A decisão da apelação de André Brasil fez na Corte Regional em Colônia, na Alemanha, foi adiada por alguns dias. O resultado pode sair a qualquer momento. O nadador que fez história pela natação paralímpica do Brasil busca por algo que ele teve direito por 14 anos e lhe foi tirada numa mudança de critérios na reclassificação do esporte paralímpico.
André Brasil não é mais nenhum menino, tem 36 anos, faz 37 em maio. Sabe que vai ser difícil quebrar os inúmeros recordes mundiais que já teve na carreira, mas não desiste do seu sonho. Lembro que, numa determinada fase, ele acumulava as marcas mundiais dos 50, 100 e 200 livre, 50 e 100 borboleta e até os 50 costas.
Conheço André Brasil desde a infância. Já brilhou até no Troféu Chico Piscina onde foi campeão dos 400 livre. Treinava e competia na natação convencional até a fase adulta, quando sentiu que os cinco centímetros de diferença entre a perna direita para a esquerda faziam diferença.
Chegou a deixar o esporte, mas voltou, mais forte do que nunca. Se tornou o melhor do Brasil, das Américas, do Mundo. Tudo isso consagrado com 14 medalhas paralímpicas, metade delas douradas, outras tantas em Mundiais.
Até que veio a “nova reclassificação” do IPC, o International Paralypic Committee. Na teoria, é algo que equilibra, ajusta e faz um levantamento adequado indicando as classes de cada atleta, deixando a competição mais justa, mais honesta.
Infelizmente, na prática pela avaliação subjetiva os resultados não se mostraram assim. Todo atleta paralímpico em deficiências físicas tem avaliações em terra e na água. Nos dois testes são atribuídos pontos que classificam o grau de deficiência de cada um.
5 centímetros é uma deficiência muito fácil de ser identificada, porém foi tirado de André Brasil a sua condição “paralímpica”. Para ser mais exato, lhe foi considerado apenas o direito de nadar peito, pernada que ele mal consegue executar.
O recordista mundial da classe S10, a mais alta com menor deficiência, não perdeu seus recordes, não perdeu suas medalhas, mas perdeu a sua condição de seguir nadando. A decisão é controversa, recebeu críticas de toda comunidade nacional e internacional.
Junto com o Comitê Paralímpico do Brasil foi montado um dossiê. Inclui até avaliações biomecânicas que mostram e comprovam a deficiência de André Brasil. Tudo isso faz parte do processo que o advogado Alexander Engelhard da empresa alemã Arnecke Sibeth Dabelstein apresentou na Corte Alemã.
Na avaliação da defesa, a decisão foi ilegal, a reclassificação foi incorreta e até mesmo todo processo violou os direitos do indivíduo André Brasil.
Todo este drama começou em abril de 2019. As vésperas do Open Brasil, principal competição da natação paralímpica em nosso país, o time de avaliadores internacionais executou por dias o trabalho junto aos nadadores. Na escala de zero a 300, Brasil perdeu por um ponto o direito de seguir na classe S10. Para estar ali, ele teria de ficar entre 266 a 285 pontos, o resultado de 286 lhe tirou o sonho de seguir fazendo o que mais gosta.
Um dos aspectos mais importantes neste processo é inegável a deficiência física de André Brasil. A questão é que, provavelmente, com o esporte, ele conseguiu movimentos e/ou melhora de movimentos que em avaliações anteriores não haviam sido alcançados. Aqui o fator positivo é que o esporte e a prática esportiva melhoraram a condição de deficiência de André Brasil, o que não elimina a sua deficiência.
Classificação é o fator mais controverso do movimento paralípico. Para quem não é familiarizado com o processo, os atletas são divididos em classes de 1 a 10 pela deficiência física, de 11 a 13 pela deficiência visual e 14 na deficiência intelectual. O processo de classificação foi feito para deixar a disputa mais equilibrada, mais justa.
Porém há de se considerar, que existem nadadores que estão no limite da classe, seja para cima, ou para baixo. Para isso existem os classificadores que irão encontrar os testes e avaliações deixando a esta disputa mais correta.
O sonho de André Brasil é disputar Tóquio. Seria sua última Paralímpiada. Numa nota mais pessoal, Brasil quer nadar pelo pequeno filho, Leonardo, é a inspiração que lhe faz seguir com este sonho. É um sonho difícil, ainda mais por não poder ser decidido nos milhares de metros percorridos nos treinamentos de mais de 20 anos de natação. Não será nas braçadas, mas sim na avaliação legal que o futuro de André Brasil nadador paralímpico será decidido.
Tudo muito difícil, drama enorme e um sofrimento maior ainda. Talvez pouco para quem sofre desde os primeiros meses de idade onde por consequência da vacina para poliomielite lhe deu esta deficiência. Antes dos oito anos de idade, André Brasil já havia passado por sete cirurgias.
Isso lhe fez mais forte, muito mais, e o esporte lhe recompensou por todo esforço. Estamos todos torcendo por você André, vai dar tudo certo!
Por Alex Pussieldi, editor chefe Best Swimming
Obrigada pelo apoio .
Priorizar uma avaliação subjetiva em detrimento dos recursos tecnológicos ( como filmagens subaquáticas ) e avanços da ciência ( como testes biomecânicos), não pode continuar acontecendo nos dias de hj.