O NCAA terminou, a discussão não. Talvez um dos mais fortes Nacionais Femininos da Divisão I dos últimos anos, foram 14 das 21 provas com algum recorde batido, a presença e os resultados de Lia Thomas ganharam muito mais efeito midiático e espaço na cobertura da imprensa.
A Best Swimming faz um apanhado de tudo que se tem dito e aponta VERDADEIRO, FALSO E MEIA VERDADE para cada um destes itens abaixo relacionados.
O controle de testosterona não é o melhor indicativo para definir a participação trans – VERDADEIRO
Embora o tema não tenha unanimidade no espectro científico, já é de aceitação quase geral que o limite de testosterona está longe de ser a solução para a participação trans no esporte.
A regra adotada para permitir a participação de Lia Thomas no NCAA nem está mais nem em vigor. O COI que havia adotado a utilização da redução hormonal por 12 meses consecutivos a nível de 10nmol/litro em novembro de 2015.
Em 16 de novembro de 2021, o COI emitiu novas diretrizes para o controle dando responsabilidade direta para as federações internacionais de cada esporte tratarem de forma específica, mas refutando por completo a redução hormonal.
A própria USA Swimming publicou uma regulamentação nova em janeiro prevendo a redução hormonal para níveis mais baixos (5 nmol/litro) e por mais tempo (36 meses), e mesmo assim a decisão segue contestada por grande parte dos pesquisadores e cientistas. O caso Lia Thomas apenas provou que somente a redução hormonal não será suficiente para a resolução da participação trans no esporte.
Lia Thomas era um nadador medíocre quando era homem – FALSO
William Thomas foi um excelente nadador de categorias inferiores no Lost Creek Aquatics, um clube em West Lake Hills, no Texas. Até hoje, existem recordes dele nas categorias menores. Ao longo da carreira e chegando a adolescência, Thomas chegou ao nível de Junior National com marcas de 4:18.72 nas 500 jardas livre e 14:54.76 nos 1650. Ambas são índices B do NCAA Divisão I Masculino. Nas três temporadas que nadou como homem pela Universidade da Pennsylvania esteve entre os principais atletas com dois anos chegando as finais da Conferência Ivy League, mas sem conseguir classificação para o NCAA.
Lia Thomas saiu da posição #462 como homem para ser #1 entre as mulheres – FALSO
Na temporada 2018-2019, sua última antes de iniciar o processo de transição e redução hormonal, William Thomas ocupava:
500 livre – 4:18.72 posição 65o
1000 livre – 8:55.75 posição 18o
1650 livre – 14:54.76 posição 32o
As organizações são as grandes responsáveis por toda controvérsia – VERDADEIRO
COI, FINA, USA Swimming e NCAA demoraram para deliberar sobre o tema. Tal tipo de discussão já existe há anos e precisou aparecer um caso para gerar discussões e decisões tomadas em meio a disputa da temporada. Mesmo sabendo que não teremos o que aconteceu neste ano na próxima temporada, ainda falta um posicionamento mais ostensivo e efetivo das entidades reguladoras do esporte.
Se a regra da USA Swimming fosse cumprida Lia Thomas não nadaria o NCAA – VERDADEIRO
A USA Swimming publicou sua nova regulamentação determinando a redução hormonal para 5nmol/litro e por 36 meses em 1o de fevereiro, uma semana antes da Conferência Ivy league e seis semanas antes do NCAA deste ano. Lia Thomas não fez redução a estes níveis e não iniciou tanto tempo antes, o que inviabilizaria sua presença na competição. Vale destacar que Lia Thomas não é atleta federada na USA Swimming há três anos. O NCAA recusou a regra da USA Swimming apontando que seria inadequado mudar os protocolos com a temporada em andamento.
Lia Thomas tirou bolsa universitária de outras nadadoras – FALSO
William Thomas chegou a Universidade da Pennsylvania como excelente aluno em rendimento escolar e no chamado “walk on” na parte atlética, ou seja, sem qualquer tipo de bolsa desportiva. Mesmo nos anos de redução hormonal e nesta temporada, seu quinto ano na Universidade, Thomas segue sem bolsa esportiva. Importante destacar que, por lei, o número de bolsas por equipe é determinado e limitado, porém não se aplica ao caso de Lia Thomas que segue sem qualquer tipo de bolsa.
