, jamais cumpridos.
Feliz Aniversário para Park
Em setembro de 2014, Sun Yang estava nos Jogos da Ásia na cidade de Incheon, na Coreia do Sul. Lá, venceu os 400 e 1500 livre, foi prata nos 200. Dias antes da competição, soltou uma série de comerciais para a 361o, sua patrocinadora, em vídeos que fazia brincadeiras com Tae Hwan Park, seu adversário e herói da Coréia. Ao final da última prova da competição, Sun Yang terminou com quatro medalhas, três de ouro, surpreende Park com um bolo comemorando o aniversário de seu rival. A homenagem surpreendeu a todos, até porque nunca houve uma relação de amizade.
Os vídeos de Sun Yang zombando de Tae Hwan Park.
Desde 2011, Sun Yang recebe orientação do treinador australiano Dennis Cotterell na Austrália. Cotterell foi o técnico que revelou Grant Hackett e seu trabalho é famoso com os nadadores de fundo. Training camps, semanas, as vezes meses de treinamento com o técnico australiano passaram a acontecer com grande frequência.
Cotterell estava com Sun Yang em Shanghai 2011, em Londres 2012, em Barcelona 2013, e em Incheon 2014. Depois disso, com o caso de doping nunca bem esclarecido, a Swimming Australia baixou uma nova determinação. Atletas estrangeiros que testaram positivo em suas carreiras, são proibidos de treinar nos Centros de Alto Rendimento na Austrália.
Uma perda e tanto para Cotterell, tanto no talento e potencial de Sun Yang, mas também na questão financeira onde os chineses pagavam uma verdadeira fortuna pelo acompanhamento. Cotterell treina sua equipe no Miami Swim Club em Miami. Um dos tantos centros de alto rendimento no país e que recebe ajuda da Swimming Austrália, ficando impossível aceitar o chinês de volta.
Brian King, treinador que atuava com Cotterell, foi indicado pelo patrão para seguir com Sun Yang. O próprio King também tem o seu lado controverso e foi suspenso pela Swimming Australia por métodos considerados muito intensos para jovens atletas. Assim, um treinador suspenso e um atleta proibido de treinar em centros de alto rendimento na Austrália pulando de piscina em piscina pelo país. Perseguidos pela imprensa, os dois passaram a treinar em locais não divulgados.
A polêmica seguiu com Coach King e Sun Yang. No Mundial de Kazan, o ápice das polêmicas. Primeiro no aquecimento da manhã do último dia de competição com a nadadora brasileira Larissa Oliveira. Larissa já não competia mais, mas treinava na piscina para o Troféu José Finkel que se iniciaria em poucos dias. Batia perna quando foi puxada pela perna por Sun Yang. A brasileira reagiu imediatamente protestando.
A situação ficou mais feita com a intervenção primeiro da comissão técnica brasileira, depois da chinesa. O conflito foi levado a direção da competição e a CBDA decidiu não formalizar um protesto após um pedido oficial de desculpas. Na final, outro incidente, sem qualquer relação com o confronto da manhã. Sun Yang depois de aquecer para os 1500 livre simplesmente desapareceu da prova. Sem comunicar ninguém, sem avisar ninguém. A raia ficou vazia já que a FINA não teve tempo de formalizar o pedido para a entrada dos nadadores reservas.
Sun Yang, um dirigente e o treinador compareceram a uma entrevista coletiva no final do dia. Momentos após ele subir ao pódio para receber o Troféu de Melhor Nadador da competição ao lado de Katie Ledecky. Na entrevista coletiva, sem perguntas, apenas uma declaração do dirigente. Nem o técnico, nem Sun Yang falaram. Um mal estar relacionado a sua doença cardíaca foi o motivo.
Dias depois do Mundial, um nadador internacional revelou o que assistiu no vestiário. Estava se trocando de roupa quando Sun Yang estava por lá no momento em que se chamava a prova. O nadador escutou o nadador chinês discutindo com dirigentes chineses, escutou ele golpeando os armários do vestiário e depois viu Sun Yang assistindo os metros finais da prova vencida pelo italiano Gregorio Paltrinieri .
A imagem internacional de Sun Yang está há muito tempo danificada. Pior que isso é que na China também deixou de ser popular. O aparecimento do velocista Zetao Ning, mais simpático, mais carinhoso com fãs e imprensa, lhe tirou espaço. No início deste ano, Sun Yang fraturou o pé. Ficou de fora das principais competições e nadando com uma tala no pé por 52 dias. Por conta disso não nadou a seletiva olímpica chinesa. Seus tempos do Mundial de Kazan serão utilizados como seus índices olímpicos.
No mês de maio, Sun Yang anunciou que faria um importante esclarecimento sobre a sua carreira convocando fãs deixando a comunidade internacional em polvorosa. Enquanto se pensava em aposentadoria, anúncio da desistência do Rio 2016, um possível casamento, algo realmente de grande dimensão. Sun Yang fez um vídeo publicitário da 361o e agradeceu, agradeceu, agradeceu…
O agradecimento enigmático
Na semana passada, Sun Yang fez a primeira competição do ano. Belas marcas e resultados com 1:44.82, melhor tempo do mundo nos 200 livre, 3:43.55, segundo nos 400 livre. Nos 1500 livre, não apareceu para nadar, não falou nada e ninguém sabe se disputará esta prova no Rio 2016. Com Sun Yang é assim, quanto mais polêmica melhor.
Na série até agora:
#1 Therese Alshammar, Suécia
#2 Laszlo Cseh, Hungria
#3 Adam Peaty, Grã-Bretanha
#4 Nathan Adrian, Estados Unidos
#5 Ruta Meilutyte, Lituânia
#6 Shiwen Ye, China
#7 Katinka Hosszu, Hungria
#8 Ryan Lochte, Estados Unidos
#9 Florent Manaudou,França
#10 Paul Biedermann, Alemanha
#11 Chad Le Clos, África do Sul
#12 Emily Seebohm, Austrália
#13 Yulia Efimova, Rússia
#14 Katie Ledecky, Estados Unidos
#15 Federico Grabich, Argentina
#16 Zetao Ning, China
#17 Cate Campbell, Austrália
#18 Alia Atkinson, Jamaica
#19 Cameron van der Burgh, África do Sul
#20 Mitchell Larkin, Austrália
#21 Kosuke Hagino, Japão
#22 Federica Pellegrini, Itália
#23 Missy Franklin, Estados Unidos
#24 Sun Yang, China
Na próxima Gregorio Paltrinieri, Itália
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