Foi a manchete olímpica do domingo. Faltando 193 dias para a cerimônia de abertura de Tóquio 2020 (+1), a imprensa esportiva mundial repercute o número negativo e o impacto disso na organização do evento.

É importante que se analise todo o processo e não somente o resultado apresentado na pesquisa. Ela foi feita pela Kyodo News, uma agência em forma de cooperativa sem fins lucrativos de 76 anos de existência e mais de 1.600 empregados. É, portanto, uma instituição de respeito e reputação.

O resultado apresentado indicou que 35,3% da população é a favor do cancelamento por completo dos Jogos Olímpicos de Tóquio e 44,8% é a favor de outro adiamento. Assim, os 80% que se menciona nas matérias é a soma destes dois números.

Embora os números sejam negativos, e são muito, não são números isolados. Em agosto do ano passado, a Nippon Foundation publicou outra pesquisa indicando que o interesse da população pela Olimpíada havia decrescido em um ano de 70 para 55%.

Outra pesquisa, esta mais recente, feita pela rede de TV NHK foi publicada em dezembro, e somente 27% da população apoiava a mudança da Olimpíada para 2021, enquanto 31% era a favor do cancelamento e outros 31% pedia um outro adiamento.

A conclusão que se chega é óbvia, são números negativos e a falta de apoio local é tudo que o COI não quer. Desde a instituição da Agenda 2020 na gestão de Thomas Bach foi incluída a pesquisa com a população no processo de apresentação da candidatura. O COI não quer realizar os Jogos Olímpicos em locais onde a competição não é bem-vinda.

Isso é bem fácil de explicar e entender. A Olimpíada é um dos maiores eventos do mundo, em organização, em custo, em engajamento. Todo este esforço sem ter a o apoio popular representa problemas, nas leis, nos projetos, e as vezes até protestos. Com o apoio popular, é mais fácil vender, promover, engajar, encher as arenas e divulgar o evento. O legado é a consequência desta relação amistosa com perspectiva de benefícios futuros para a população local.

É muito importante destacar que a pesquisa da Kyodo News não foi uma “pesquisa sobre a Olimpíada”. E talvez isso nos faça entender ainda mais o resultado dela. A pesquisa trouxe uma queda na popularidade do recém eleito Primeiro Ministro Yoshihide Suga. No cargo desde setembro, ele já teve mais de 60% de popularidade, mas nos dados divulgados hoje ele chegou a 41,3%, o mais baixo da sua gestão.

Quando se busca o fator mais determinante para este número, a sua gestão na Pandemia “falta de liderança” com 41,2%, e mais 683% da população está insatisfeita com as medidas implantadas pelo governo e 79,2% identificaram que o Estado de Emergência foi declarado tarde demais.

Não há como separar o resultado da “impopularidade” da Olimpíada entre os japoneses da crise global que estamos vivendo. E mais, embora os números de consulta sejam pequenos, afinal foram apenas 521 residências e 520 pessoas contactadas por telefone, o sentimento é este mesmo. A Pandemia afetou a todos nós, e os japoneses muito mais preocupados com suas vidas do que propriamente a Olimpíada.

O Japão está entre os países que melhor lidou e lida com a Pandemia do Coronavírus. Ao publicar este editorial, o Japão ocupa a 41a posição global em número de casos (273.154), a 49a posição em número de mortes (3.932) e o índice de 31 mortes por milhão de habitante. Apenas como comparação, o Brasil tem 950 óbitos por milhão de habitante.

O Estado de Emergência está declarado desde a semana passada e previsto até 7 de fevereiro com possibilidade de extensão. As fronteiras do Japão voltaram a ser fechadas e a entrada restrita agora inclui o teste obrigatório de COVID. Nem por isso foi possível evitar a nova forma do vírus já detectado no país e até mesmo apontado como vindo de passageiros em viagem do Brasil.

O resultado da pesquisa não é falta de apoio ou popularidade do esporte olímpico no Japão, e sim preocupação com a saúde e o futuro da população. Os japoneses já se deram conta que a Olimpíada, hoje, não é o mais importante.

Por Alexandre Pussieldi, editor chefe da Best Swimming.

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