Quem estava lá diz que foi feio, preocupante, ruim para o esporte, muito ruim. Assim foi a disputa e principalmente o final da prova de águas abertas que fechou as Universíades ontem em Taipei. Os organizadores locais optaram pela realização da prova indicando que a regra da FINA seria cumprida. A mesma, determina um máximo de 31 graus a serem medidos duas horas antes da disputa da prova e a 40 centímetros de profundidade.

No congresso técnico, foi indicado que a temperatura estava em 29 graus. No dia da prova, organizadores disseram que estaria em 30. Pela regra, monitoramento da temperatura deveria ser feito durante toda a sua disputa.

Estados Unidos, três dias antes, Canadá no dia seguinte, e Austrália na véspera tiraram seus atletas da prova. No total, dos 50 atletas inscritos, 38 disputaram os 10 quilômetros. Destes, 33 terminaram a prova.

O italiano Gregorio Paltrinieri, atual campeão olímpico e mundial dos 1500 metros nado livre, venceu sua primeira prova internacional de águas abertas. Completou a prova dos 10 quilômetros do Canal de Taipei em 1 hora, 54 minutos e 52 segundos, nove segundos a frente do alemão Soeren Meissner, vice campeão da prova. Nadou tranquilo, águas paradas, talvez até tenha se poupado para garantir a sua terceira medalha de ouro nas Universíades depois de levar os 800 e 1500 metros nado livre na piscina.

No feminino, a vitória foi da húngara Anna Olasz com 2 horas, 4 minutos e 12 segundos. Os brasileiros Allan do Carmo e Viviane Junglbut terminaram na quarta colocação e sentiram muito a prova. Os dois vomitaram, Viviane relata que foram três vezes e ainda teve de ser hospitalizada.

O final da prova foi dramático. Atletas desmaiando, sendo carregados e levados para o hospital. Muita gente passou mal.
Não tem como não lembrar do episódio da morte de Francis Crippen em 2010 na Copa do Mundo de Fujairah, nos Emirados Árabes Unidos. Lá, Allan do Carmo foi um dos que estava hospitalizado quando Crippen já chegou morto ao hospital.

O esporte das águas abertas precisa repensar a sua disputa. O calor antecipado e as dificuldades eram previsíveis. Os brasileiros fizeram um treinamento prévio no local, dois dias antes da disputa, e parecia estar normal. Na véspera, um calor muito forte, e no dia da prova ainda mais sol.

A USA Swimming além de ter limites de temperatura distintos da FINA (29,5 X 31 graus), também faz uma relação de soma de temperatura da água com a temperatura ambiente. Ontem, os termômetros indicavam 32 graus, mas a sensação térmica era bem mais alta do que isso.

A tragédia que levou a morte de Francis Crippen parece não ter sido o suficiente para a FINA rever seus procedimentos de segurança. O que aconteceu em Taipei poderia ter sido ainda pior.

Durante o Circuito da Copa do Mundo deste ano, tivemos uma pressão muito forte de um patrocinador para que a organização apurasse a temperatura forçando o uso obrigatório dos trajes, numa iniciativa mercantilista e comercial. Agora, organizadores locais forçam a barra expondo atletas a condições perigosas e que deveriam ser evitadas com o cancelamento da prova ou a transferência para outro local mais seguro e adequado.

As águas abertas correm perigo, pela irresponsabilidade e negligência e que se não forem tomadas medidas adequadas estamos prestes a presenciar uma nova tragédia.

Por Alexandre Pussieldi, editor chefe Best Swimming.

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