Nadadora canadense Mary Sophie Harvey diz que foi drogada ao final do Mundial de Budapeste

Na época eu não estava ciente do que se passava dentro de mim, só me lembro de acordar na manhã seguinte completamente perdida; com nosso chefe de equipe e médico ao meu lado. Lembro-me de comemorar minha competição ao mesmo tempo que estou consciente do meu próximo objetivo, que são os Commonwealth Games. Mais que isso, não me lembro de nada. Há essa janela de quatro a seis horas em que não consigo me lembrar de nada. Ouvi fragmentos de pessoas e também experimentei algumas críticas.

A única coisa que posso dizer é isto: nunca me senti mais envergonhada.

No dia seguinte, voltei para casa e jantei com minha família. Lembro-me de minha mãe dizendo: “você parece diferente”. Mal sabia ela, eu também me sentia assim. Parecia que o corpo em que eu estava não era meu (ainda me sinto assim). Cheguei em casa e encontrei uma dúzia de hematomas no meu corpo. Alguns dos meus amigos me disseram depois que eles tiveram que me carregar enquanto eu estava inconsciente e isso provavelmente explicou o porquê.

Não me fez sentir melhor.

Liguei para uma das minhas boas amigas sabendo que a mãe dela era médica, para que pudessem me orientar um pouco. Acabei indo para o hospital, onde fui atendida por médicos e psicólogos. Eles me testaram e me trataram da melhor maneira possível. Eles me disseram que isso acontece com mais frequência do que pensamos e que eu tive sorte, de certa forma, de sair disso com uma entorse na costela e uma pequena concussão.

Isso me ajudou a curar alguns dos medos que eu tinha, mas infelizmente não todos eles.

Infelizmente, esses eventos acontecem mais do que pensamos. Houve um número crescente e perigoso de casos relatados ao longo dos anos, mas ainda não está sendo falado o suficiente. Os recursos para as vítimas ainda são difíceis de encontrar e o julgamento de pessoas de fora ainda está muito presente. Para quem está lendo isso, por favor, tenha cuidado. Achei que estava segura, que isso nunca aconteceria comigo, principalmente estando cercada de amigos. Mas aconteceu… e eu desejo alguém e me educou sobre o assunto antes daquela noite.

Ainda tenho medo de pensar nas incógnitas daquela noite.

Ainda estou tentando encontrar a “Mary feliz” que encontrou a felicidade antes deste episódio.

Ainda estou de certa forma envergonhada pelo que aconteceu, e acho que sempre estarei…

Mas não vou deixar esse evento me definir.

Obrigado às pessoas que me ajudaram enquanto eu estava vulnerável e àqueles que estenderam a mão desde então. Peço desculpas a qualquer um que tenha tentado entrar em contato comigo ou me visto, mas sentiu que algo estava errado. Ainda estou aprendendo a lidar com tudo e me encontrar novamente. Obrigado pela compreensão.