O Ministro Shinzo Abe do Japão recusou o pedido do Presidente Donald Trump. Sem adiamento por um ano, como queria o mandatário americano. Abe garantiu que está tudo sob controle. Neste sábado, Abe declarou a imprensa “nós vamos sair desta e a faremos os Jogos sem qualquer problema”.
O Japão, segundo a BBC, até a publicação deste editorial tinha 1.400 casos confirmados de Coronavírus e 28 mortes. Não está entre os 10 países mais atingidos do mundo e, ao que tudo indica, tem a situação controlada.
Depois de ser o epicentro da doença, a China que superou mais de 80 mil casos e contabiliza 3.189 mortes, as medidas radicais do governo local controlaram e a cada dia as ocorrências vão diminuindo.
A previsão era esta. A Ásia sofreria nos primeiros meses do ano, com o aumento da temperatura e as medidas preventivas, a doença seria controlada. Chegou a vez da Europa, hoje o maior epicentro mundial, e em breve nas Américas.
Eu até concordo com o premiê japonês que o Coronavírus provavelmente esteja controlado por completo, mas é inegável os efeitos que ele já causou no nosso planeta.
Fora as perdas irreparáveis de 5.065 vidas, o planeta sofre uma paralização generalizada de serviços criando um hiato enorme na economia mundial.
O esporte também sofre com esta paralização. Mesmo que os Jogos venham a ser realizados, é incontestável os efeitos danosos nas preparações dos atletas, nos treinamentos, nas competições, nas viagens, nas suas rotinas que foram alteradas.
Os chineses foram mantidos sob guarda em piscinas isoladas, retirados de suas famílias para poderem treinar nos últimos meses. São dezenas, centenas de competições sendo canceladas todos os dias. Viajar, nem pensar.
Para entender um planejamento esportivo, um atleta é submetido a um programa que inclui uma série de fatores previamente montado de forma científica, estudada e planejada. Cada semana, cada treinamento, tudo é planificado. Na medida que competições deixam de ser realizadas, viagens canceladas, muda tudo.
Pior que isso, é o medo, o temor de que a temporada não possa ser concluída, os sonhos não possam ser realizados. Foi o que aconteceu esta semana nos Estados Unidos com o cancelamento da temporada do NCAA, as competições universitárias.
Diferente do modelo competitivo global, as competições universitárias são restritas aos estudantes e estes tem elegibilidade limitada, ou seja, só podem competir por quatro anos durante seu transcurso dentro das Universidades. Ao cancelar por completo os campeonatos nacionais deste ano, centenas de atletas no seu quarto e último ano de faculdade foram impedidos de realizar seus sonhos de anos de treinamento, anos de preparação.
As temporadas da Divisão I, foram canceladas faltando poucos dias para o Campeonato Nacional, mas o Campeonato da Divisão II foi suspenso no meio de seu transcurso. É quase como tirar um atleta de cima do bloco e dizer: “Acabou, volte para casa”.
A Olimpíada é algo importante, muito importante. Não só pelos bilhões de dólares que ela movimenta, ou pela audiência global de ser o espetáculo esportivo mais assistido do planeta. Mas tem um sentido filosófico, profundo, e que representa uma série de valores, talvez pouco citados, mas que existem e precisam ser reverenciados.
Os Jogos Olímpicos é a celebração da vida e de belíssimos princípios. Os atletas são os principais protagonistas e que querem, mais do que ninguém, ter a oportunidade de celebrar mais uma edição. Com tudo o que estamos vivenciando, os organizadores precisam reconhecer que eles, estes atores principais desta bela obra estão sendo afetados, estão sendo prejudicados.
Ninguém quer tirar os Jogos do Japão. Todos querem estar em mais esta edição, ainda mais com tanto esforço e investimento do país e sua população. Porém, uma mudança de data, em benefício de todos, da saúde dos Jogos e do futuro de todos estes princípios é o melhor caminho a ser tomado.
Vale destacar que, mesmo tendo o direito de sede, não é o Japão que decide o cancelamento, a suspensão ou a mudança de data. Tal decisão pertence ao Comitê Olímpico Internacional que precisa escutar o apelo mundial que se faz hoje.
Alexandre Pussieldi, editor chefe da Best Swimming
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