Lia Thomas está quebrando recordes e recordes – MEIA VERDADE
Lia Thomas quebrou recordes da Universidade da Pennsylvania em quatro provas: 100, 200, 500 e 1650 livre. Lia também quebrou recordes da Conferência Ivy League nos 200 e 500 livre. Porém, da forma que tem sido divulgado, a impressão era de recordes do NCAA terem sido quebrados. Lia venceu os 500 livre do NCAA, mas ficou mais de nova segundos distante do recorde nacional de Katie Ledecky. No dia da sua vitória, foi a única vencedora que não quebrou o recorde da competição.
“Cheater” – FALSO
“Cheater” na tradução é trapaceiro, mas nos Estados Unidos também pode ser usado para traição e é uma expressão muito comum no esporte. Atletas que testam positivo recebem por muitas vezes a acusação de “cheater”. O caso de Lia Thomas é completamente diverso. Ela recebeu instrução de que se quisesse fazer a transição para o time feminino teria de se submeter por 12 meses ou mais de redução hormonal mantendo níveis abaixo de 10nmol/litro de forma consecutiva. E manter este padrão durante toda temporada. Lia Thomas seguiu todas as exigências e cumpriu a regra, jamais poderia ser acusada de trapaceira.
Árbitra pediu desligamento da USA Swimming pelo caso Lia Thomas – VERDADEIRO
Cyntia Millen ganhou um dos protagonismos mais esdrúxulos em toda a saga Lia Thomas. Ela anunciou em dezembro que estava pedindo demissão da função de árbitra da USA Swimming descontente com as regras para as nadadoras, especificamente o caso Lia Thomas. Embora atuasse por três décadas como árbitra, Millen nunca recebeu o padrão para atuar em competições nacionais e nem era certificada para atuar no NCAA. Para deixar a história ainda mais sem sentido, Lia Thomas nem é filiada a USA Swimming. Millen virou figura bastante popular e presente em diversos programas de TV identificados com a extrema direita.
Se Lia Thomas batesse o recore americano ele não seria homologado – VERDADEIRO
Tivemos um total de oito recordes americanos quebrados nas provas individuais e revezamentos do NCAA deste ano. Lia Thomas com 4:33.24 não quebrou os 4:24.06 de Katie Ledecky e se tivesse quebrado a marca não seria reconhecida pela USA Swimming por ela não ser atleta federada a entidade.
Agora mais atletas trans irão aparecer – VERDADEIRO
A tendência é grande, embora com novos protocolos e regras que serão anunciados e implantados, a história de Lia Thomas foi muito forte a nível midiático e vai gerar novas oportunidades para jovens e adultos trans que desejam participar de esportes competiitivos.
Solução é: homem é homem, mulher é mulher – FALSO
Esta que parece ser a solução mais fácil, mas carece de conhecimento específico. O modelo atual do esporte já prevê determinados protocolos e testes que legitimizam a participação ou não dos indivíduos, mesmo para participar no seu gênero de nascimento. O teste de feminilidade que foi criado na década de 60, e funcionou de forma obrigatória até 1998, foi derrubado por ser considerado invasivo e abusivo Por conta disso, uma determinada atleta agora pode ter sua participação contestada através de denúncia que resulta em teste do nível de testosterona. Ainda existem indívduos que possuem órgãos sexuais dos dois gêneros além da política inclusiva já adotada sob forma de política de gestão pelo Comitê Olímpico Internacional.
Lia Thomas agora vai para a Seleção Americana no Mundial e Paris 2024 – FALSO
É bem prováel que o NCAA tenha sido a última competição da carreira de Lia Thomas. Ainda não temos a nova regra para o trans nos esportes aquáticos da FINA, algo que deve sair ainda este ano, e deve ser bem mais rígida do que os modelos adotados pelo NCAA e até mesmo os anunciados pela USA Swimming. Hoje, para participar como atleta da USA Swimming, Thomas deveria começar 36 meses de redução a metade dos níveis de testosterona que mantém desde 2020. E só estaria autorizada a competir após este período de três anos.A tendência de aposentadoria do esporte é muito grande.
