Num  processo eleitoral confuso, cheio de controversas, Jorge Salgado foi eleito como Presidente do Vasco da Gama em dezembro. Nestes três meses, tentou, mas não conseguiu, evitar o rebaixamento do clube para a segunda divisão. Com o clube atolado em dívidas, e a perspectiva de uma redução enorme na projeção das contas do clube para 2021, não restava outra alternativa. Uma grande reforma, uma re-estruturação administrativa do clube.

Até aí, tudo certo, necessário, doloroso, mas necessário.

Resolver um problema é enfrentá-lo, buscar soluções, alternativas. A diretoria optou pelo mais simples, e menos inteligente. Na sexta-feira, um total de 186 funcionários foram demitidos do clube.

Os números podem até parecer positivos, afinal é corte de 25% do quadro de funcionários, redução de 35% da folha de salários e uma economia de 40 milhões de reais por ano.

Só que a conta não é assim tão simples, ainda mais quando diversos funcionários com décadas de serviço prestado ao clube e projeção de causas trabalhistas altíssimas a serem pagas na justiça.

A alegação da diretoria ao fechar praticamente todos os esportes olímpicos do clube (só ficou o remo) é de “não são sustentáveis”. Ou seja, ao invés de tentar fazê-los sustentáveis, elimina!

Há alguns anos, o Flamengo passou por uma enorme reformulação nos esportes olímpicos do clube. Mandou embora alguns dos principais atletas, incluindo o campeão olímpico Cesar Cielo, mas com um propósito, uma perspectiva. Os nadadores seniors e aqueles que ganhavam salários foram mandados embora, mas se manteve a base, todas as categorias até o júnior.

Desde então, de forma organizada, planejada, e progressiva, o Flamengo cresceu, retomou sua força, desenvolveu ações de arrecadação própria até chegar ao estágio atual. Em 2021,  Flamengo foi o clube que mais contratou, ganhou um patrocinador para os esportes olímpicos e até um naming rights para a equipe de natação que passa a se chamar Flamengo ENS.

Ajustes são necessários em épocas de crise, mas simplesmente mandar todo mundo embora e fechar a equipe não é a solução. Aliás, na sexta-feira, completou três anos que a equipe competitiva de natação voltou ao Vasco. Que presentão!

Quem estava em São Januário descreveu o dia como um ataque terrorista. Eram crises, choros e muita decepção. Vale destacar, que no dia seguinte, uma tomada de tempo reunindo as equipes Mirim e Petiz estava marcada, e aconteceu. Estes atletas ficarão no clube? O Vasco vai manter estas categorias?

Ninguém sabe, nem a diretoria que aprovou isso.

As escolinhas de natação são auto-sustentáveis, elas permanecem. Porém é preciso entender que as equipes competitivas são a extensão da formação. Se o Vasco quer se reorganizar que faça planejando, cortando não resolve, e não vai resolver.

Outra realidade que a comunidade aquática do país, e não só no Vasco, é que os tempos do “esporte competitivo” gratuito estão no fim. A tendência é esta, e não há retorno. Nadadores vão ter de pagar suas mensalidades e se já tivéssemos isso não teríamos o corte da equipe.

Não há como justificar a saída da arrecadação do clube para bancar as equipes competitivas do esporte olímpico. Os departamentos precisam se organizar, se bancar, procurar alternativas. Uma delas, querendo ou não, é o repasse as famílias. Natação já é pago em grande parte da natação brasileira. Nem vamos usar o exemplo internacional, onde até mesmo nos principais países do mundo isso sempre foi assim.

O Vasco tem potencial, um parque aquático gigante e belíssimo. Tinha uma boa quantidade de atletas e um excelente trabalho sendo feito. O ideal seria sentar, discutir, buscar alternativas. A sustentabilidade está no Vasco, e não no fim das equipes. Quem vê o clube em perspectivas mais amplas consegue identificar que ali estão famílias, crianças, torcedores do clube. O fato de praticarem um esporte olímpico incrementa a relação com a instituição e a oportunidade para novas fontes de arrecadação e investimento.

A prova disso é o que aconteceu com o esporte paralímpico. Este chegou a ser ameaçado de ser fechado no passado, se organizou, montou projetos e desta vez foi poupado do corte. A diretoria do Vasco deveria ter tido o trabalho de discutir e buscar soluções. O que aconteceu foi uma decisão draconiana e que não resolveu nada.

Lembro quando na época de campanha, o então candidato Jorge Salgado já anunciava que o “futebol é nossa razão de ser”, e ele não está errado. Numa entrevista que deu ao Globoesporte ele ainda mencionava o desastre que foi o gasto milionário desordenado com os esportes olímpicos com um investimento enorme do Nations Bank entre 1997-2002. Outra vez ele está certo, mas erra ao tentar corrigir simplesmente fechando tudo. Se ele sabe, e vivenciou uma administração desordenada naquela época, porque não organizá-la melhor agora. Não, fecha tudo!

O Vasco tinha tudo para fazer o certo, mas não acertou em nada.

Por Alex Pussieldi, editor chefe Best Swimming.

1 responder
  1. Sheila
    Sheila says:

    Swimchannel.net eu, mãe de um atleta de natação da categoria mirim 1 Murillo Dantas, no qual carregou 39 medalhas entre ouro, prata e bronze em 2019, estou desapontada ao ver a falta de respeito comia e-mails atletas incluindo o meu filho de apenas 9 anos. Ver um sonho interrompido por incompetência administrativa é bizarro. Sempre pagamos mensalidades, pagamos as provas, aluguel de piscina, sempre bancamos as viagens, hospedagem, alimentação e transporte, o Vasco nunca deu nada, somente um uniforme com muito sacrifício, que mesmo assim mandamos ajustar porque é de adulto fica enormes nas crianças. O gasto do Vasco com a natação era somente pagar u técnico e manter a manutenção da piscina que quase sempre estava em estado precário, e mesmo arriscando ser contaminados as crianças muitas vezes nadaram com a água verde e cheia de sujeira. Um bom administrador será o ideal para continuidade do parque aquático já que é tratado a parte.
    Sem mais…

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