Por Plínio Rocha

Começou com o australiano Mark Horton, prata nos 400m livre no Mundial de Gwangju, na Coreia do Sul.
Piorou com o inglês Duncan Scott, bronze nos 200m livre.

Os dois tiveram em comum o fato de ver o chinês Sun Yang no lugar mais alto do pódio. E, além disso, de ter protagonizado um episódio lamentável na competição.

Horton e Scott se recusaram a cumprimentar o asiático. Nem sequer olharam para ele. Naquele momento clássico, em que todos os atletas se juntam no alto do pódio para uma foto, ambos não moveram nem sequer um músculo. Recusaram-se a posar ao lado de Yang.

Com Horton, o chinês não se manifestou. Já com Scott, evento que aconteceu um dia depois, não se conteve. Gritou na cara do inglês, apontou o dedo para a cara dele, esperou o momento em que deixavam a área de premiação para falar mais uma coisa ou outra. Só faltou saírem no tapa, ali mesmo.

Para quem não está familiarizado com o episódio, fica a explicação. Em setembro do ano passado, Sun Yang recebeu uma equipe do painel de controle antidoping em sua casa para uma coleta surpresa. Depois de recolher as amostras, o nadador as destruiu, alagando que um dos fiscais não estava devidamente identificado.

O caso virou polêmica. A Fina absolveu o chinês, dizendo que ele tinha razão ao fazer o que fez. A Wada, a Agência Mundial Antidoping, não viu dessa maneira, e ainda vai julgá-lo.

Não é de hoje que Sun Yang convive com esse fantasma do doping na carreira. Em 2014, testou positivo para trimetazidina, substância que atua na diminuição de dores no peito.

O problema é que aumenta a capacidade cardiovascular e, consequentemente, é vista como dopante pela Wada. Mas foi incluída na lista proibida recentemente. Sun Yang tem um problema cardíaco diagnosticado e sempre usou o medicamento. Agora, com autorização.

A questão é que Horton e Scott fizeram um julgamento por conta própria. Condenaram o chinês de maneira antecipada. E diante das convicções deles mesmos.

Evidentemente, têm direito de opinião. Não têm a obrigação de gostar de ninguém. O problema foi expor isso para o mundo todo, e justamente em uma cerimônia nobre, essa do pódio, que tem uma história longa e totalmente voltada ao esporte.

Não há, da mesma maneira, de se absolver Sun Yang. Não antecipadamente, por mim, por você, por quem quer que seja. A Wada, como dito, vai julgá-lo como tem de ser. E, ainda que seja considerado culpado, vai pagar dentro das leis e regras estabelecidas.

Mas e se ele for inocente, na visão da justiça, eu pergunto? Como ficam os protestos que o australiano e o inglês fizeram na Coreia do Sul?

Sabe-se que Sun Yang não é flor que se cheire. É um atleta que carrega a fama de mal-educado e antissocial, mesmo entre os demais atletas. O que não condiz com a condição que ostenta no seu país. Hoje, ele é o atleta mais popular da China, com mais de 30 milhões de seguidores nas redes sociais, como destacado pelo comentarista Alexandre Pussieldi na transmissão do Mundial, pelo SporTV.

A Fina é muito severa em relação a esse tipo de manifestação pública dos nadadores durante suas competições. Não à toa, Horton já recebeu uma advertência. Certamente, o mesmo acontecerá com Scott.

O esporte, certamente, não combina com esse tipo de situação. Não é um comportamento compatível com o espírito olímpico.

Sabe aquela situação em que dá para apontar que ninguém tira nada de positivo dela? Pois é, trata-se de um belo exemplo disso.

Coluna Na Raia, é de autoria do jornalista Plínio Rocha.

5 respostas
  1. Alex Pussieldi
    Alex Pussieldi says:

    Cássio, há algo que aconteceu prévio ao pódio e foi mencionado na transmissão, mas depois expus em detalhes especialmente no Twitter. Segundo a versão chinesa, Duncan Scott teria tentado convencer aos outros nadadores combinando para não subir com Yang no pódio. Ou seja, nós não vimos o que o chinês alega para toda aquela revolta. Não estou defendendo o comportamento dele, mas trabalhando em cima de fatos apurados.

  2. Cássio Rosse
    Cássio Rosse says:

    Sun Yang sobe primeiro ao pódio, dirige-se ao D.Scott, ofende, gesticula, aponta o dedo ao nadador. Depois é ele que falta com a ética em não cumprimentar e dar ouvidos a esse cara? Não satisfeito, após a cerimônia o chinês continuando ofendendo e falando suas asneiras ainda durante a transmissão. Simplesmente Scott não dá ouvidos e sai de perto e é ele quem deve ser advertido? Faça me o favor…

  3. ll mm
    ll mm says:

    Não vejo nada demais em Horton e Scott se recusarem a cumprimentar o trapaceiro Sun Yang. E,no meio da natação, acreditar que Sun Yang é inocente é o mesmo que acreditar em Papai Noel ou no Coelho da Páscoa! Scott, inclusive, foi de uma elegância ímpar ao ignorar os insultos do arrogante e prepotente do Sun Yang. Eu não serei hipócrita,apóio a decisão de Duncan Scott e Mack Horton de não serem falsos,fingidos,hipócritas de cumprimentar um trapaceiro como Sun Yang,que sequer deveria estar ali competindo! Sun Yang já demonstrou em outras situações ser um mau caráter de má indole e trapaceiro! Lembram-se do desenho “Corrida Maluca”? Então,Sun Yang é como o Dick Vigarista da Corrida Maluca, um mau caráter que não faz bem à natação! Chega de hipocrisia! Horton e Scott foram sinceros no que estão sentindo e seria a maior falsidade da parte deles cumprimentar um medalhista fake como Sun Yang que sequer deveria estar em Gwangju competindo! Tenho certeza q eu e muitas pessoas foram representadas pelas atitudes verdadeiras de HORTON e SCOTT! Parabéns a eles pela sinceridade!

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