Atletas fizeram protesto no pódio dos 500 livre do NCAA – FALSO
A foto foi quase que imediatamente compartilhada e mostrava Lia Thomas isolada no alto do pódio enquanto que Emma Weyant da Virginia, segunda colocada, Erica Sullivan do Texas, terceiro lugar, e Brooke Forde de Stanford, na quarta posição agrupadas e distantes de Thomas parecia um protesto, não era. A própria Erica Sullivan usou suas redes sociais para revelar que foi um momento de alegria de três companheiras da Seleção Americana Olímpica de Tóquio que decidiram tirar a foto juntas. Sullivan até adicionou uma foto onde aparece cumprimentando Thomas ainda na piscina ao final da prova.
Companheiras de equipe não concordaram com Lia Thomas no NCAA – MEIA VERDADE
Não se sabe ao certo o número de atletas da equipe feminina que deram suporte a Lia Thomas durante a temporada. O time feminino da Universidade da Pennsylvania estava até mais unido e integrado ao início da temporada, quando Thomas se integrou ao grupo, porém seus resultados muito fortes e a pressão da mídia além das famílias, dividiu o grupo por completo. Embora as atletas optassem pela confidencialidade, foram muitas que ficaram desapontadas com a temporada da Penn neste ano. Da mesma forma, existe um outro grupo que dá total suporte a Thomas. No NCAA, eram três nadadoras, Thomas e duas outras nadadoras que mostraram suporte e felicidade com a conquista da companheira.
Atleta de fora da final protesta ao NCAA – VERDADEIRO
A nadadora húngara Reka Gyorgy utilizou sua conta de Instagram para publicar uma carta aberta ao NCAA protestando pelo fato de ter ficado de fora da final B em lugar ocupado na classificação por um “atleta masculino”. Gyorgy, atleta olímpica no Rio 2016, ficou em 17o lugar dos 500 livre e por conta disso ficou de fora da final B. Algumas horas após a publicação da postagem de Gyorgy, uma conta fake foi criada no Twitter iniciando com diversas críticas e protestos. A conta foi denunciada a plataforma.
O problema está longe de terminar – VERDADEIRO
A FINA anuncia que pretende publicar uma regulamentação para a participação dos atletas trans nos esportes aquáticos. Ainda não se sabe qual o teor destes protocolos que serão aplicados e nem se serão eficazes. Ainda é bom lembrar que o COI deu a responsabilidade para as federações internacionais do esporte, mas exigirá comprovação científica nestas exigências a serem impostas.
Links importantes:
Regra antiga do COI de novembro de 2015
Nova determinação do COI de novembro de 2021
https://www.transathlete.com/_files/ugd/2bc3fc_483de30a599e4972b418f20994048b5a.pdf
Regra da USA Swimming sobre a participação trans dos atletas
Recomendação:
Dois perfis abordam de maneira antagônica o caso no Twitter e são perfis que trazem informações detalhadas na defesa de suas visões sobre a participação dos atletas trans no esporte.
A favor da participação é a australiana Kirsti Miller
@KirstiMiller30
Contra a participação é o sul-africano Ross Tucker
@Scienceofsport
É simples, questão é biológica mesmo, cromossomos, mulheres são xx e homens xy, são diferentes biologicamente e essa é a base que existe em nossos corpos e que não resulta apenas numa genitália, e sim na formação de cada célula.
Mulheres possuem cromosso xx. E homens cromosso xy. Não existe mulher transsexual, existe homens que querem ser mulheres. Portanto a natação feminina é natação de pessoas como cromosso xx. Transexual nem sequer menstrua e nem engravida. Portanto é totalmente injusto homens disputarem com mulheres.
Quando um homem mudar seu cromossomo, conseguir menstruar e conseguir engravidar eu mudo minha opinião!.
Mulheres transexuais são mulheres, é meio estranho vc mencionar genitálias, que eu saiba ninguém sai mostrando os genitais por aí muito menos os utiliza para nadar
Não concordo , natação Feminina é para mulheres , mulheres mulheres com genitália feminina – lamento , está será sempre minha decisão, minha filha foi nadadora