Tem atletas que ficaram oito, nove, dez semanas sem treinar, tem outros que já estão no terceiro mês sem ver a cor da água. Piscinas fechadas, outras meio abertas, algumas abriram e já fecharam, outras nem sinal de voltar a funcionar.
A Pandemia esculhambou o calendário regional, nacional, internacional. Competições transferidas, competições canceladas, sem competições.
Estamos todos vivenciando algo novo, diferente, jamais pensado, é a maior crise sanitária da nossa era. Todos viramos “experts” em assuntos jamais imaginados. Discutimos quarentena, lockdown, achatamento da curva, debatemos por remédios e contabilizamos casos, mortes, recuperados.
A quarentena mexeu com todos nós. Ou melhor, segue mexendo, isto porque estamos longe de fugir dela e já se fala em segunda onda de contágio e nós nem nos livramos da primeira.
Todo o esporte foi prejudicado na Pandemia, mas a natação por sua exigência de trabalho na água, foi um dos mais atingidos. Fora d’água, nadador é igual a peixe. Angustiado, ansioso, frustrado. Vou parar por aqui, mas os sentimentos são muitos. A galera sente falta da água, e quando não tem, sofre.
E quando está fora d’água pensa, reflete e toma decisões.
Foi na quarentena que o japonês Daiya Seto, que vive a melhor fase da sua vida, decidiu deixar o treinador por mais de uma década para ir treinar com um amigo, um ex-nadador sem qualquer experiência como técnico. Foi também na quarentena que o campeão olímpico e mundial Gregorio Paltrinieri deixou a parceira de 11 anos com o técnico Stefano Morini para ir treinar com outro treinador para incrementar a sua motivação.
Até Michael Phelps aproveitou a quarentena para dizer o quanto este período deve ser duro para os atletas. Ele tem sido muito vocal no assunto e a Pandemia está afetando diretamente o esporte global. Esta semana, o Blog do Coach publicou uma pesquisa que a entidade independente e reconhecida pelo COI, Athlete365, escutou mais de 4.000 atletas, treinadores e dirigentes ao redor do planeta. Nos resultados, um dado muito expressivo de 50% dos consultados com dificuldade em manter a motivação para seguir treinando neste período.
Motivação que fez o belga Pieter Timmers, medalhista olímpico do Rio 2016, anunciar que deixa de nadar ao final do ano. Motivação que fez o americano Michael Chadwick anunciar a troca de treinador, deixando o consagrado Dave Marsh para ir treinar com o ainda pouco expressivo Mark Gangloff.
A campeã americana dos 200 costas e medalha de prata na Universiades do ano passado, Asia Seidt, seria uma potencial integrante do time americano para os Jogos de Tóquio. Não aguentou! Anunciou a aposentadoria indicando que cumpriu sua missão no esporte.
Na Austrália, o holandês Jacco Verhaeren já havia anunciado que não renovaria seu contrato de Head Coach da Seleção Australiana de natação. Deixaria o cargo em novembro, mas durante a quarentena, anunciou que vai embora para seu país de origem em setembro, antecipando o final de contrato.
Tudo isso não é por acaso. É quase um efeito dominó. Vale lembrar o sentimento que foi quando se anunciou o cancelamento dos Jogos Olímpicos. Foi um alívio! Os atletas estavam sem poder treinar, ou treinando de forma arriscada e sem condições. Só que o alívio durou algumas semanas e foi substituído pela ansiedade, pela vontade de voltar a treinar, de voltar a competir.
Este então é o novo desafio. Ninguém sabe quando vamos competir. O primeiro semestre todo foi cancelado. Os campeonatos nacionais, os internacionais. Agora se faz projeções, sim, não há como ter a garantia de nada. Afinal, entre as maiores lições desta Pandemia, o que vale para hoje, amanhã é dúvida, e depois de amanhã talvez não vale mais nada.
Com restrições de vôo, banimento de viagens para Estados Unidos e Europa, fronteiras fechadas, a Pandemia também nos levou a chance de ver competições internacionais em 2020. Embora algumas fronteiras foram reabertas nesta semana na Europa, na China, isso mesmo, a China já voltou a cancelar todos os vôos internacionais em Beijing, a tal da segunda onda. Esquece, competir este ano é em casa mesmo, e olhe lá.
Como é difícil escrever um editorial sobre tudo isso. Muito! Você tem de refletir muito antes de escrever para não deixar a situação ainda pior. Estamos todos “carentes e sensíveis”.
Todos queremos (e vamos) voltar! Entretanto, entre as coisas maravilhosas que a Pandemia nos deu, a paciência parece ter sido bastante evidenciada. Temos de voltar com responsabilidade, seguindo as orientações e torcendo que todos façam o mesmo.
Isso vai passar, voltaremos mais fortes. Eu acredito!
By Coach Alex Pussieldi, editor chefe da Best Swimming
Olá, gostaria de saber quem tem os direitos autorais dessa imagem amarela escrita covid 19 e Quarentine, se possível me passar o contato, por favor.
Grato!